Presbíteros e diáconos da Diocese de Rio Branco decidiram encerrar de vez a continuidade dos serviços assistenciais mantidos para a residência de vítimas da hanseníase junto à Casa de Acolhida Souza Araújo, unidade de internação mantida pela pastoral.
Prego batido, ponta virada
A secretaria de saúde do Acre já foi informada da decisão por meio de um documento enviado à pasta, expondo que a Diocese decidiu que não haverá novo convênio firmado por parte da Diocese e o governo do estado do Acre, parceria que possibilitava a manutenção da iniciativa.
Limite
“Reservamo-nos o direto de não continuar com a parceria com o governo do Estado do Acre e de nós mesmos decidirmos quais os caminhos serão afetados pelas Obras Sociais da Diocese de Rio Branco quanto aos cuidados, que de forma missionária e caridosamente prestamos aos residentes e assistidos pela Casa de Acolhida Souza Araújo”, informa a Diocese.
Vencidos pelo cansaço
Diante da decisão de não buscar parceria com o ente público estadual, a igreja coloca em prática nova estratégia para continuar com suas ações beneméritas, pedindo o apoio e o envolvimento de todos os fiéis católicos e demais pessoas para que possa continuar a prestar esse serviço a favor dos mais excluídos. Segundo a Diocese, a decisão também foi tomada, após tentativas infrutíferas de negociações com o governo para manutenção do custeio da casa de acolhida, que ficou parada nos primeiros 6 meses deste ano.
De mal a pior
Vale lembrar que mesmo levada a cabo a parceria, o custeio das despesas e recuso disponibilizados pelo governo seriam insuficientes, conforme os diáconos, e inapropriados para manter a casa, uma vez que o valor não representaria os meses retroativos. “A relação do dito convênio sempre foi conturbada por atrasos nos repasses e inúmeras dificuldades de negociações desde governo anteriores, “disse a Diocese. De acordo com informações repassadas à imprensa, a dívida do governo com a instituição filantrópica chega a R$ 1,3 milhão, referente aos seis primeiros meses do ano.
O outro lado
Sobre o assunto, a Secretária de Estado de Saúde Interina, Muana Araújo, emitiu Nota de Esclarecimento, ressaltando que a Secretaria tem tem total interesse em celebrar o Termo de Fomento com a Diocese de Rio Branco, desde que o Plano de Trabalho seja ajustado para atender às normativas vigentes.
Portas abertas
Destaca, ainda, Muana que em nenhum momento a Sesacre se furtou em se reunir para prestar esclarecimentos sobre a necessidade de reformulação do Plano de Trabalho para que tão logo fosse executado o Termo de Fomento entre as partes.
Cronologia
Lembra a secretária interina que no dia 29 de junho, terça-feira, houve uma última reunião em que participaram vários membros da Diocese e SESACRE para alinhar informações e solicitar que a Diocese adequasse o Plano de Trabalho. Prossegue dizendo que no dia 1º, quinta-feira, houve um encontro entre o técnico do planejamento da Sesacre e o contador da Diocese, com o objetivo de instruir a elaboração do Plano. Apesar das tratativas, diz que o Plano de Trabalho não foi enviado até o momento à secretaria.
Precipitação
Por conta da decisão da Diocese, Muana expressa estranheza sobre o posicionamento, no momento em que os ajustes ficaram a ser enviados e os recursos repassados. Muana lembra que a celebração de instrumentos entre o Estado e as Organizações Sociais são precedidas processo administrativo, seguindo as diretrizes estabelecidas nos atos normativos pertinentes.
Falhas técnicas
Muana também argumenta que a Diocese de Rio Branco apresentou o Plano de Trabalho para o fomento com diversos itens que não possuem afinidade com a assistência à Saúde. Assim o termo que seria celebrado em março de 2021, não foi realizado, pois o Plano de Trabalho necessitou de readequação e que tal readequação foi enviada a equipe técnica da SESACRE, mas ainda foram necessárias alterações.
Receptividade
Por fim, o governo, via Sesacre, espera que a Diocese reconsidere o posicionamento, para o consequente prosseguimento e celebração do instrumento, com a devida apresentação do plano de trabalho.
