Ele é autor da ideia de um mercado chamado “Pegue e Não Pague”, na Cidade do Povo, para distribuição de alimentos aos mais necessitados
No dia em que completa 75 anos de idade, com 46 deles dedicados à Igreja Católica no Acre, o italiano de Luca, região na Toscana, Máximo Lombardi pediu a seus amigos e seguidores que lhe dessem como presente de aniversário um pouco mais de isolamento social como contribuição ao combate à pandemia do coronavirus. O padre elogiou a prefeita de Rio Branco, Socorro Neri (PSB), e o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), pelas decisões tomadas até aqui, com a edição de decretos propondo o isolamento social, mas não deixou por menos o presidente da República, Jair Bolsonaro, e a própria Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac), através de seus deputados estaduais.
O presidente, segundo o padre, faz pouco caso da doença, chegando ao desplante de se recusar a usar máscara em seus deslocamentos promovendo aglomerações, como fez no último domingo (31 de maio), numa cidade do interior de Goiás. Os deputados estaduais acreanos, que aprovaram lei permitindo abertura de igrejas com até 30% de capacidade de lotação, na avaliação do religioso, também estariam contribuindo para o que ele considera um verdadeiro genocídio, com o risco de aumentar ainda mais os números de perdas de vida para a doença.
“Penso que, neste momento de pandemia, as igrejas, tanto católicas como evangélicas, devem permanecer fechadas. Há tecnologias que permitam tanto a evangélicos como a católicos fazerem suas orações em suas próprias casas, com muito mais isolamento”, disse.
Morador da Cidade do Povo, em Rio Branco, o padre é criador do mercado “Pegue e não Pague”, um método de distribuição de roupas e alimentos, além de outros produtos que chegam ao mercadinho através de doação. Os produtos são expostos e as pessoas vão pegando de acordo com o interesse e a necessidade. “É a forma que encontramos de a Igreja contribuir na assistência aos mais prejudicados pela pandemia”, disse o padre.
Além dos produtos e alimentos, o padre vem distribuindo máscaras de tecido no bairro. As doações são possíveis a partir de convênios com costureiras locais. “Já distribuímos mais de duas mil máscaras”, disse Lombardi.
Natural da região central da Itália, onde está a Toscana de seus pais já falecidos e de dois irmãos que agora já são avôs, Máximo Lombardi chegou ao Brasil, vindo direto para o Acre há 46 anos, atendendo a um convite do então bispo prelado do Acre, dom Moacyr Grechi, que assumiu a prelazia local com um déficit de padres e convidou jovens religiosos a virem ajuda-lo. “Eu era um deles. Só sabia do Brasil por literatura sobre a fascinante região Amazônia. Aqui cheguei, gostei e decidi ficar. Minha pátria hoje é o Brasil e o meu coração é acreano. É aqui que quero ser sepultado”, disse.
Máximo Lombardi sabe que aqui e acolá é apontado como um padre de esquerda, ligado ao PT (Partido dos Trabalhadores). Diz não se importar com isso. “Fiz uma opção pelos pobres, como fez nosso Senhor Jesus Cristo, que vivia entre os mais humildes. Qualquer pessoa que faz isso hoje, como naqueles tempos, é acusado de ser de esquerda, de ser comunista, como nos acusam agora. Eu prego o evangelho entre os que mais necessitam”, disse. “Hoje, querem politizar tudo e isso me preocupa muito, em todos os sentidos”.