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“Vamos até as últimas consequências”, diz moradora de área de invasão ao cobrar regularização de terras no Acre

“Vamos até as últimas consequências”, diz moradora de área de invasão ao cobrar regularização de terras no Acre

Moradores de área de invasão que fica entre os bairros Irineu Serra e Defesa Civil, em Rio Branco, se preparam para cumprimento de ordem de reintegração de posse

Os moradores da área de invasão do bairro Irineu Serra e Defesa Civil, chamada popularmente de Terra Prometida, vivem um impasse em busca da regularização da região em Rio Branco. A área é do governo e a Justiça determinou que a Polícia Militar e oficiais cumpram a reintegração de posse e retire as famílias que invadiram o local.

A área é ocupada irregularmente desde 2021. Um levantamento da Secretaria de Estado de Habitação e Urbanização (Sehurb) aponta que há 360 casas, que ocupam 273,4 mil metros quadrados, construídas nas áreas. São mais de 300 famílias morando no local e já plantaram hortaliças, verduras, frutas e abriram até estrada.

“Não temos para onde ir, então, vamos até o último recurso, espero que não venham com violência porque não somos bandidos, mas, o que pudermos fazer para garantir nosso lar, vamos fazer, é nosso direito. Vamos até as últimas consequências”, disse Maria Liberdade Santos da Silva, uma das primeiras moradores do local.

Maria tem sete filhos, com idades entre 4 e 25 anos. Uma das filhas dela, inclusive, já casou no local, teve dois filhos e tomou um pedaço de terra para ela. “Vamos fazer o que puder para reverter a situação. Se não tiver como e tirarem a gente, vamos morar na Assembleia [Legislativa do Acre]”, destacou.

A moradora reafirmou que as famílias não têm para onde ir e não aceitam ser colocadas no aluguel social. Preocupada, a comunidade está acampada e alerta para não ser retirada sem um local digno para morar.

“Sabemos que a intenção deles é varrer a gente como se varre um lixo que não tem serventia para nada. Governador fez uma live zombando da nossa cara e vamos brigar pelo nosso direito. Eles têm direito de reintegração de posse, mas e o nosso direito? A lei nos ampara com moradia, e cada nosso direito?”, questinou.

Na última sexta (11), a comunidade fechou as principais ruas do Centro de Rio Branco em protesto. O governou informou que foi oferecido colocar essas famílias no aluguel social, mas os manifestantes não aceitaram a proposta. O ato iniciou por volta de 9h desta sexta-feira (11) e terminou às 17h43. A entrada do Terminal Urbano foi interditada e os ônibus ficaram impedidos de circularem.

posse 002Manifestantes se recusam a ir para aluguel social e pedem regularização de terras — Foto: Murilo Lima/Rede Amazônica Acre

Em nota, o governo, por meio da Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp), afirmou que ‘o cumprimento do Mandado de Reintegração de Posse na Estrada do Irineu Serra, onde atualmente cerca de 300 famílias ocupam o local, da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Rio Branco, está sendo efetuado exclusivamente por meio dos oficiais de justiça’.

“As forças de segurança pública agem apenas com o papel de garantir a segurança física dos funcionários da justiça e dos trabalhadores, bem como garantir a ordem pública”, diz o comunicado.

Reivindicação é antiga

Em junho de 2022, os moradores da região fizeram um ato em frente a Casa Civil.

Em setembro do mesmo ano, os moradores da Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra (Aparis) alertaram para os impactos por crimes ambientais, como queimadas e derrubadas, e agora também com invasão, já que estão montando casas em torno da comunidade.

As casas de madeira estavam sendo construídas às margens da Estrada Irineu Serra e o problema se arrastava desde junho, segundo a associação de moradores do bairro.

Conhecida por ser uma comunidade onde se originou o daime, a área de proteção ambiental tem mais de 908 hectares de terra e foi criada em junho de 2005.

Em outubro de 2022, mais uma vez, moradores protestaram na praça do Centro de Rio Branco para evitar despejo e pedir que o governo do estado regularize a ocupação, que se arrasta desde junho.