O Acre perdeu ontem uma de suas grandes lideranças. Faleceu o ex-prefeito, ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal Flaviano Melo. Flaviano morreu aos 75 anos de idade, completados no último domingo,17, na condição de presidente regional do MDB. Ele vinha doente desde o início deste mês de novembro. No último dia 6, depois de passar por internação no Hospital do Into (Instituto de Traumatologia), em Rio Branco, ele acabou sendo transferido através de avião do sistema chamado de UTI no ar para São Paulo, a fim de tratar uma pneumonia grave.
Quadro
No hospital paulista, na primeira de semana, ele apresentou um quadro de melhora ao ponto de os médicos terem o extubado, quando ele voltou a falar, ainda que com dificuldade, com a esposa Luciana, e com o filho Leonardo. A melhora deixou todos coma expectativa de que ele deixaria o hospital logo.
Prontuário
No entanto, dois dias depois, um quadro de febre sugeriu nova infecção e os médicos voltaram a entubá-lo para facilitar a retirada de material genético para novos exames para descobrir as causas e estancar a febre, o que não foi possível. Nos últimos das, surgiu um quadro de paralisia renal e problemas cardíacos, que levaram os médicos a fazerem um cateterismo. Flaviano Melo carregava sequelas de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) ocorrido em 1991, quando exercia o mandato de senador da República. Era fumante compulsivo desde a juventude.
Trajetória
Flaviano era acreano da capital, nasceu em 17 de novembro de 1949, filho do deputado estadual por vários mandatos, figura de proa da política acreana desde os anos 50 do século passado, Raimundo Hermínio de Melo e de dona Laudi. Engenheiro Civil, ingressou na vida política em 1969, filiando-se ao MDB e, em 1980, com a abertura política, ao PMDB. Quando desenvolvia sua carreira profissional, na condição de engenheiro, na empresa Construtora Mendes Júnior, foi chamado pelo governador eleito em 1982, Nabor Júnior, para ocupar o posto de prefeito de Rio Branco, no período de 1983- 1986, quando o titular ainda era indicado pelo governo estadual.
Ascensão
Ainda em 1986 foi eleito governador do Acre, sucedendo Iolanda Fleming, que havia assumido o Palácio Rio Branco quando Nabos Júnior se desincompatibilizou para a disputa do Senado.
Em 1990 foi eleito senador. Passou por graves problemas de saúde em 1991, tendo que se afastar alguns meses do Senado, mas retomou o mandato demonstrando forte resiliência.
Embates
Em 1994 disputou mais uma vez o governo do Acre, mas foi derrotado por Orleir Cameli. Sofreu nova derrota quando tentou se reeleger ao Senado em 1998, sendo vencido, desta vez, por Tião Viana. Ressurgiu politicamente em 2020, sendo eleito prefeito de Rio Branco e foi novamente derrotado na disputa para governo do estado, em 2002, desta vez por Jorge Viana, então candidato à reeleição. Em 2006 foi eleito deputado federal, sempre pelo MDB, sendo reeleito em 2010 e pela terceira vez em 2014.
Exéquias
A família do ex-governador do Acre e ex-senador da República, Flaviano Melo, informa que o corpo do presidente do MDB deverá chegar em Rio Branco amanhã, sexta-feira, 22 de novembro, às 22h. O velório será realizado no Palácio Rio Branco, provavelmente na noite de sexta-feira e no sábado, quando acontecerá o sepultamento no cemitério São João Batista, no jazigo da família.
Morada eterna
No Cemitério São João Batista estão sepultados seu avô paterno, Flávio Baptista; seu pai, o ex-deputado estadual Raimundo Hermínio de Melo, e sua mãe, dona Laudi Melo. Seu irmão, o ex-deputado federal por dois mandatos, de 1982 a 1990, falecido em Brasília, foi sepultado no Distrito Federal. Sua irmã, a ex-superintendente do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) no Acre, Othilia Melo, passa a ser única viva dos três filhos do casal de acreanos Raimundo e Laudi Melo.
Palpos de aranha
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, volta ao STF nesta quinta-feira (21) para explicar, pela segunda vez em oito meses, omissões e contradições em seu acordo de colaboração premiada fechado com a PF em 2023. Assim como ocorreu em março, o tenente coronel do Exército pode sair preso do depoimento.
Start
Militar foi intimado a depor às 14h no Supremo após a PF apontar violação de de cláusulas da delação. Como o acordo foi homologado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, cabe a ele analisar se houve algum descumprimento nos termos firmados. Na terça (19), a Polícia Federal ouviu Cid por cerca de quatro horas.
Consulta
A PF viu omissões em depoimento, mas não chegou a pedir rescisão da delação. A Polícia Federal enviou um relatório ao STF, e Moraes pediu uma manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre a validade do acordo a partir desse relatório.
Descoberta
A operação da PF ocorrida na última terça-feira, 19, expôs fatos que não haviam sido informados pelo delator. Investigadores descobriram um plano para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, além de novos detalhes sobre o monitoramento e até a tentativa de matar o ministro do STF em sua residência em Brasília, que, segundo a PF, foi colocada em prática e abortada.
Alheio
Nas oitivas que resultaram no processo de delação, Cid disse à PF desconhecer plano de assassinatos. Trocas de mensagens expõem participação do ajudante de ordens no monitoramento dos passos do ministro do STF. Ele afirmou no depoimento, porém, que o objetivo era descobrir se Moraes estava mantendo encontros com adversários políticos de Bolsonaro, o que reforçaria as teorias de conspiração para derrotar o então presidente nas urnas.
Descoberta
Nas descobertas que resultaram na operação de terça-feira, a PF encontrou documentos e rastreou iniciativas de militares que indicam plano de mortes e de golpe de Estado. Militares das forças especiais, um grupo de elite do Exército, chegaram a adquirir chips de celular em nomes de terceiros, viajaram para Brasília e foram até as proximidades na residência do ministro, tudo isso enquanto se comunicavam por meio de codinomes.
Trapaças
O Tenente coronel Mauro Cid já foi preso duas vezes. No início das investigações e após a delação, em 22 de março, após a revelação de um áudio no qual sugeriu ter sido pressionado pela PF. No áudio revelado pela revista Veja, o militar criticou e atacou Moraes e a polícia, afirmando que chegou a ser induzido a corroborar declarações de testemunhas.
Idas e vindas
Ao analisar o áudio revelado pela revista Veja, Moraes entendeu que ele descumpriu medidas judiciais e tentou obstruir a Justiça com seus relatos. Ao saber da ordem de prisão o delator passou mal e chegou a desmaiar, precisando ser atendido pela equipe médica do STF. Cid foi solto dois meses depois após alegar arrependimento pelos áudios. Um dos benefícios do acordo de colaboração é que ele fique em casa, e não na prisão, desde que cumpra algumas condições como não entrar em contato com outros investigados e se recolher à noite, além de falar o que sabe às autoridades.
Desfecho
Se acordo de delação for rescindido, depoimentos e provas entregues por Cid seguem válidos. Anulação implicaria a perda de benefícios do tenente coronel, que decidiu colaborar com as autoridades em 2023 após ver seu pai e sua mulher na mira de investigações da PF sobre fraudes no cartão de vacinação — o que o levou à prisão pela primeira vez em maio daquele ano. Ele foi liberado quatro meses depois após firmar a colaboração.