Após um mês de apreensão provocada pelo’ tarifaço’” de 50% que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs a produtos do Brasil como retaliação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governo brasileiro comemora como vitória o resultado do superávit comercial de US$ 6,1 bilhões de dólares no mês de agosto
Êxito
Por conta desse desempenho superavitário na balança comercial o ex-governador, ex-senador do Acre Jorge Viana (PT), atual presidente da ApexBrasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações, virou destaque nos principais veículos de comunicação do país, apontado como um dos responsáveis pelo feito.
Olhar futuro
Depois de costurar tratados comerciais "em todos os continentes", destravar o acordo do Mercosul com a União Europeia e aumentar suas exportações para China, o Brasil agora mira a Índia, "o maior potencial que temos para exportar", afirmou ao portal UOL (Universo On Line) Jorge Viana, presidente da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. "É uma vitória para o Brasil. Não estamos pessimistas quanto o dia de amanhã”.
Périplo
Viana revela os meandros das negociações levadas a cabo pelo estado brasileiro. “O presidente Lula e a Apex realizaram 16 encontros empresariais em todos os continentes. Fomos ao Vietnã, Arábia Saudita, China, Espanha, Alemanha, Japão, Angola... Isso nunca havia acontecido. Foram mais quatro com o vice-presidente [Geraldo] Alckmin. Mais de 7.000 empresários foram por conta própria a esses encontros”.
Pé na estrada
Viana considera que o Brasil fez o dever de casa para diversificar mercados: “Abrimos quase 410 novos mercados [desde o início do governo] com trabalho integrado do Ministério da Agricultura, Itamaraty, Ministério do Desenvolvimento e Apex auxiliando. Ajudou o fato de o presidente Lula ter um perfil agressivo de vender o Brasil”, reverbera o presidente da ApexBrasil.
Estratégia
Jorge Viana revela a tática a ser adotada para reverter o ‘tarifaço’ dos EUA: “Estamos buscamos vender mais para os mercados que já foram abertos. Vamos aumentar nossa participação na Austrália. Dias 10 e 11 de setembro vamos para o Canadá, que compra US$ 1 bilhão de de café brasileiro. O Brasil pode vender para eles parte o excedente que iria para os EUA. Vamos tentar aumentar a diversificação: vender mais onde a gente já vende e identificar países sem barreira tarifaria que podemos botar produtos”.
Epílogo
A poucos dias do fim do julgamento da trama golpista que pode condenar Jair Bolsonaro a mais de 40 anos de prisão, aliados do ex-presidente correm para apresentar um projeto de lei no Congresso que conceda anistia a todos os envolvidos na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Projeto
Uma minuta do texto, preparada pelo PL, já está pronta e prevê o perdão a crimes cometidos via redes sociais, ofensas a instituições, apoio logístico e financeiro a protestos e ataques à soberania nacional. Na prática, isso significaria que Bolsonaro ficaria livre da prisão e voltaria a se tornar elegível para as eleições de 2026.
Contemplado
O projeto, segundo deputados bolsonaristas, também isentaria o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, de responsabilidade por tentar convencer Donald Trump a sancionar o Brasil como forma de pressionar o Judiciário a não julgar Bolsonaro.
Estilo
Em meio ao tiroteio, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), agiu como de costume. Primeiro disse que não colocaria na pauta um projeto para anistiar Bolsonaro. Depois, com o tema ganhando força, deu sinais de que poderia rever a posição e chegou a se reunir com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para tratar da estratégia política sobre como pautar a proposta.
Passo atrás
Na quinta-feira, 04, diante das reações negativas na imprensa e na opinião pública, Motta desconversou, afirmando que ouviria os favoráveis e contrários à proposta. Ao final, disse que não “há nada definido” sobre a questão.
Mergulho
Enquanto o presidente da Câmara se protege sob o manto da ambiguidade, o governador paulista partiu para o tudo ou nada na busca pela anistia de Bolsonaro. Tarcísio de Freitas, que já havia feito um périplo por Brasília com apoio do presidente do Republicanos, Marcos Pereira, uniu forças com o pastor Silas Malafaia nas articulações.
DNA
Ontem, quarta-feira, Tarcísio recebeu Malafaia para um jantar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, e confirmou presença em protesto organizado pelo pastor em São Paulo a favor da anistia de Bolsonaro. Segundo o jornal Folha de São Paulo, a minuta do projeto que beneficia o ex-presidente foi feita pelos advogados e influenciadores bolsonaristas Tiago Pavinatto e Flavia Ferronato em conjunto com “professores da USP” que preferem não ter seus nomes divulgados.
Articulação
Diante da pressão crescente no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu entrar pessoalmente na campanha do governo para impedir que o texto seja levado à votação. Lula aposta no apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para frear a ofensiva da oposição. Para isso, ofereceu a Alcolumbre manter no governo nomes indicados por ele para os ministérios das Comunicações e do Desenvolvimento Regional, além de superintendentes da Codevasf. O União Brasil, porém, decidiu deixar o governo e determinou que todos os integrantes do partido desocupem seus cargos na Esplanada até o fim do mês.
Antídoto
Em outra frente, o Planalto abriu o cofre para desmobilizar integrantes do centrão que possam se unir ao PL. Só nesta semana foram liberados quase R$ 2,5 bilhões em emendas parlamentares. O esforço do governo em empenhar essa fatia do orçamento acontece em meio ao desembarque de aliados e ao aumento das tensões em torno da anistia de Bolsonaro.
Tiroteio
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), reagiu às investidas do governo para buscar uma aliança com Alcolumbre a fim de barrar a anistia. Segundo ele, o projeto que será apresentado pelo PL é “o mínimo do mínimo” a que a oposição está disposta a negociar. Sóstenes atacou o presidente do Senado, que defende um texto alternativo sem o perdão a Bolsonaro. “A atribuição do presidente do Senado é pautar, não discutir o texto”, disse.
Efeitos colaterais
A jornalista Vera Magalhães, do jornal O Globo, revelou ontem que o projeto de lei da anistia não apenas livra os praticantes do 8 de Janeiro, os responsáveis pelas milícias digitais, os investigados pela Abin paralela e os que estão sendo julgados pela trama golpista: tal como está redigido, o projeto é um convite para ataques futuros às instituições.
Desempenho
Em agosto, primeiro mês com tarifas de 50% impostas por Donald Trump, as exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5% em relação ao mesmo período de 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços (Mdic). Foram US$ 2,76 bilhões vendidos, comparados aos US$ 3,39 bilhões um ano antes.
Balanço
Itens como minério de ferro, açúcar, carne bovina e aeronaves puxaram a queda, afetando tanto produtos taxados quanto não taxados. Mas o governo atribui parte da retração a uma possível antecipação de embarques em julho. Apesar da perda no mercado americano, o saldo comercial brasileiro ficou positivo em US$ 6,1 bilhões no mês, sendo que as exportações totais subiram 3,9%, com destaque para China (31%), México (43,8%) e Argentina (40,3%).