Luciano da Silva carregava os gêmeos Ângelo e Lorenzo enquanto caminhava pela rua alagada e foi ajudado pelos moradores para não ser levado pela correnteza. Casa da família foi inundada após o transbordamento do Igarapé Judia
Os gêmeos Ângelo e Lorenzo têm apenas 2 meses, mas já enfrentaram um grande perigo nessa quinta-feira (23). A casa onde a família mora, no bairro Recanto dos Buritis, em Rio Branco, foi alagada pela enchente do Igarapé Judia. Para sair de casa com os filhos, o autônomo Luciano Cunha da Silva precisou de ajuda dos moradores para não ser levado pela correnteza.
Um vídeo que viralizou nas internet mostra o autônomo segurando os bebês com um abraço e o outro braço se agarra aos vizinhos que formaram uma corrente humana para ajudá-lo. Pelo menos seis pessoas seguram o pai em meio as águas.
A reportagem conversou com a esposa de Luciano, Angélica de Paula. Ela conta que a água subiu muito rápido, o marido só teve tempo de retirar o carro da garagem e quando voltou para buscar os filhos a água estava dentro de casa.
“A correnteza da água estava muito forte, foi formada uma corrente humana para ajudar”, contou a esposa de Luciano e mãe das crianças, Angélica Silva de Paula.
A cheia do Rio Acre e o transbordamento de sete igarapé já afetam 27 mil pessoas. A Prefeitura de Rio Branco decretou situação de emergência nesta sexta-feira (24). Os decretos foram assinados na sede da prefeitura pela prefeita em exercício, Marfisa Galvão e devem ser publicado na próxima edição do Diário Oficial do Estado (DOE).
A dona de casa conta que dormia com o marido e os filhos quando a água começou a subir. Ela foi acordada pelo tio do marido, que também mora na casa, e orientada a começar a retirar os pertences. Além deles, a avó do autônomo, de 87 anos, também mora na residência e foi retirada em uma caixa d’água.
“O tio dele acordou a gente dizendo que a água estava chegando, que era para tirar o carro, a gente levantou, ele tirou e quando voltou a água já estava subindo. Foi muito rápido. Foi questão de segundos. Ele conseguiu tirar as roupas dos meninos, armários e outras coisas ficaram tudo lá. Não sei o que vai ser servir e o que não vai”, relembrou.
Angélica e a família estão na casa de um amigo no bairro Triângulo Velho. Ela disse que o berço de um dos bebês foi levado pela água e conseguiu retirar apenas as roupas das crianças.
“As coisas de casa ficaram todas. A cama dos outros quartos, da avó do meu esposo, conseguimos suspender, mas não sabemos como ficou. Não sei ainda o que fazer, quando eu voltar lá para ver e vamos saber que providência tomar. Importante é vida, eles estão bem”, destacou.
Enchente
Os estragos deixados pela forte chuva que atingiu Rio Branco nas últimas horas são muitos. Pontos de alagamento, rompimento de trecho na BR-364 estão entre os prejuízos. São cerca de 7 mil famílias de 36 bairros de Rio Branco atingidas. Além disso, pelo menos, 15 comunidades rurais da capital foram afetadas.
Os igarapés que transbordaram em Rio Branco, são: Almoço, Judia, São Francisco, Dias Martins, Batista, Fundo e Liberdade.
A prefeitura montou nove abrigos em escolas para receber as famílias desabrigadas e trabalha para abrir mais dez.
Até última atualização, 60 famílias estavam desabrigadas, totalizando cerca de 270 pessoas. Já entre desalojadas, ou seja, que foram removidas de locais alagados e levadas para casas de parentes, a Defesa Civil calcula que passam das 600 famílias.
A chuva começou na madrugada dessa quinta-feira (24) e até às 6h desta sexta, segundo a Defesa Civil do município, já choveu um acumulado de 187,2 milímetros, o que representa mais de 90% de todo o esperado para março, que é de 270,1 milímetros.
Com o volume de chuva, além dos igarapés, o Rio Acre subiu mais de seis metros em poucas horas. Na medição feita às 12h desta sexta, o manancial marcou 16,06 metros, acima da cota de transbordo, que é de 14 metros.
Energia elétrica suspensa
A Energisa Acre informou que mais de 4,4 mil clientes estão com a energia elétrica desligada por medida de segurança no início da manhã desta sexta (24). Os bairros mais afetados são Recanto dos Buritis, Transacreana, Conquista e Distrito Industrial.
“O trabalho é realizado em conjunto com a Defesa Civil, Bombeiros e prefeituras, com monitoramento da situação 24 horas por dia. O desligamento da rede elétrica é uma medida de segurança para a população e necessária para evitar acidentes elétricos, inclusive, com risco de morte. Diante da redução de nível dos rios e igarapés, as equipes avaliam as condições para restabelecer o fornecimento aos clientes”, diz em nota.
A empresa ressalta que os clientes devem registrar as ocorrências sobre interrupção de energia ou de alagamento nos canais de atendimento, para que as equipes possam realizar os serviços necessários.