No final da tarde de ontem, 28/02, o governador Gladson Cameli e a primeira dama do estado Ana Paula Cameli, em ato simbólico nas escadarias do Palácio Rio Branco, procederam solenidade póstumas às vítimas do covid, que na data suscitaram o milésimo óbito.
Empatia
“Através de um gesto, um sentimento, estamos aqui para falar para o mundo e para o Acre que estamos chegando a mil morte no nosso estado. Me solidarizo a milhares de brasileiros e acreanos que perderam seus entes ou que estão hoje, nesse exato momento, passando por qualquer situação que esteja além das nossas forças. Então, quero pedir, convocar as pessoas que mantenham as regras, que mantenham os cuidados”, disse Gladson.
Simbologia
Após o ato que teve lugar nas escadarias do Palácio, o governador e a primeira-dama repetiram o gesto na entrada do necrotério do Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into), hospital referência no tratamento de pessoas contaminadas pela Covid-19 no estado.
Regras
O governador falou ainda do decreto que vai flexibilizar algumas regras de isolamento social. Ele confirmou que o decreto será publicado nesta segunda-feira, 1º de março, no Diário Oficial. “Não é que a vida tenha voltado ao normal. As pessoas já sabem o que precisa ser feito, então vamos fazer como manda as regras. Regra é regra. Cuidado é cuidado. Exemplos não precisamos mais ter. Temos que ter todos os cuidados, evitar aglomerações e fazendo isso a gente pode tentar conviver com essa situação até que essa pandemia passe de uma vez”, finalizou.
Quiproquó
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Acre (Sinjac) emitiram uma nota de repúdio contra o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom (PP), após o chefe do Executivo municipal determinar a demissão do repórter João Renato Jácome, que ocupava a Chefia de Gabinete da Secretaria de Meio Ambiente da cidade.
Suprema audácia
O motivo foi o jornalista ter perguntado a Jair Bolsonaro qual a avaliação dele sobre a anulação de quebra de sigilo fiscal de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), sobre o caso das ‘rachadinhas’, investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Local e data
Segundo a Fenaj, “com este violento ataque ao jornalismo, o prefeito Tião Bocalom afronta a liberdade de imprensa e o direito de acesso à informação garantidos pela Constituição”. A exoneração foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) de sexta-feira (26/02).
Antessala do caos
Levantamento feito pelo jornal O Globo com as secretarias estaduais de Saúde da federação mostra o colapso na saúde em mais da metade dos estados brasileiros diante do aumento de casos de Covid-19. Ontem, domingo, 28, dia em que o país registrou um novo recorde de mortes segundo a média móvel dos últimos sete dias, com 1.208 óbitos, pelo menos 781 pessoas aguardavam leitos de UTI em seis estados e no Distrito Federal, e a ocupação nas unidades intensivas da rede pública superava os 80% em 17 estados e no DF.
A fórceps
A situação em três estados foi determinante para que a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidisse que o Ministério da Saúde deve voltar a custear leitos de UTI para pacientes com Covid na Bahia, no Maranhão e em São Paulo — estados que estão, respectivamente, com 84%, 80% e 72% de ocupação nas unidades intensivas na rede pública.
Insensatez
Ainda ontem pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro minimizou a falta de vagas, escrevendo, em rede social, que “a saúde no Brasil sempre teve seus problemas”. “A falta de UTIs era um deles e certamente um dos piores”, escreveu em sua conta no Facebook, compartilhando uma reportagem do site G1 de 2015 sobre falta de leitos no Brasil.
Fila do desespero
São seis os estados, mais o DF, com pacientes esperando por UTIs. A maior fila foi registrada na Bahia: 263 pessoas. O estado chegou ao pico de pacientes internados em leitos de UTI desde o início da pandemia: 969. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Santa Catarina fecham a lista. Neste último, a informação de 99 pessoas à espera de leito é do site G1, com base em informações sigilosas do governo catarinense, que até o fechamento desta edição não negou ou forneceu dado mais atualizado.
Tempos sombrios
O médico Drauzio Varella, em entrevista ao programa Fantástico da Rede Globo, fez um alerta sobre o atual momento da pandemia. Ele constata que o Brasil está à beira do colapso total. “No Brasil, que começa a vacinação sem ter doses em número suficiente, a epidemia nunca esteve tão agressiva. Nós estamos vivendo os piores momentos”, afirmou.
Consequências
“Olha o que deu fazer aglomerações nos bares, nas festas clandestinas do fim de ano e no carnaval. Em várias cidades, morreu mais gente em dois meses, janeiro e fevereiro, do que no ano passado inteiro”, destacou Drauzio. “Está certo levar o vírus para casa: infectar seus pais, seus avós e as pessoas mais frágeis da família, só porque você se recusa a usar máscara e a guardar distância dos outros?”, indaga.
Turbidez
O médico também faz alerta sobre a situação das próximas semanas. “As próximas semanas serão muito duras. Não se iluda: se sua mãe ficar doente, não encontrará vaga nas UTIs dos hospitais, públicos ou particulares. Como você vai se sentir se ela morrer de falta de ar numa cadeira da sala de espera?”, desabafa o médico.
Passos de tartaruga
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido por Jair Bolsonaro, critica duramente a gestão atual da pasta e o governo ao qual pertenceu. “A Cepa mais transmissível anda de Ferrari. Já a campanha de vacinação vai de carroça”, disse ele, em entrevista ao jornalista Mateus Vargas, no jornal Estado de S. Paulo.
Quem avisa, amigo é!
Mandetta diz que alertou Bolsonaro logo no início da pandemia. “Quando tivemos o primeiro caso no Brasil e o sistema de saúde da Itália caiu. Mas ele começou a entrar na mesma vibe do Trump, não dimensionou. Ele tinha uma viagem aos EUA. Eu já estava dando o alerta, tinha de fazer um plano de biossegurança. Eles não queriam usar nem álcool em gel para não transparecer preocupação”, aponta. “Eles não queriam fazer nenhuma campanha de esclarecimento ao público.”
Acefalia
“O Brasil está como uma nau sem rumo. O que poderia ser feito: começar por colocar gente que entende de saúde e epidemia para conduzir, gerar políticas, recuperar o SUS. Tem de começar a refazer o sistema, que está totalmente fragmentado. Estamos num caos. Não tem liderança que fala pela saúde brasileira. O papel do ministério se perdeu”, ressalta ainda Mandetta.