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Jovens se passam por imigrantes para vivenciar experiência de refugiados nas ruas do Acre

O grupo também levantou recursos para ajudar os venezuelanos que estão em Rio Branco. Projeto partiu de uma igreja da capital

Sentir na pele como é depender da solidariedade das pessoas para conseguir um prato de comida foi a proposta de um projeto de jovens de uma comunidade evangélica de Rio Branco.

Nesta quinta-feira (12), os jovens foram às ruas da capital e se passaram por imigrantes que precisam pedir dinheiro em semáforos para sobreviver no Acre.

Além do ensinamento, os jovens também levantaram recursos que foram revertidos em doações aos refugiados que vivem no estado.

O grupo conseguiu comprar dois sacolões e doou para os imigrantes instalados, há quase um mês, em um prédio em ruínas no bairro Base, região central da capital acreana. Os venezuelanos passaram a ocupar o prédio quando foram despejados da casa onde viviam por falta de dinheiro pro aluguel.

No Acre, os venezuelanos buscam refúgio da crise que atingiu o país nos últimos anos. Com a entrada, é comum encontrá-los nos semáforos pedindo ajuda financeira para bancar as despesas pessoais.

“Foi uma experiência muito interessante pelo fato que, às vezes, se entra com uma expectativa sem saber se vai conseguir alguma coisa, algum trocado, e é muito difícil. O que mais me animou no projeto foram algumas pessoas que gostam de ajudar. Isso dá uma motivada nas pessoas. Teve rejeição, algumas pessoas olharam para gente como se não existíssemos”, relatou o estudante de arquitetura Jonathan Andrade.

predio abandonado webSem terem para onde ir, venezuelanos se instalaram em prédio abandonado no bairro Base, em Rio Branco — Foto: Luizio Oliveira/Rede Amazônica Acre

Projeto

A ação é parte do “Projeto Eu Cuido”, da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O tema da quinta-feira foi: ‘Refugiados por um dia – Sentido na Pele’. A ideia foi proposta pelo pastor Abraão Rosa.

O pastor contou que os jovens já saíram de casa sem tomar café e se alimentariam do que conseguisse na rua.

Ao final do dia, o grupo tinha conseguido uma refeição pela manhã de graça, compraram almoço com parte do que arrecadaram e o restante compraram dois sacolões para os venezuelanos.

“O objetivo era sentir na pele aquilo que as pessoas sentem todos os dias, só que de uma forma menor porque foi apenas um dia. Foi muito interessante o impacto que eles tiveram. Dentro do nosso projeto, acompanhamos durante todo dia com vídeo e fotos, colhemos o depoimento do que mudou neles no ponto de vista”, frisou.

O estudante Pedro Lucas Ferreira foi outro que aderiu a ideia e foi para as ruas. Ele disse que aprendeu a dar valor as pequenas coisas que tem, inclusive um prato de comida.

“Fomos no prédio, conversamos um pouco com eles, entregamos os sacolões e perguntamos do que precisavam. Disseram que precisam de fraldas porque tem muitas crianças lá, de frango ou peixe, roupas e essas coisas. Pra nós, geralmente, um prato de comida não é tudo, mas para eles é tudo”, concluiu.

sacoloes webGrupo comprou sacolões para os venezuelanos instalados em prédio — Foto: Raí Lima/Arquivo pessoal

Venezuelanos no Acre

O estado e a prefeitura de Rio Branco já receberam uma recomendação do MP-AC para construir um abrigo para os indígenas instalados no estado. O documento foi expedido pelos Ministérios Público estadual e federal, além das Defensorias Pública do Acre e federal. O prazo era de 15 dias.

No final de janeiro o governo acreano recebeu uma representante da União para debater as formas de ajuda e atendimentos aos refugiados.

O encontro ocorreu em Rio Branco com representantes do Ministério Público (MP-AC), Defensoria Pública, Secretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres (SEASDHM) e outras instituições de Direitos Humanos do estado.

A Defensoria Pública da União (DPU) informou que, mesmo após a recomendação, nada foi feito. O órgão disse ainda que pediu à prefeitura da capital acreana que criasse um cronograma com as medidas a serem tomadas, mas não recebeu nenhuma resposta oficial. O mesmo ocorreu com o governo do estado.

Com isso, a DPU pensa em mover uma ação judicial para que os direitos dos imigrantes sejam respeitados. Mesmo com a promessa de ajuda as famílias continuam na mesma situação e sonham com uma vida melhor.