Rio Acre marcou 1,43 metro nesta sexta-feira (29) na capital. Saerb informou que está em processo de fechar convênio com universidades para realizar um estudo aprofundado do solo de Rio Branco para perfuração de poços
Com o Rio Acre há 40 dias abaixo de 2 metros em Rio Branco, pelo menos 17 mil pessoas já são afetadas pelo desabastecimento de água. A estimativa é da Defesa Civil Municipal, responsável pela Operação Estiagem, que já atendeu 4 mil famílias em 27 comunidades nas zonas urbana e rural da capital acreana. Porém, segundo o coordenador Coronel Cláudio Falcão, o número pode ser ainda maior.
Altas temperaturas e a seca do rio acabam dificultando o abastecimento de água em bairros da zona urbana, mas mais ainda na zona rural de Rio Branco, onde a água potável tem sido levado, desde julho deste ano. Isso porque o abastecimento da capital depende exclusivamente do Rio Acre.
“Se o Rio Acre baixar muito, tem que pensar em outra ação, porque ele é a única fonte de água para Rio Branco. Hoje não tem Plano B. Nós estamos já fechando um convênio com o Ufac e UnB para que a gente faça um estudo de solo. A gente não pode depender somente do Rio Acre. Se depois desse estudo, ficar constatado que não tem água no solo de Rio Branco, vamos ter que pensar num outro plano para poder acumular água para poder usar no verão. A priori, o Rio Acre está dando conta. Ainda não é um problema grave, é um problema mediano, que a gente só tem que se preocupar com mais motores e mais bombas potentes”, afirmou Enoque Pereira, diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb).
O Rio Acre chegou, nesta sexta-feira (29), a 1,43 metro. Questionado sobre a possibilidade de um racionamento de água em meio à estiagem que persiste, Pereira destacou que essa medida depende diretamente do comportamento do Rio Acre nos próximos meses.
Operação Estiagem
No Acre, os cenários extremos são esperados pelas autoridades e conhecidos como “verão amazônico”, que inicia no segundo semestre com altas temperaturas, má qualidade do ar e seca dos rios, e “inverno amazônico”, marcado por fortes chuvas, inundações e cheias do rio. Pensando nisso, desde 2021, a prefeitura mantém a Operação Estiagem, que consiste em levar água potável para as comunidades que não são abastecidas pelo sistema de água.
Essas comunidades, geralmente, dependem de poços para ter acesso à água e, durante a estiagem, esse poços ficam secos. Então, semanalmente, por dois ou três dias, os carros-pipas passam nessas áreas abastecendo as caixas d’água dos moradores com água potável.
Um dessas pessoas beneficiadas é a aposentada Mariusa Conceição Lopes Pereira, de 66 anos, que mora na Vila Manoel Marques, na zona rural, há 13 anos. Ela conta que durante o inverno, bebe água da chuva porque mil litros de água sai a R$ 80.
“No verão entra o caminhão-pipa na comunidade e isso essa água para tudo; tomar banho, lavar roupa, lavar louça, porque nesse período não tem água aqui”, conta. Mesmo diante de uma seca, ela disse que já teve período piores, quando o açude chegou a secar. “Tendo a água na caixa, eu vou abastecendo a casa de baldinho em baldinho.”
Clairton Luiz tem uma padaria na Vila Manoel Marques e disse que a ação de levar água pra comunidade é o que ajuda neste período.
“Esse período aqui é considerado o pior, porque geralmente quem vem pra cá não quer ficar, logo procura outro meio, outro lugar pra morar, devido a dificuldade da água. Com essa estiagem de chuva, pela graça de Deus, o que tem salvado é o serviço da prefeitura, que tem fornecido a água pra gente, duas, três vezes na semana. Não tem deixado faltar. Esse suporte tem muito acolhedor aqui pra gente, não só aqui pra gente no nosso ramal, mas pra toda essa vila”, pontua.
Ele conta que usa cerca de dois mil litros por semana e que, se não fosse a operação, o gastos com esse abastecimento extrapolariam o seu orçamento.
