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Jamaxi

Lula e o Papa

O Papa Francisco terá “todo o prazer” em receber o ex-presidente Lula no Vaticano, informou o presidente argentino, Alberto Fernández, após reunião nesta sexta-feira (31) com o pontífice no qual transmitiu o pedido de Lula. Mas, ao aproximar o Papa de Lula, o presidente argentino afasta-se automaticamente de Jair Bolsonaro.

“O Lula me pediu para ver o Papa. E eu pedi (ao Papa) se ele podia receber o Lula. E ele (o Papa) me disse que ‘claro’ e que (o Lula) lhe escrevesse porque ele (o Papa), com todo prazer, o receberá”, revelou o presidente argentino depois de reunir-se nesta sexta-feira com o Papa no Vaticano.

Fernández também indicou aos jornalistas que o assunto sobre uma visita de Lula ao Vaticano surgiu quando os dois, Alberto Fernández e Papa Francisco, tocaram no assunto sobre “Lawfare”, termo usado para definir uma guerra judiciária para intervir na política e para destruir adversários.

A intervenção de Alberto Fernández para que o Papa receba Lula também revela um desejo do ex-presidente brasileiro, libertado em novembro passado, depois de 19 meses preso.

Fernández, uma ponte da causa Lula com o Papa

Em agosto de 2018, quando Lula completava quatro meses de prisão, Alberto Fernández já tinha pedido que o Papa o recebesse acompanhado pelo ex-chanceler de Lula, Celso Amorim, e pelo ex-senador chileno, Carlos Ominami.

O objetivo daquela reunião, realizada na residência do pontífice, a Casa Santa Marta, era tornar ainda mais visível a luta pela liberdade de Lula. Na ocasião, o Papa Francisco escreveu uma mensagem a Lula na qual o abençoava.

“A Luiz Inácio Lula da Silva com a minha bênção, pedindo-lhe para rezar por mim, Francisco”, dizia a mensagem escrita na folha de rosto de um livro. O Papa recebera um exemplar em italiano do livro “A verdade vencerá”, de Lula.

Naquela ocasião, Alberto Fernández estava longe de qualquer cargo político, mas conhecia o Papa da época em que tinha sido chefe do Gabinete de ministros do governo Kirchner. O então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, e Fernández chegaram, inclusive, a ter o mesmo odontologista.

Um Papa que pensa como nós, diz Lula

Em maio do ano passado, o Papa Francisco enviou uma carta a Lula na prisão, pedindo ao ex-presidente que não desanimasse nem deixasse de confiar em Deus. “O bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”, afirmava o Papa, lembrando a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

A carta do Papa era uma resposta a outra de Lula na qual o ex-presidente agradecia o apoio “ao povo brasileiro pela justiça e pelos direitos dos mais pobres” e pedia o apoio e a amizade do Papa.

Nesta semana, numa entrevista com o jornal argentino Página 12, Lula fez vários elogios ao Papa. “É um Papa comprometido com o povo pobre, com o combate à fome, ao desemprego à violência, aos crimes contra as mulheres e contra os negros. Ou seja: ele é tudo o que nós queremos de um Papa. É um Papa que pensa como nós”, enfatizou Lula.

Distância automática de Bolsonaro

Ao aproximar o Papa de Lula, Alberto Fernández afasta-se automaticamente do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, inimigo de Lula. A gestão pessoal de Fernández para um encontro entre o Papa e Lula acontece num momento em que a Diplomacia argentina tenta costurar uma reunião entre Fernández e Bolsonaro depois que, durante os últimos meses, os dois trocassem farpas, pondo em risco a relação bilateral, eixo da integração regional.

No último dia 16, o presidente Jair Bolsonaro disse que a decisão dos Estados Unidos de priorizarem o Brasil -e não mais à Argentina- para entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tinha relação com a decisão dos argentinos de “elegerem quem os colocou na situação de desgraça na qual se encontravam”, em alusão à volta ao poder do kirchnerismo da vice-presidente, Cristina Kirchner, quem governara o país entre 2007 e 2015.

O clima entre os dois governantes ficou ensombrado depois que Alberto Fernández, durante a campanha eleitoral, visitou Lula na prisão e, durante o discurso de vitória, pediu a sua libertação. Esse discurso levou Bolsonaro a não cumprimentar Fernández pela vitória e a não ir à posse. Na ocasião, Bolsonaro disse que os argentinos “escolheram mal”. As informações são da Agencia RFI.


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Aparências

Observa o jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo, que a lista elaborada pelo Ministério da Justiça, contendo o nome dos bandidos mais procurados do Brasil exclui o nome do miliciano foragido Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Na interpretação do jornalista, a exclusão não faz bem à biografia do ministro Sergio Moro. “Nesse episódio, o ex-juiz da Lava Jato está na posição de mulher de César: não basta parecer, é preciso ser honesto”, anota.

