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Queimadas diminuem no Acre, mas ainda causam piora na qualidade do ar

Queimadas diminuem no Acre, mas ainda causam piora na qualidade do ar

Professor Willian Flores, da Universidade Federal do Acre, ressalta que a cultura de uso do fogo para a queima de lixo e outros materiais ainda é o principal fator nos índices de poluição do ar, mesmo que índices sejam menores que em anos anteriores

No Acre, a influência dos focos de queimadas na qualidade do ar em 2023 é menor do que em anos anteriores, mas ainda é responsável por picos nos índices de poluição do ar. A análise é do professor Willian Flores, da Universidade Federal do Acre (Ufac), doutor em Ciências de Florestas Tropicais.

Flores explica que o estado tem registrado mais chuvas do que o normal para o período de verão amazônico, o que contribui para que os municípios consigam manter a qualidade do ar dentro do considerado normal pela Organização Mundial da Saúde, que é de 15 microgramas de partículas por metro cúbico de ar.

Nesta quarta-feira (27), às 8h30 da manhã, apenas Acrelândia e Santa Rosa do Purus estavam acima desse índice, com 21 µg/m3 e 17 µg/m3, respectivamente. Os números constam no mapa da Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar do Acre, mantido por meio de parceria entre Ufac e o Ministério Público do Acre (MP-AC).

As duas maiores cidades acreanas, Rio Branco e Cruzeiro do Sul também aparecem com índices de poluição do ar acima de 10 µg/m3. Os quatro pontos de monitoramento na capital marcaram 10, 8, 7 e 0 µg/m3, enquanto em Cruzeiro do Sul os três pontos ficaram em 14, 10 e 6 µg/m3.

Flores ressalta que, além das chuvas, problemas nos sensores dos municípios também podem afetar os registros. Apesar de ter apenas um município com índice de poluição além do considerado saudável, o professor explica que o estado ainda apresenta picos de poluição, principalmente no leste.

“Esse ano, está um pouco menos [o índice de queimadas]. Esse ano, o problema que estamos tendo é climático. Estamos tendo mais chuvas do que deveria, de vez em quando tem um temporal. Ainda bem, porque estamos em um momento muito crítico de temperatura do ar. Se tivéssemos essas duas coisas, temperatura alta e baixa umidade, teríamos um desastre. Incêndios florestais, queimadas. A temperatura está alta, mas a pluviosidade está acima da média. Isso tem ajudado a ter menos queimadas. Está mais ou menos na metade do que aconteceu no ano passado. Isso tem contribuído um pouco com a melhoria dos índices de qualidade do ar. Embora, por causa da temperatura, a gente tenha a cultura do uso do fogo na Amazônia, que é cultural”, avalia Flores.

No dia 9 de setembro, Rio Branco teve um pico de concentração de 83 microgramas por metro cúbico de material particulado. À época, o professor e pesquisador da Ufac, Foster Brown, alertou para os efeitos que a exposição à poluição nesses índices pode causar à saúde humana.

“Pode afetar a capacidade cognitiva, e ser um potencial para causa de câncer, entre outras situações, além de problemas respiratórios. Não necessariamente esse impacto vai ser imediato, muitas vezes, as consequências da poluição do ar são demoradas. Por exemplo, no caso de mulher grávida, que o feto está exposto a uma situação problemática”, explicou.

Queimadas

Em 2023, o Acre já registrou 4.350 focos de queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), após alcançar o segundo maior índice da série histórica em 2022, com 11,8 mil focos.

Somente no mês de setembro, até esta quarta-feira, os satélites já detectaram 2.702 focos, sendo o maior índice do ano até o momento. Ainda assim, setembro teve uma redução em relação ao mesmo mês em 2022, quando 6693 focos de queimadas foram detectados. Esse foi a maior marca daquele ano.

“Está quente, fez um dia de verão, vamos tocar fogo no que a gente puder. Aí você começa a queimar lixo, áreas ao redor, sobretudo em Rio Branco, que tem muito terreno baldio, isso traz os problemas que a gente tem. Porém, aparentemente, não estamos tendo naquele padrão que vínhamos tendo em outros anos. Aquela fumaça na Amazônia, generalizada, carregada pelos fluxos de ar, que nós tivemos nos últimos anos. Esse ano está sendo atípico, mas temos, sim, picos”, explica o professor.

Ainda conforme Flores, a questão cultural ainda é determinante para que o fogo siga sendo utilizado como ferramenta de limpeza e descarte de materiais. Os responsáveis pelas práticas tendem a pensar que apenas uma queimada não pode ser prejudicial, e acabam contribuindo para um contexto mais amplo.

“Nós fizemos uma análise, em um artigo que vamos lançar, a gente relaciona as queimadas à piora da qualidade do ar. No Acre, considerando focos de calor, temos uma relação de 80% entre o aumento da quantidade de material particulado e o aumento de focos de calor. Infelizmente, o cidadão pensa: vou queimar meu quintal, no que isso vai contribuir? É apenas um monte de lixo que tenho aqui. Só que ele não se dá conta que mil pessoas estão pensando a mesma coisa, na mesma hora. Se eu junto esse monte com outros mil, se esse monte estiver perto de terreno baldio, pode causar uma queimada grande. Que é o que acontece muito, em Rio Branco, por exemplo, próximo à Cidade do Povo, aquelas áreas sempre pegam fogo”, finaliza.