O governador Gladson Cameli (PP-AC) será julgado na próxima quarta-feira, 15/5, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O desfecho do julgamento poderá alterar a correlação de forças da política local, vez que, em caso de afastamento, assume a vice-governadora Mailza Assis.
Irritação
Aliados de primeira hora da vice-governadora atestam seu atual descontentamento com o governo Gladson, ao apontarem um esvaziamento de poder de Mailza dentro da gestão, vez que cargos ocupados por seus aliados na estrutura administrativa estão sendo descartados, num cenário aonde os aliados enxergam ação deliberada emanada do Palácio Rio Branco.
Mudança
A última ofensiva seria a mudança de comando na Secretaria de Ação Social, que hoje se encontra sob a órbita de Mailza, e está sendo pleiteada pelo União Brasil, num acordo envolvendo a cessão do posto de vice para o PP, na figura de Alysson Bestene, na chapa de reeleição do prefeito Tião Bocalom. Prevalecendo esse cenário, Mailza ficaria apenas com o espaço de seu gabinete de vice-governadora. Introduzida na condição de governadora, Mailza, por certo, promoveria mudanças que adequem a máquina administrativa a seus interesses políticos.
Remember
Para relembrar o processo que estará em julgamento, Cameli é réu por suposta participação em um milionário esquema de desvios de dinheiro dos cofres do tesouro estadual. A Procuradoria Geral da União (PGR) acusa o governador e mais 12 pessoas por crimes de organização criminosa, corrupção, peculato e fraude em licitação. A PGR pede o afastamento do governador no STJ até o fim da instrução final e ainda denuncia familiares dele, empresários e servidores por recebimento de propina e desvios em obras. Somadas, as penas pelos crimes sugeridos podem ultrapassar 40 anos de reclusão.
Meio termo
Os prognósticos apontam que os ministros da Corte Especial vão aceitar parte das denúncias contra Cameli levantadas pela PGR, afirmam interlocutores do STJ. O governador, mesmo réu, não deve ser afastado do cargo. O afastamento é considerado pelos ministros uma medida drástica que configuraria condenação antecipada do governador, sopesando que os fatos, que motivariam o afastamento, não são amparados em ocorrências atuais.
Denúncia
Ademais, em relação ao processo que irá a julgamento, os advogados do governador alegam ao STF que o início das apurações da Operação Ptolomeu, que mira desvios em contratos do governo acreano, violou a competência do STJ como foro para investigar governadores.
Posição
“Lamentamos que autoridades, revestidas do poder estatal, usem a imprensa para antecipar condenação de pessoas, até aqui, tão somente investigadas”, manifestou-se a defesa do governador, em nota. “Não é correto substituir o julgamento formal pelo julgamento na mídia. Não é correto fazer espetáculo e buscar publicidade às custas da Justiça. As acusações contra o governador não têm fundamento. Estão baseadas em ilações e documentos de terceiros obtidos de forma ilegal. A operação Ptolomeu foi deflagrada há mais de dois anos. Desde então não há qualquer indicativo de interferência dos investigados no curso da apuração. No mais, aguardamos com respeito e serenidade a decisão da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça”, diz ainda a nota da defesa de Cameli.
Pulso
A primeira pesquisa Genial/Quaest sobre a próxima eleição presidencial mostra que, para a maioria dos brasileiros (55%), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não merece ser reeleito em 2026. Apesar desse cenário, nenhum outro nome supera o petista em potencial de voto.
Opções
No levantamento da Quaest, divulgado hoje,13, os eleitores podiam declarar intenção de voto em oito pessoas além de Lula. No total, 47% dizem que votariam para reeleger o petista daqui a dois anos, maior percentual entre todos os possíveis presidenciáveis. No entanto, a rejeição do presidente é alta: 49% não votariam nele em 2026.
Dados técnicos
A pesquisa presencial foi realizada entre os dias 2 e 6 de maio, ou seja, após o início da tragédia que atinge o Rio Grande do Sul. A Quaest ouviu 2.045 brasileiros de 16 anos ou mais em todos os estados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, e o nível de confiança é de 95%.
Alternativas
Outros nomes do PT também foram contemplados na pesquisa, mas suas chances de voto se mostraram significativamente menores em comparação com Lula: 32% votariam no ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e 10% votariam na presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Desempenho
Lula encontra apoio para um novo mandato no Nordeste (lá, 60% dos entrevistados dizem que ele merece mais uma chance na Presidência e 38% discordam), entre aqueles que ganham até dois salários mínimos (54% a 43%) e que possuem até o Ensino Fundamental (54% acham que ele merece outra chance e 44%, não).
Oposição
Depois de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) surge como o segundo nome que tem, numericamente, mais chances de angariar votos em 2026: 39% dos entrevistados votariam no ex-mandatário. Mas a parcela daqueles que não votariam é majoritária: 54%.
Barreira
Em relação a Bolsonaro, por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ele está impedido de disputar um cargo público até 2030. Em junho do ano passado, a Corte entendeu que o ex-presidente praticou abuso de poder político e usou indevidamente meios de comunicação ao atacar as urnas eletrônicas em reunião com embaixadores. Por isso, ele não poderá concorrer em 2026.
Mudanças
A gestão petista tem direcionado esforços para melhorar a avaliação do governo, que na última pesquisa Quaest, divulgada no início do mês, teve nova variação negativa. O percentual dos que aprovam o trabalho do Executivo federal oscilou de 35% para 33% em relação a fevereiro, enquanto as percepções negativas sobre a gestão petista passaram de 34% para 33% no período.
Lula x Tarcísio
No cenário em que Bolsonaro continua inelegível, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é apontada por 28% dos eleitores como o melhor nome para enfrentar Lula em 2026. O que pode dificultar uma possível empreitada de Michelle rumo à Presidência é a sua alta rejeição: 50% não votariam nela.
Desempenho
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem 24% de preferência no cenário sem Bolsonaro, ou seja, está empatado no limite da margem de erro com a ex-primeira-dama. Mas a rejeição de Tarcísio é 20 pontos percentuais menor do que a de Michelle, e quase quatro em cada dez eleitores não conhecem o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, o que é considerado um ativo eleitoral.
Embate
Embora seja visto como um possível substituto de Bolsonaro, Tarcísio tem a reeleição ao governo paulista em seu horizonte. Ao menos por enquanto. Segundo aliados, o governador não cogita disputar a Presidência contra Lula se as chances de derrota forem altas. Hoje, o cenário se mostra desfavorável: em eventual disputa entre Lula e Tarcísio em 2026, 46% votariam no petista e 40% no governador, mostra a Quaest.
Correndo por fora
Os governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), de Minas, Romeu Zema (Novo), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), correm por fora na disputa pelo espólio de Bolsonaro, mas além de baixo potencial de voto, eles têm uma alta taxa de desconhecimento: 50%, 57% e 60%, respectivamente.
Estratégia
Embora ainda esteja distante, a eleição de 2026 já começa a se desenhar. Lula terá que ganhar a confiança da maioria para merecer mais uma chance. Os nomes da oposição trabalham para ganhar conhecimento, avalia Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).