Personagem

O capitão Magalhães, como é conhecido, ostenta o apelido de “Caveirão”. É um velho amigo de Fabrício Queiroz, o ‘faz-tudo’ da família Bolsonaro. Duas parentes do fujão —uma filha e a mulher— fizeram escala na folha salarial tóxica do gabinete de Flávio Bolsonaro na época em que o Zero Um dava expediente na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Simples assim!

Alega-se na pasta da Justiça que o amigo do amigo dos Bolsonaro praticava seus crimes em âmbito local, não nacional. O problema é que há na lista do ministério pelo menos outros dois milicianos que ostentam condições análogas. Moro ainda pode se reposicionar em cena. Basta incluir o nome de Magalhães na sua lista.

Lá e cá!

Ainda do citado jornalista, análise pertinente dos ministros de Jair Bolsonaro: “Não é que Jair Bolsonaro acredite na lorota segundo a qual seu ministério, por “eficiente”, dispensa reforma. A questão é que o presidente optou por acochambrar. Ultimamente, quando uma peça do primeiro escalão dá defeito, ele instala uma gambiarra. Faz isso especialmente nos casos em que o conserto, para ser definitivo, exigiria o manuseio de um instrumento indisponível na sua caixa de ferramentas: a autocrítica. Na área do meio ambiente, por exemplo, Bolsonaro só agiu quando o ambiente inteiro já estava conspurcado pelo escárnio governamental. Os maiores fundos de investimento do planeta avisaram: mantido o descaso com a proteção da floresta amazônica, não haveria como investir no Brasil. O ministro Paulo Guedes sentiu o hálito da contrariedade no Fórum Econômico Mundial de Davos, há uma semana. Em resposta, Bolsonaro anunciou a criação do Conselho da Amazônia e da Força Nacional Ambiental. As novidades serão coordenadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Ainda não há clareza quanto à forma, o conteúdo e os custos. Numa evidência de que a iniciativa foi esboçada em cima do joelho, o plano de voo virá depois da decolagem.

Com essa gambiarra ambiental, em vez de substituir o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) Bolsonaro desligou-o momentaneamente da tomada. Uma das primeiras iniciativas de Mourão será a de tentar desobstruir o duto por onde escorriam as verbas milionárias que Noruega e Alemanha aportavam no Fundo Amazônia antes do transe antiambiental que se instalou em Brasília.

Na Casa Civil, supostamente comandada por Onyx Lorenzoni, a tática da gambiarra foi levada às fronteiras do paroxismo. Ali, Bolsonaro comportou-se como uma espécie de arquiteto desmazelado —do tipo que, ao ser alertado para os problemas do projeto de uma casa, diz algo assim: “Relaxa, depois a gente bota umas plantas.”

Insatisfeito com o desempenho de Onyx, Bolsonaro retirou da Casa Civil o pilar da coordenação política, transferido para a Secretaria de Governo, e a viga do controle jurídico dos atos presidenciais, repassado à Secretaria-Geral da Presidência. A confiança do presidente no seu aliado de primeira hora trincou.

Para esconder a fenda, Bolsonaro mandara pendurar no organograma da pasta de Onyx o PPI, Programa de Parceria de Investimentos. Agora, atendendo a uma reivindicação de Paulo Guedes, determinou que a samambaia do PPI seja transferida para a estufa da Economia. Restabelecida a lógica, a Casa Civil tornou-se uma superestrutura pendurada no ar.

Onyx desfrutava de férias nos Estados Unidos. Estava no Magic Kingdom, o mundo encantado de Disney World. Teve de voltar às pressas. Mal aterrissou no inferno brasiliense, foi logo avisando que não cogita deixar o governo. Ou seja: não podendo elevar a própria estatura, Onyx decidiu rebaixar o pé-direito do seu gabinete.

Neste sábado, Onyx terá uma conversa a sós com Bolsonaro. Nada mudou, disse o ministro a correligionários ao longo da sexta-feira, sem se dar conta de que, no seu caso, nada é uma palavra que ultrapassa tudo. No momento, a Casa Civil é uma espécie de elefante que Bolsonaro eletrocutou sem calcular a dificuldade que teria para remover o cadáver.

Propagou-se no Planalto a informação de que, em nova gambiarra canhestra, Bolsonaro acomodaria a inépcia de Onyx na pasta da Educação, hoje preenchida pela incompetência de Abraham Weintraub.

Na noite passada, horas depois de interromper uma entrevista para não ter que falar sobre o futuro de Onyx, o presidente postou em suas redes sociais uma foto na qual aparece ao lado de Weintraub, seu auxiliar mais “imprecionante”. Na legenda, apenas um enigmático “boa noite a todos”.