Arrasa quarteirão
A CPI da Covid que ontem ouviu o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, com a reação dos comandantes militares às declarações de Omar Aziz (PSD-AM) sobre a existência de um “lado podre” nas Forças Armadas tem que ser interpretadas à luz de um fato novo: a crença de que está escondido na Europa um dossiê que Dias preparou enquanto estava no Ministério da Saúde para se blindar de acusações.
Junto e misturado
Depois que o cabo da PM Luiz Paulo Dominghetti declarou à CPI ter recebido de Dias um pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina e teve o celular apreendido, o ex-diretor de logística foi demitido e percebeu que não teria alívio na CPI. Logo, começaram a circular nos bastidores de Brasilia informações de que o afilhado político de Ricardo Barros (PP-PR) tinha feito um dossiê sobre casos de corrupção no ministério e iria à comissão disposto a entregar todo mundo.
Nervos de aço
O recado chegou à CPI por meio de gente próxima a Dias e mesmo de jornalistas, configurando a guerra de nervos que se deu antes do depoimento. Quando Dias se sentou diante dos senadores, a expectativa dos membros do G7, o grupo de oposição e independente que comanda a comissão, era de que ele fizesse como o deputado Luis Miranda ou o PM Dominghetti e, cedo ou tarde, fizesse alguma revelação bombástica. Não foi bem o que aconteceu.
Suspense
Embora a toda hora alguém perguntasse se era verdade que ele havia emails da Casa Civil de Bolsonaro pedindo para “atender pessoas” – tipo de informação que segundo os senadores estaria disposto a dar na CPI –, Dias negou. Mas, quando Aziz o pressionou para dizer se tinha feito mesmo um dossiê, o ex-diretor do Ministério da Saúde não confirmou, nem negou, criando um suspense que só aumentou a tensão.
Pista
Renan Calheiros (MDB-AL) ainda apertou Roberto Dias para dizer quem era Ronaldo Dias, seu primo que é dono do laboratório Bahiafarma – e que, segundo disseram à CPI, estaria com o tal dossiê. O ex-diretor apenas confirmou o laço entre eles e não disse mais nada.
A força da caserna
No governo Bolsonaro, o ministério da Casa Civil, citado nas perguntas dos senadores, tem sido ocupado por generais. Hoje, o general Luis Carlos Ramos. Antes, o general Walter Braga Neto, que agora está no ministério da Defesa, e que coordenou o comitê de esforços contra a Covid montado pelo presidente Jair Bolsonaro. Portanto, citar a Casa Civil num dossiê, como sugeriu Omar Aziz, não seria trivial. De imediato, porém, quem saiu chamuscado do depoimento foi um coronel. Segundo Dias, era Elcio Franco, o secretário-executivo do ministério, quem concentrava todas as negociações de vacina.
Passando a bola
A todo momento, Dias empurrava as responsabilidades para o 02 de Pazuello. O diretor de logística contou ainda que teve os principais subordinados substituídos por militares assim que Pazuello assumiu o ministério, deixando claro que havia uma rixa entre ele e os militares. Nas palavras de um membro da CPI bastante experiente em ocupação de espaços no governo, “os militares chegaram ao ministério da Saúde e constataram que o território já estava ocupado pelo Centrão”.
Estopim
Foi nesse clima que, durante a sessão, o presidente da CPI Omar Aziz sapecou ao microfone que “membros do lado podre das Forças Armadas estão envolvidos com falcatrua dentro do governo”. E foi essa declaração que, pelo menos oficialmente, motivou a nota dos comandantes militares, dizendo que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro.”
Balanço
O saldo final da crise ainda está por ser medido. Ao longo da noite, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e vários outros senadores, se esforçaram para diminuir a temperatura do conflito com os militares, expressando respeito às Forças Armadas. A preocupação, porém, continua. Até porque Roberto Dias saiu do plenário preso, acusado de mentir à CPI, e foi solto horas depois, sob fiança. Mas, mesmo sem ter dito nada, deixou no ar seco de Brasília a crença de que ele ainda tem guardado, em algum lugar, um dossiê que pode explodir a República, levando junto a imagem dos militares no governo.