“A gente usa tanto pra os serviços domésticos, dentro de casa, lavar roupa, pro almoço e a gente tem mais coisa, como também pro nosso trabalho na padaria. E tem sido um suporte fundamental, porque se abaixo de Deus se não fosse isso, nós teríamos dificuldade muito grande. Nós teríamos que comprar mil litros, que daria R$ 80. E isso duas vezes na semana, não tem condições.”
Estudo para poços
Enoque Pereira, diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), afirmou que a equipe do Saerb mantém uma comunicação constante com o Serviço de Água e Esgoto do Acre (Saneacre) para monitorar os níveis do rio nos municípios vizinhos, como Assis Brasil, Brasileia e Xapuri. Se o Rio Acre apresentar uma redução significativa de volume, medidas alternativas serão necessárias.
O gestor revelou que, diante da atual situação, o Saerb está em processo de fechamento de convênios com a Universidade Federal do Acre (Ufac) e a Universidade de Brasília (UnB) para realizar um estudo aprofundado do solo de Rio Branco. O objetivo é avaliar a presença de água em solos rasos e profundos, com a subsequente prospecção e perfuração de poços, a fim de estabelecer uma reserva de água que possa servir como contingência em caso de necessidade.
A dependência exclusiva do Rio Acre para o abastecimento de água não é sustentável a longo prazo. O diretor-presidente salientou que a busca por alternativas, como a sondagem do solo e a criação de reservas de água, é fundamental para garantir o fornecimento de água durante os períodos de estiagem.
Período de estiagem
O diretor-presidente ressaltou a natureza cíclica desse problema de estiagem em Rio Branco, afirmando que a cidade enfrenta a escassez de água anualmente. Ele comparou a atual situação com a seca do Rio Acre no ano anterior, quando o manancial atingiu seu ponto mais crítico, com apenas 1,25 metro de profundidade.
Atualmente, o rio registra 1,43 metros, o que, segundo Pereira, indica que a situação poderia ser ainda pior se não fossem algumas chuvas esporádicas que ajudaram a aumentar o nível do rio temporariamente.
Ele explicou ainda que o maior desafio enfrentado pelo Saerb é a variação acentuada do nível do Rio Acre. “As bombas têm uma capacidade de vazão e pressão, então quando o rio baixa, ela perde a capacidade de volume de água.”
Pereira mencionou as medidas adotadas para enfrentar essa situação, incluindo a adição de uma bomba extra e um planejamento para garantir o fornecimento de água à população. No entanto, ele reconheceu que nos últimos dias tem sido desafiador, com a capacidade de captação de água reduzida a 1.530 litros por segundo, em comparação com a capacidade máxima de 1.600 litros por segundo.
Ele também destacou a importância de evitar o desperdício de água, lembrando que Rio Branco produz o dobro da média nacional em água, mas ainda enfrenta escassez devido ao alto consumo durante o verão.
Quando questionado sobre os bairros mais afetados pela estiagem, Pereira mencionou que a parte alta da cidade, incluindo Tancredo Neves e Placas, tem enfrentado dificuldades devido à baixa vazão de água. No entanto, ele mencionou medidas recentes para solucionar o problema, incluindo a instalação de uma bomba adicional, que deve normalizar o abastecimento em breve. Também foram identificadas situações pontuais em áreas como o Segundo Distrito, Calafate, Bairro da Paz, Mocinha e Tucumã, que receberam reforços na captação de água.
Decreto de emergência
Por conta da forte estiagem deste ano, a prefeitura de Rio Branco decretou situação de emergência em áreas da capital acreana atingidas pelo desabastecimento de água. O decreto foi assinado pelo prefeito Tião Bocalom na quarta-feira (27), e cita “baixos índices pluviométricos indicando estiagem mais crítica e prolongada, diminuição do nível dos rios e baixa umidade do ar”.
Ao assinar o decreto, Bocalom também falou que uma das medidas a serem implementadas será a pesquisa de viabilidade para a perfuração de poços no Primeiro e no Segundo Distrito de Rio Branco. Esses poços, segundo o prefeito, podem garantir abastecimento de água durante o ano todo.
O documento também cita um parecer da coordenadoria municipal de Defesa Civil, que relata a possibilidade de piora no cenário. Portanto, segundo a prefeitura, é preciso tomar medidas preventivas e também emergenciais para atender as comunidades afetadas.