Na data de ontem, terça-feira, 28, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) marcou para o dia 19 de novembro o julgamento do governador do Acre, Gladson Camelí (PP), em ação penal que corre em desfavor do governante.
Imputações
Camelí é réu acusado de organização criminosa, corrupção passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraude à licitação. A denúncia foi aceita em maio de 2024 e é resultado da Operação Ptolomeu e a Corte Especial do STJ acatou a denúncia com esse viés apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF).
Personagens
As denúncias envolvem a contratação da empresa Murano, com sede em Brasília, recrutada para prestar serviços ao governo do estado no início do primeiro mandato de Cameli (2019). A empresa teria subcontratado outra, localizada no Acre, que teria como sócio o irmão de Gladson Cameli, Gledson Cameli.
Desfecho
Segundo a acusação, essa contratação resultou em um esquema de favorecimento financeiro ao governador e a outros envolvidos, causando prejuízos aos cofres públicos. Mesmo se tornando réu em maio de 2024, ele foi mantido no cargo.
Chocadeira
Ainda de acordo com a investigação, um dia após a assinatura do contrato com o governo do Acre, a Murano celebrou parceria com a empresa Rio Negro, que tem entre os sócios Gledson Cameli, um dos irmãos do governador. Foi a Rio Negro quem passou a ser responsável pela execução dos serviços.
Inocência
No final da semana passada, instado a comentar o processo, Gladson reafirmou que é inocente das acusações que deram azo ao processo. Sobre o processo, Cameli é peremptório: “Eu posso dizer que não tira meu sono, mas que me preocupa, porque eu nunca imaginei na minha vida que fosse ser alvo de uma operação da Polícia Federal. Nunca!”.
Contradições
E segue: “A Ptolomeu diz que eu, supostamente, teria desviado R$ 800 milhões, como que um governante faz isso se, em 2019, o 13º salário estava atrasado, o estado devia ao ponto de que não tinha credibilidade para tapar um buraco, e ninguém me avisou que eu iria lidar com uma das maiores crises sanitárias do mundo, onde eu precisava ter as contas equilibradas e dar respostas rápidas para a sociedade para diminuir os prejuízos”, defende-se Cameli.

Anomalia
Até para o Rio de Janeiro, tão acostumado com a violência cotidiana que volta e meia faz lembrar uma guerra, a operação policial de ontem, terça-feira, 28, contra o Comando Vermelho foi um choque.
Ineditismo
Nunca na história a entrada da polícia nas favelas deixou tantos mortos e nunca a reação do crime organizado atingiu tantos pontos da cidade ao mesmo tempo. Ao todo, 64 pessoas foram mortas, outras 80 estão presas. Pelo menos quatro policiais perderam a vida nos confrontos. Diversas pessoas foram baleadas em meio aos confrontos, sendo 15 policiais e ao menos três moradores.
Contingente
A ação, resultado de um ano de investigações de acordo com as forças de segurança do Rio, mobilizou 2.500 agentes, além do Ministério Público, que, oficialmente, cumpriam mandados de busca e apreensão, visando desarticular lideranças do Comando Vermelho (CV) nos complexos da Penha e do Alemão.
Contra-ataque
Em resposta, os criminosos utilizaram drones para atacar a megaoperação. Mais de cem linhas de ônibus tiveram itinerários alterados, vias expressas foram interditadas e aulas foram canceladas por conta da violência.
Artilharia
A Operação Contenção apreendeu 96 fuzis, segundo balanço parcial das autoridades, chegando à marca de 686 em 2025, um novo recorde anual no estado. Na semana passada, o Instituto de Segurança Pública (ISP) já havia registrado a marca de 593 fuzis apreendidos entre janeiro e setembro deste ano, o maior número da série histórica do ISP, iniciada em 2007. (g1)
Retrato
Cálculos do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), apontam que a megaoperação na Zona Norte do Rio foi a mais letal do estado até hoje, superando uma operação no Jacarezinho, em maio de 2021, que causou 28 óbitos. Aliás, os morros da Penha e do Alemão são os mais afetados por ações mortais da polícia. Em 2022, duas operações mataram 23 pessoas na Penha, em maio, e outras 17 no Alemão em julho, além de outras 19 em junho de 2007.
Comparativo
A ação policial se assemelha a uma guerra civil até na tática. Além de drones e ambulâncias do grupamento de Salvamento e Resgate, os agentes contavam com 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição. Já os traficantes usaram drones para lançar granadas contra equipes das forças especiais da Core e do Bope, além de armamento pesado, como fuzis. Veja em gráficos como foi a megaoperação desta terça-feira.

Terceirização
Enquanto os corpos ainda estavam sendo recolhidos das ruas e vielas das favelas da Zona Norte, uma outra guerra se desenrolava entre o Palácio das Laranjeiras, sede do governo do Rio, e o Palácio do Planalto. Diante do caos causado pela operação policial, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), tentou repassar a responsabilidade para o governo federal.
Versão
De acordo com Castro, Brasília não quis apoiar a operação ao se negar a enviar blindados para apoiar a invasão das áreas comandadas pelo CV. Desmentido tanto pelo Ministério da Defesa quanto pelo Ministério da Justiça, o governador alegou ter sido mal interpretado. Em telefonema para a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, Castro disse que não disse o que disse na coletiva de imprensa. “Gleisi, quem está falando isso não ouviu minha fala”, disse ele à ministra.
Reação
O disse-me-disse do governador carioca, amplamente divulgado nas redes sociais da extrema direita, não parece ter convencido Brasília. Coube ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, as críticas mais intensas a Cláudio Castro. De acordo com o ministro, Castro deve tomar uma posição concreta sobre suas responsabilidades. “Se ele sentir que não tem condições, ele tem que jogar a toalha e pedir GLO ou intervenção federal”, afirmou o ministro. Em ambos os casos, o Rio passaria por uma intervenção federal, como ocorreu sob o governo Michel Temer, quando o general Braga Netto assumiu a segurança do Rio em 2018. (Folha)
Ação
Depois dos bate-bocas virtuais o governo federal decidiu agir de forma institucional enviando uma comitiva até o Rio para discutir a questão da segurança. A decisão foi tomada após uma reunião de aproximadamente duas horas no Palácio do Planalto, convocada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin. A delegação deve incluir Lewandowski; o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa; e o diretor-executivo da Polícia Federal, William Marcel Murad.
Alinhamento
O Palácio do Planalto pretende estabelecer linhas de atuação conjunta e formular uma resposta política e operacional para a atual crise na segurança fluminense. Integrantes do governo avaliam ainda que o cenário pode fortalecer o debate da PEC da Segurança no Congresso.

Concessões
Com o ano eleitoral à porta e precisando aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o governo cedeu à pressão do Congresso e destravou a liberação das emendas de comissão. De acordo com o Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), o valor pago passou de R$ 391 milhões na sexta-feira para R$ 1,013 bilhão nesta segunda-feira — um salto de 159%. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), havia cobrado pessoalmente do presidente Lula o estabelecimento de um calendário de liberação dessas emendas, diante das reclamações de parlamentares.
