Dois fatores de peso parecem “contratados” para o cenário após as eleições de 2022. Não importa quem seja o vencedor, a economia não terá condições de crescimento sustentável e será afetada pela também já “contratada” gastança em ano eleitoral.
E não importa o vencedor, a piora do já ruim sistema de governo trará enormes dificuldades de governabilidade. Economia fraca e governo desarticulado serão os principais legados de Jair Bolsonaro, embora não tenha sido ele o “inventor” nem de um nem de outro.
Os pré-candidatos compreendem a dimensão da armadilha que os espera na questão de governabilidade, sem a qual não mexem na economia? Lula, sim. Se vitorioso, declarou, vai reverter os ganhos de poder conquistados pelo Legislativo, leia-se orçamento secreto. Bolsonaro, se entendeu sua posição de boneco do Centrão, cala a boca por motivos óbvios.
Nesse sentido Ciro Gomes continua apresentando discurso eleitoral bem articulado em suas partes, batendo na tecla favorita do nacional desenvolvimentismo. Os outros ainda estão envolvidos em brigas internas de péssima repercussão (PSDB), passam pelo estágio embrionário de campanha (PSD e Rodrigo Pacheco, mas também o MDB). Estão distantes de apresentar um “perfil” de candidatura bem delineado.
Inflação, renda e desemprego já são tidos como fatores dominantes para os eleitores. Premissa que está clara no comportamento de Sérgio Moro, a sensação política do momento. Seu principal ativo político, o combate à corrupção, perdeu em importância relativa e ele mesmo reconhece isso, embora continue mencionando em primeiro lugar a Lava Jato como seu principal trunfo eleitoral.
Os marqueteiros de campanha terão difícil missão ao tentar transformar o juiz durão em simpático campeão do combate à pobreza, mas o conjunto de declarações bem ensaiadas de Moro sobre macro economia está causando impacto nas elites dirigentes, e não só as da economia. Está “chegando”, como se diz.
Neste momento a figura política de Moro se beneficia de dois aspectos. Populistas tipo Lula ou Bolsonaro são rejeitados ao longo de amplo espectro de elites. E, em contraste com a de seus principais adversários, a figura do ex-juiz começa a preencher a condição subjetiva de “confiável” (nada tem a ver com fatos passados). Sinal preocupante para seus concorrentes, Moro está ganhando projeção pelo que possa vir a ser, e não apenas por aquilo que já foi ou fez (correto ou não).
Resta saber se ele entende o tamanho da armadilha à espera do vencedor em 2022. Se compreendeu, até aqui guardou para si, e não disse ainda em público como vai se livrar dela.