Volume de chuvas acumulado em novembro ficou abaixo do esperado, e não há indicativos de que ocorram com regularidade nos próximos dias. Alejandro Fonseca considera possível que fenômeno seja efeito das mudanças climáticas causadas pelo ser humano em todo o planeta
O mês de dezembro, assim como o fim de ano em geral, é conhecido por ser a época chuvosa na Amazônia. Porém, as chuvas esperadas a partir do mês de outubro, quando começa o chamado “Inverno Amazônico”, ainda não chegaram à regularidade esperada. A situação deve continuar dessa maneira pelo menos nos primeiros dias deste mês.
“Ainda não tem características de chuva condizentes com o que é esperado para o mês chuvoso. Mais chuvas estão por vir, dezembro um tanto, mas o inverno é em janeiro e fevereiro, que costuma chover 300 milímetros. Nesses primeiros dias [de dezembro], a gente não tem visto a regularidade das chuvas. Está longe do normal”, destaca o professor e meteorologista Alejandro Fonseca, da Universidade Federal do Acre (Ufac).
Na capital acreana, o nível do Rio Acre segue acima de três metros após um longo período próximo à cota histórica registrada em 2022, de 1,24 metro. Na medição das 6h desta segunda-feira (4), o rio chegou a 3,49 metros.
Apesar da subida no nível do rio, segundo o professor, toda a Amazônia Ocidental segue sob os efeitos da seca prolongada. Ele ressalta ainda que, no Acre, o volume de chuva esperado para novembro chegou apenas à metade.
“Do ponto de vista de como se dividem as estações do ano aqui, período seco, período chuvoso, e verão e inverno Amazônico, já estamos no inverno a partir do mês de outubro. Mas, este ano, todo mundo viu as consequências de uma seca que se prolongou por mais de 5 meses, não somente aqui no Acre, na Amazônia Ocidental. Em Rondônia, secou o Rio Madeira e outras partes da calha do Solimões. A Amazônia Ocidental foi afetada por uma seca prolongada, além do que é característico desse período. Então, a gente ainda está em período seco. Esse mês que acabou, novembro, nós deveríamos ter tido, pela climatologia, chuvas de 200 milímetros. Teve lugares que não chegaram a 100 milímetros, outros chegaram a pouco mais de 100. É difícil fazer um prognóstico de como vai acontecer o Inverno Amazônico se ele nem começou ainda”, declara.
Outro aspecto ressaltado por Fonseca diz respeito à repetição do verão prolongado no estado. O professor relembra que o período seco já havia se estendido em 2022, mas em menor intensidade do que o registrado neste ano.
Essas mudanças, de acordo com o especialista, acendem o alerta para a ocorrência de eventos climáticos extremos, que ficam cada vez mais frequentes. Mesmo assim, ainda é difícil fazer avaliações sobre a sequência do ano, segundo o professor.
“Ano passado não foi tão seco, mas também teve seca estendida. A calha do Solimões teve impacto, não como esse ano. É o segundo ano consecutivo, esse pior que o ano passado. Agora estamos na expectativa, mas dar prognóstico de como será o inverno é difícil nessas circunstâncias. Porque, de repente, chegam eventos de chuva que deveriam ser o acumulado do mês, e chove em um dia”, avalia.
Alerta
Fonseca diz ainda que esses eventos extremos do clima se tornam cada vez mais visíveis em todo o planeta. Ele cita ainda a situação enfrentada por municípios do Rio Grande do Sul, que, ao contrário do Acre, passaram por mais uma enchente.
Para o professor, os prejuízos com situações de seca e enchentes são fruto da falta de atenção aos alertas em relação a emergências climáticas feitos ao longo de décadas. Fonseca ressalta que o planejamento e ações efetivas contra desigualdade social podem contribuir para amenizar esses efeitos.
“É muito complicado, os governos, as cidades não se adaptaram como deveriam para enfrentar essa mudança, e fazer a resiliência das cidades, como cidades que precisam de mais água. Também tem muita desigualdade social, muita gente que ainda mora à beira dos rios, então, quando vem um evento extremo, são os primeiros atingidos. Essa readaptação não aconteceu, não fizeram a resiliência das cidades, todas essas coisas estão fora do que era esperado, mas porque não acreditavam e as medidas não foram tomadas”, finaliza.