O PT, o PCdoB e o PSB tendem a caminhar juntos no Acre e, por conseguinte, na esfera nacional, nas eleições de 2022, unidos por candidatura única à presidência, aos governos dos Estados e em coligação nas casas legislativas. Para tentar garantir antecipadamente um palanque sólido para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição do ano que vem, lideranças nacionais do PT passaram a costurar a formação de uma federação partidária com o PSB e o PCdoB. Se consolidado, o movimento criaria um fato político relevante para o petista ainda no primeiro trimestre de 2022.
Nova ordem
Em setembro deste ano, o Congresso derrubou o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto de lei que permite aos partidos se reunirem em federação. Pelo texto aprovado, as legendas são obrigadas a permanecer unidas por um período de quatro anos e teriam que atuar juntas nas esferas federal, estadual e municipal.
Conversas prévias
O PT inicialmente descartou integrar alguma federação, mas nas últimas semanas parlamentares influentes da sigla passaram a costurar as conversas com os outros dois partidos sobre o tema. Na base petista, ainda há resistência e alguns parlamentares acreditam que teriam mais dificuldade para se eleger em caso da formalização da coligação com outras siglas.
Projeções
Pelo prazo estabelecido na lei, as federações precisam ser registradas até o início de abril, enquanto as coligações eleitorais podem ser formalizadas até o começo de agosto. Um dirigente envolvido nas discussões sobre a união dos três partidos de esquerda avalia que a federação poderia eleger até 200 deputados, o que daria a Lula, caso eleito, uma sólida base na Câmara. Hoje, as três legendas somam 92 parlamentares.
Meta
Mesmo antes da aprovação da lei que permite a federação, o PT já havia definido que montaria uma estratégia para tentar elevar a sua bancada na Câmara com a candidatura de nomes de destaque. A disputa por vagas na Câmara em 2022 é vista na sigla como mais importante do que as eleições para os governos estaduais.
Efeito cascata
A formalização da federação serviria como resposta a movimentos vistos entre os partidos de centro-direita, como a fusão do DEM com o PSL, que resultará na sigla União Brasil. O partido teria a maior bancada da Câmara entre os eleitos em 2018, com 82 deputados — muitos devem sair, porém.
Visão
Com risco de ser atingido pela cláusula de barreira, o PCdoB se tornou o principal interessado na viabilização da federação. A comissão política nacional do partido se reuniu na última sexta-feira e decidiu que tratará do tema de forma “célere”. “A federação que o PCdoB trabalha para construir estará vocacionada a ser o esteio da derrota da extrema-direita e da conquista de um governo de amplas forças políticas que restaure a democracia e promova a reconstrução do país”, diz nota do partido.
Solução
Para o PSB, a federação seria uma forma de solucionar um problema que vem sendo enfrentado por todos os partidos médios: a formação de chapas para as disputas de deputados em todos os estados da federação. Essa será a primeira eleição nacional sem a possibilidade de coligação nas disputas proporcionais. As coligações permitiam que um ou mais partidos se unissem apenas para a eleição. As configurações podiam ser diferentes em cada estado.
Peculiaridades
A formação das chapas é importante porque mesmo os deputados que não são eleitos ajudam a elevar o total de votos de cada partido (ou federação). É pelo total de votos que se define a quantidade de cadeiras a que cada legenda — ou federação — terá direito. Apesar da dificuldade de formação de chapas, há focos de resistência dentro do PSB à formação da federação com o PT. “Esse é um assunto polêmico. O que há, por enquanto, é uma discussão, cujo resultado não há como saber ainda”, afirma Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB.
Junção
Além das questões nacionais, a federação terá que contemplar também as disputas estaduais. Em São Paulo, se os três partidos decidirem se unir, o ex-governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), que hoje se colocam como pré-candidatos ao governo de São Paulo, terão que estar unidos na eleição. Apenas um dos dois poderá manter o seu projeto de concorrer ao comando do estado como cabeça de chapa.
Afinidade ideológica
A federação de partidos, pelo texto aprovado no Congresso, permite a união de siglas com afinidade ideológica e programática, sem a necessidade de fundir os diretórios. A união deve durar, pelo menos, quatro anos e o partido que se desligar antes desse período perde, por exemplo, o acesso ao fundo partidário.
O modelo de federação difere das coligações eleitorais, que valem apenas pelo período da campanha. No caso das eleições proporcionais, essa possibilidade de aliança foi abolida pelo Congresso em 2017.
Casa nova
Após passar dois anos sem partido, o presidente Jair Bolsonaro filia-se nesta terça-feira (30/11) ao Partido Liberal (PL), sigla comandada por Valdemar Costa Neto, político condenado no Mensalão. A cerimônia vai ocorrer a partir das 10h, no auditório do complexo Brasil 21, em Brasília (DF).
Compasso de espera
Também devem se filiar à legenda nesta terça o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Por enquanto, os outros dois filhos políticos do presidente, o vereador do Rio Carlos e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP), seguirão no Republicanos e no PSL, respectivamente. Os demais aliados com mandato na Câmara devem aguardar a janela partidária para migrarem para o PL, dado que atualmente a troca de partido pode acarretar perda de mandato.
Números
Segundo estimativas, o PL estima uma bancada de deputados federais com, ao menos, 70 deputados. Hoje, a legenda conta com 43 parlamentares. Esses cerca de 30 deputados serão egressos de partidos distintos, mas a maioria do PSL. Cherini contabiliza até deputados do Podemos, de Sergio Moro.
Idas e vindas
Inicialmente, a cerimônia que formalizaria a filiação de Bolsonaro estava marcada para o dia 22 de novembro, em referência ao número do partido nas urnas, mas foi cancelada. O motivo foi o incômodo do presidente da República com possíveis alianças estaduais do PL em 2022. Entre elas, em São Paulo, onde a sigla planejava estar ao lado do hoje vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de João Doria para sucedê-lo no Palácio dos Bandeirantes. Interlocutores dizem que, antes de bater o martelo pela segunda vez, o mandatário teve conversas diárias com Valdemar da Costa Neto para solucionar o impasse da filiação.
Negociações frustradas
Bolsonaro deixou o PSL, partido pelo qual foi eleito presidente, em novembro de 2019, após uma série de desentendimentos com a cúpula da sigla. Na ocasião, assim que se desincompatibilizou da legenda, promoveu o lançamento de uma nova agremiação: o Aliança pelo Brasil. O projeto, entretanto, não saiu do papel em razão da dificuldade para recolher as assinaturas exigidas para registro perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Insucesso
O Aliança pelo Brasil foi anunciado com grande pompa como o partido que sintetizaria os ideais bolsonaristas sem ceder a práticas da política tradicional, como o “toma lá, dá cá”, como ficou conhecida a troca de cargos por apoios no Congresso. Dois anos depois, Bolsonaro selou a aliança com o Centrão e tem hoje dois representantes do bloco no governo: Ciro Nogueira, do PP, na Casa Civil, e Flávia Arruda, do PL, na Secretaria de Governo.
Noivado
Desde que a criação do Aliança pelo Brasil saiu do radar, Bolsonaro vinha negociando com várias legendas. Ele conversou com partidos nanicos, como PRTB, PMN e PMB e quase chegou a fechar com o Patriota, mas a entrega do controle dos diretórios estaduais a ele foi um dos fatores que levaram à frustração das negociações.
Chantagem
Recentemente, Bolsonaro estava “namorando” três partidos: PP, PL e Republicanos (antigo PRB). Há um acordo para que o PP indique o candidato a vice na chapa em 2022. A decisão pelo PL ocorreu após Valdemar ameaçar deixar a base de apoio do presidente.