O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) reuniu autoridades da saúde e profissionais da imprensa, nesta quinta-feira (28), para trazer a público o resultado
da investigação feita por especialistas a respeito do quadro de adolescentes acreanos que apresentaram graves reações adversas após tomar a vacina contra o HPV.
Durante toda a manhã parlamentares, gestores públicos e representantes do Sindicato dos Médicos do Acre (Sindimed), Conselho Regional de Medicina, Defensoria Pública do Acre, associações médicas, puderam conhecer detalhadamente o diagnóstico.
Para a apresentação, vieram pessoalmente consultores da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e gestores da imunização do Ministério da Saúde. A procuradora-geral de Justiça, Kátia Rejane de Araújo Rodrigues, abriu o encontro ao lado do promotor de Justiça Glaucio Oshiro, titular da Promotoria Especializada de Defesa da Saúde.
O estudo foi feito por uma equipe de 17 profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, conduzidos pelos pesquisadores José Gallucci Neto e Renato Luiz Marchetti, do Instituto de Psiquiatria da USP. Por videoconferência, eles explicaram a metodologia das avaliações médicas, os fatores causais das manifestações convulsivas e a correlação dos sintomas com a imunização.
Desde o final do semestre passado, jovens estavam sendo enviados à cidade de São Paulo, onde foram submetidos a exames neurológicos, observação da atividade cerebral e avaliação neuropsicológica. No total, dentre os que apresentavam sintomas mais graves, 12 foram escolhidos para passar por análise da equipe multiprofissional da USP.
No relatório final, os especialistas descartaram qualquer relação causal biológica com a vacinação e atribuíram os sintomas a fatores psicossociais, causados sobretudo por situações de estresse relacionadas à desconfiança com a vacinação. Segundo eles, trata-se de uma reação psicológica, o que se desencadeou um tipo de patologia chamada crise não epiléptica psicogênica, diferente de epilepsia, que afeta o sistema nervoso.
Acompanhamento e tratamento
Desde o início o MPAC vem acompanhando a situação e apurando os relatos que chegaram de adolescentes que apresentaram agravos semelhantes após receber a vacina. Diante das dificuldades para obterem atendimento na rede pública de saúde, a intervenção do MPAC foi crucial para que o Estado desse atenção ao problema com estudos para desvendar as causas dos sintomas e providenciar o devido tratamento.
“Nós acompanhamos o diagnóstico que foi realizado na USP com os profissionais, conversamos diretamente com eles, para elucidar os problemas. O MPAC continuará fazendo esse monitoramento, essa fiscalização e propondo a consolidação dos fluxos de atendimentos, dos algoritmos a serem fechados entre as equipes técnicas do município e do estado, a fim de que se possa resgatar a saúde das famílias que foi de algum modo agravada”, disse o promotor de Justiça Glaucio Oshiro.
Consultora no escritório central da Opas em Washington, Maria Teresa da Costa garantiu que a vacina é segura e condenou falsas informações, que, segundo ela, tornam-se empecilhos para o combate, principalmente, do câncer do colo do útero.
“Mantemos a nossa afirmação de que é uma vacina segura. E o segundo ponto é que o câncer do colo uterino está matando milhares de mulheres na nossa região, anualmente, e essa vacina tem a possibilidade de proteção de 100% para os tipos de HPV existentes. O câncer mata, e a vacina previne. E que é importante ser vacinado jovem, bem antes de ter contato com o vírus”, afirmou a consultora.
No final da tarde, as autoridades de saúde, acompanhadas da procuradora-geral de Justiça, Kátia Rejane, e do promotor de Justiça Glaucio Oshiro, entregaram ao governador Gladson Cameli o relatório produzido pela equipe de especialistas, com recomendação para consolidar o atendimento de saúde aos adolescentes.