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Mais 50 venezuelanos chegam no interior do Acre e agrava crise migratória, diz prefeito

Assis Brasil tem a maior taxa de contaminação de Covid-19 e prefeito teme pela saúde pública. Cidade está enfrentando problemas com fluxo de imigrantes retidos devido às fronteiras com o Peru estarem fechadas

O prefeito de Assis Brasil, Jerry Correia, confirmou que um grupo de mais 50 venezuelanos chegaram na cidade na manhã desta quinta-feira (18) agravando ainda mais a crise migratória na cidade que faz fronteira com o Peru.

Maior taxa de contaminação de Covid no Acre e crise migratória; entenda o drama de Assis Brasil

A chegada coincidiu com a autorização do governo federal para o uso das Forças Armadas na cidade. Nos últimos dias, a tensão na fronteira tem aumentado, porque imigrantes, em sua maioria haitianos, tentam atravessar para o Peru, cujas fronteiras estão fechadas por causa da pandemia do novo coronavírus.

Porém, o prefeito diz que, mesmo com as fronteiras fechadas, o Peru ainda autoriza a saída dos imigrantes para o lado brasileiro. “Estamos aqui recebendo 50 venezuelanos que entraram via Peru, ou seja agravando mais a situação. O Peru não permite o ingresso de estrangeiros, mas permite a saída, então temos que abrigar.”

Com a chegada das Forças Armadas na cidade, o prefeito diz que precisa ser montado uma tenda para atender os imigrantes e frear a entrada deles na cidade. A preocupação é por conta das medidas de segurança sanitária.

As duas escolas usadas como abrigos para os imigrantes já estão superlotadas. Até esta quinta, 270 imigrantes estão nos abrigos e mais 150 continuam acampados na ponte que liga a cidade ao Peru. Outros estão espalhados dormindo nas ruas da cidade, segundo o prefeito.

“Esses 50 venezuelanos devem ir para abrigos também. Nossa preocupação foi depois do caso da haitiana que ficou em estado gravíssimo da Covid, o quadro evoluiu em questão de poucas horas. Precisamos das Forças Armadas para atender essas pessoas, precisamos montar um acampamento, tendas, a exemplo do que aconteceu em Roraima, porque a prefeitura não tem capacidade de atender tanta gente”, disse.

Assis Brasil é a cidade com a maior taxa de contaminação a da Covid-19 no Acre. De acordo com o boletim da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) da quarta-feira (17), são 1.376 casos para cada 10 mil habitantes na cidade. Em todo o município, há 1.037 casos confirmados e 12 mortos.

h2 webPrefeito diz que imigrantes continuam chegando pela fronteira — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

‘Caos social’

Com medo do avanço da Covid-19 na cidade, o prefeito diz que, juntamente com uma equipe da Sesacre, foi decidido que será feita a testagem em todos os imigrantes.

“É um caos social. Nós estamos com metade da equipe da assistência social de quarentena, são pelo menos cinco pessoas afastadas. O governo vai ajudar na testagem desses imigrantes, mas o problema não é a quantidade de testes, mas sim a logística. Estamos com dois abrigos, não temos mais espaço físico e precisamos ter um plano de testagem, precisamos pensar em uma nova estrutura para ser montada e levar esses imigrantes positivados para lá”, explica.

A ideia é que o governo monte uma estrutura de atendimento a esses imigrantes. O prefeito confirmou que equipes da Defensoria Pública da União (DPU) e do Ministério do Desenvolvimento Social devem estar na cidade até a tarde desta quinta para avaliar a situação.

“O governo federal deve montar uma estrutura grande aqui, uma estrutura suficiente para atender essas pessoas dentro do contexto da pandemia. Não é só questão de receber os imigrantes, mas temos uma população que está apreensiva e com medo de ter uma tragédia no que diz respeito a saúde pública e só o governo federal tem como montar um verdadeiro campo de refugiados. É impossível, impensável, a prefeitura fazer isso.”

atende2 webTensão na fronteira aumentou no último domingo (14) — Foto: Reprodução/Rede Amazônia Acre

Rotas

São duas situações que fazem com que o número de imigrantes cresça na cidade de Assis Brasil; a primeira, a de imigrantes que entraram no Brasil entre 2010 e 2016 em busca de uma vida melhor e, com a crise da pandemia, tentam sair do país para seguir viagem até México, Canadá, Estados Unidos e outros países.

A segunda é que o Peru, mesmo fechando a passagem para a entrada de imigrantes, libera a saída deles para o lado brasileiro.

policia webGefron segue fazendo segurança da ponte do lado brasileiro — Foto: Jefson Dourado/Arquivo pessoal

Notas

Em nota, a embaixada do Peru no Brasil informou que o país está com as fronteiras fechadas para evitar a propagação da Covid-19. O documento diz ainda que a embaixada entrou em contato com as autoridades municipais, estaduais e federais no Brasil para que as mesas entrem em um acordo com os estrangeiros para que eles desocupem a ponte e voltem para os abrigos na cidade acreana. Ainda segundo a nota, o fechamento das fronteiras é uma das principais medidas de combate ao novo coronavírus naquele país.

O Itamaraty disse que tem mantido contato com as autoridades peruanas sobre o assunto, mas que o país diz que vai manter as fronteiras fechadas.

“Em função do agravamento da pandemia do novo coronavírus, as fronteiras terrestres do Peru encontram-se fechadas para o ingresso de estrangeiros não residentes, por decreto daquele país. O Itamaraty tem mantido contato com as autoridades peruanas sobre o tema, nos mais diferentes níveis, as quais têm reafirmado a situação de fechamento fronteiriço no contexto da crise sanitária.

O Ministro das Relações Exteriores participou de reunião informal, por videoconferência, a pedido de parlamentares do Acre, que transmitiram sua preocupação com a situação de migrantes no Estado que buscam cruzar a fronteira para o Peru. Também participaram representantes do governo do Acre e da prefeitura de Assis Brasil.”

Imigrantes em Assis Brasil

No domingo (14), um grupo de imigrantes que chegou a ter cerca de 400 pessoas deixou os abrigos que ocupavam em Assis Brasil e se concentraram na Ponte da Integração, na fronteira com o Peru. Os imigrantes tentavam deixar o país, mas foram barrados pelas autoridades peruanas.

Na terça-feira (16), os imigrantes enfrentaram a polícia peruana e invadirem a cidade de Iñapari, no lado peruano da fronteira. Depois de confronto, o grupo foi reunido pelos policiais peruanos e mandados de volta para Assis Brasil. Parte do grupo aceitou voltar para os abrigos cedidos pela prefeitura, mas alguns imigrantes seguem ocupando a Ponte da Integração.