Cerca de 37 bairros de Rio Branco e 27 comunidades rurais estão atingidos pela cheia do Rio Acre. Marca foi alcançada na medição das 6h desta quarta-feira (29)
O nível do Rio Acre segue em alta em Rio Branco e marcou 17 metros na medição das 6h desta quarta-feira (29), segundo dados da Defesa Civil Municipal. São 16 centímetros a mais em 24 horas e três metros acima da cota de transbordo, que é de 14m. Mais de 3,5 mil pessoas estão desabrigadas.
O rio passou da cota de transbordo na última quinta-feira (23). Desde então, o manancial continua subindo e já atinge mais de 38 mil moradores de Rio Branco. As águas do rio chegaram no Calçadão da Gameleira.
A aposentada Gecina Henrique Alves de Abreu, de 76 anos, mora no Bairro Quinze, um dos atingidos pela cheia do rio e estava nesta quarta no Calçadão olhando a situação do rio.
“Já vi alagação maior do que essa. Já vi a água passando dessa rua na frente do Calçadão. Até agora, a água não chegou na minha casa, não sei se vai chegar esse ano. A gente fica assim, porque é uma mudança muito repentina. Tenho vizinhos e conhecidos que perderam muita coisa, situação muito triste, calamitosa mesmo, gente que não tem nem o que comer.”
Milhares de desabrigados
Ao todo, são 992 famílias com cerca de 3.551 pessoas desabrigadas. Ainda segundo a Defesa Civil de Rio Branco, 1.223 famílias com 3.980 pessoas estão desalojadas por conta da enchente, ou seja, que foram levadas para casas de parentes ou amigos.
Nas últimas 24 horas, choveu 4,2 milímetros em Rio Branco. Desde quinta, quando as chuvas intensas começaram a atingir a capital, resultando em enxurrada de igarapés e cheia do rio, já são mais de 280 milímetros, mais do que o total esperado para todo o mês de março, que era de 270,1 mm.
Os estragos deixados pela chuva foram muitos. Pelos menos 37 bairros atingidos, vários pontos de alagamento, rompimento de trecho na BR-364 estão entre os prejuízos. Além disso, 27 comunidades rurais estão atingidas, com 3,8 mil pessoas de 963 famílias.
Rio Branco tem 39 abrigos em escolas e no Parque de Exposições Wildy Viana com famílias atingidas pela enchente do Rio Acre e enxurrada dos igarapés.
A servidora pública Jeani Silva mora no bairro Habitasa, uma das localidades onde as águas do manancial já começaram a invadir. Ela mora com o marido e dois filhos, e conta que foi afetada diretamente pela enchente apenas na de 2015, quando a marca histórica de 18,40 metros foi alcançada. Para se prevenir de possíveis prejuízos materiais, já começou a subir móveis e eletrodomésticos.
“Já está aqui tudo suspenso, não tem mais nada dentro de casa, só esperando aqui os desígnios de Deus e a gente teve esse momento de oportunidade de subir tudo. Suspendemos tudo em cima, uma parte aqui de trás que está tudo suspenso. A gente já fez essa prevenção, com a água já chegando na rua, muitos colegas de trabalho vieram aqui e nos ajudaram nesse momento, só gratidão. Todo mundo mostra o amor pelo próximo, ajudando sem olhar a quem”, disse.
Com a subida do Rio Acre e o acúmulo de balseiros, a Ponte Juscelino Kubitschek, conhecida como Ponte Metálica, foi interditada na noite dessa segunda-feira (27), em Rio Branco por medida de segurança. Enquanto isso, o tráfego na Ponte Coronel Sebastião Dantas está em mão dupla, assim como na Epaminondas Jácome.
Quatro municípios acreanos decretaram situação de emergência: Rio Branco, Assis Brasil, Brasiléia e Epitaciolândia. No sábado (25), o governo federal reconheceu a situação de emergência em Rio Branco por causa dos estragos causados pelas chuvas.