Dois dias após anunciar ser o escolhido de seu pai para disputar a Presidência da República ano que vem, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chamou o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas de "o principal cara do nosso time hoje" para a disputa eleitoral do ano que vem.
Considerações
O Senador elogiou o governador paulista em entrevista a jornalistas na manhã de hoje, 07. Ele disse que já havia sido definido candidato pelo pai, Jair Bolsonaro, na semana passada e que a primeira pessoa com quem quis conversar foi o governador paulista. Segundo ele, Tarcísio recebeu de "peito aberto" a indicação de Flávio e teria tido uma reação "muito boa". O Governador não se manifestou nas redes sociais após após Flávio anunciar que era o escolhido do pai para disputar a Presidência ano que vem.
Escambo
Em sua primeira aparição pública desde que anunciou a candidatura, senador disse que poderia não levar campanha "até o fim". Flávio não descartou a possibilidade de desistir de disputar a Presidência, mas disse que isso teria um preço. Sem deixar claro, indicou que a anistia aos condenados pelo STF por envolvimento na trama golpista, incluindo seu pai, seria um dos fatores a ser levado em conta.
Cenário
Flávio disse que vai "resgatar o Brasil", começando por São Paulo. Na entrevista, o senador indicou que Tarcísio é importante porque espera contar com mais votos bolsonaristas em São Paulo no ano que vem para conseguir vencer o PT em 2026. Na última eleição presidencial, Jair Bolsonaro teve mais votos que Lula no estado mais populoso do país por uma diferença significativa, vencendo o petista na maioria dos municípios paulistas
União
O Senador negou falta de união na direita e disse que vai conversar com lideranças amanhã sobre seu projeto presidencial. Questionado sobre a falta de manifestação de apoio pública por parte de lideranças do campo, ele afirmou que vai se encontrar com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Marcos Rogério (PL-RN) e com o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), presidente do Republicanos.
Estratégia
Segundo ele, sua estratégia é negociar com os grupos políticos que estão contra o PT. "A minha estratégia é muito simples. Vem com quem vai ganhar, vem com quem tem o melhor projeto e aproveita agora, porque esse é o momento de mostrar quem está do nosso lado, esse é o momento de mostrar quem é leal ao Brasil (...) Comigo a negociação vai ser assim, vai ser por um projeto. Se você acredita no caminho que o Brasil tem que seguir, que é o oposto do que o PT tá levando ao Brasil, Tá muito bem vindo pra vir com a gente", afirmou.
Estatura
Flávio falou com a imprensa após participar de um culto da igreja Comunidade das Nações, em Brasília, nesta manhã. Ele foi ao local acompanhado da esposa e falou com jornalistas na saída.
“Foi muito boa a reação (de Tarcísio de Freitas). Um cara que se mostrou de peito aberto, mas uma conversa muito franca e sincera, como eu tive todas as vezes com ele. E pra mim o Tarcísio é o principal cara do nosso time hoje. Porque eu tenho a convicção de que a gente vai resgatar o Brasil, a gente vai ganhar a eleição começando por São Paulo. Com uma diferença maior de votos em relação à esquerda do que nós tivemos em 2022”.
Mundo da lua
Instado a comentar a divisão da direita, Flávio negou as evidências. “Não tem fragmentação da direita. Tem pessoas se unindo, independentemente de vaidade, de quem é a pessoa que vai estar na cabeça de uma chapa, pessoas que têm a convicção de que o Brasil não pode escolher de novo o caminho errado, como fizeram em 2022”.
Raio X
A decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro de escolher o senador Flávio Bolsonaro, seu filho, como seu candidato à presidência redesenhou o tabuleiro político da direita. A avaliação foi feita pelo jornal O Globo, em análise do jornalista Merval Pereira, que aponta que essa escolha praticamente retira o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Rep), da disputa presidencial.
Avaliação
Segundo o colunista, a indicação de Flávio abre um vácuo para outros nomes que tentem ocupar o espaço que antes era associado ao governador de São Paulo. A mudança preocupa especialmente o mercado financeiro, que enxergam fragilidade na nova aposta da família Bolsonaro e observam que o presidente Lula tende a ser beneficiado por esse erro estratégico.
Trava
O texto publicado por Merval destaca que o núcleo bolsonarista, ao trancar as decisões da campanha dentro da própria família, reduz a capacidade de Flávio conquistar setores além da base radical. A direita moderada buscava alguém competitivo, com apoio de Bolsonaro, mas independente o suficiente para governar sem extremismos ou aventuras populistas.
Subserviência
Esse perfil, segundo Merval, parecia encaixar-se inicialmente em Tarcísio de Freitas. Contudo, sua crescente subserviência a Bolsonaro — especialmente em temas como escolas cívico-militares — já incomodava setores da classe média.
Fragilidade
Pela análise do renomado jornalista, Flávio não possui experiência administrativa e depende totalmente da estrutura eleitoral do pai. Merval observa que, diferentemente de Jair Bolsonaro, o senador não tem voto próprio. Para o colunista, ele teria facilidade em se eleger senador em diversos estados, assim como Michelle Bolsonaro, que é descrita como tendo “mais brilho pessoal”.
Epílogo
Ainda na análise de Merval, os demais filhos são retratados como herdeiros que nada acrescentam ao patrimônio político da família. A resenha aponta que a prisão de Bolsonaro e a provável derrota de Flávio tendem a encerrar a trajetória da família na política nacional, especialmente se um candidato de direita alcançar o segundo turno contra o presidente Lula.
Busca
O colunista afirma que, após o governo Bolsonaro, a sociedade buscava uma alternativa conservadora que não repetisse o radicalismo, ao mesmo tempo em que se diferenciasse de Lula. A esquerda, por sua vez, não deve apresentar outro nome competitivo além do presidente. Nesse cenário, Merval destaca que há espaço ampliado para candidatos de direita e centro-direita, como: Ronaldo Caiado (Goiás); Ratinho Junior (Paraná); Eduardo Leite (Rio Grande do Sul)
Prateleira
A preferência inicial por Tarcísio indicava esse desejo por um candidato conservador moderado. Mas sua dependência política de Bolsonaro e a entrada de Flávio como nome oficial tornaram o quadro instável. Diante dos fatos, a análise ressalta que o Centrão recebeu com frieza o anúncio de Flávio Bolsonaro. Embora o grupo não seja de extrema-direita, sabe identificar onde está o caminho da vitória — e não o vê na candidatura do senador.
Resumo
Por fim, Merval diz que “o Centrão aderiu a Bolsonaro depois de ter recebido o Orçamento da República, e dificilmente aderirão a Flávio em troca do que já controlam”. O ex-presidente já se rendeu ao bloco durante seu governo, e Flávio não teria força para oferecer qualquer avanço adicional.
