Indígenas da etnia Kaxarari registraram um boletim de ocorrência por racismo e agressão praticados, supostamente, por um segurança da Igreja Batista do Bosque (IBB). Administração da igreja nega e diz que evento era fechado e estudantes não tinham ingressos
Três indígenas da etnia Kaxarari registraram um boletim de ocorrência por racismo e agressão praticados, supostamente, por um segurança da Igreja Batista do Bosque (IBB), na Estrada do Calafate, em Rio Branco. Os rapazes alegaram que foram impedidos de entrar no templo na última quinta-feira (25) e participar do culto.
A igreja realizou uma conferência com a presença de cantores e outros religiosos de fora entre a última quinta e sábado (27). Contudo, o evento não era aberto ao público e só podia participar quem comprou ingresso antecipadamente. A administração do templo negou que o segurança tenha agido com preconceito e agredido os rapazes. (Veja o posicionamento completo abaixo)
“Nos quase 66 anos de igreja nunca tivemos nenhum caso de agressão e ainda mais em forma de racismo. Primeiro, não tem nenhuma igreja que ajude mais pessoas na África do que a gente, somos os únicos no Acre. 99% dos nossos pastores são negros e como é que a Batista é racista?”, afirmou o administrador da IBB, Gemil Júnior.
O g1 conversou com o líder indígena e tios dos rapazes, Celso Kaxarari. Segundo ele, os sobrinhos ficaram bastante abalados e não querem dar entrevista.
Ele contou que os três indígenas estão em Rio Branco há mais um ano fazendo faculdade. Eles são do distrito de Extrema, em Rondônia, moram próximo à catedral e costumam frequentar os cultos. Na quinta, os estudantes saíram cedo da faculdade e quando estavam voltando para casa resolveram parar na igreja.
“Como é caminho, já têm o costume de parar na igreja, pararam como outras vezes a convite de um amigo. Encostraram e estavam colocando a bicicleta, como não tem bicicletário, acorrentada em uma árvore. O segurança chegou agredindo, ficou com deboche falando que se eles queriam orar que fosse para outro lugar”, relatou o líder indígena.
Ainda segundo Celso, o segurança agrediu o sobrinho de 20 anos fisicamente e os demais verbalmente. Além disso, o homem se apresentou como policial militar e chegou a colocar a arma em punho durante a abordagem.
O segurança chegou a pedir que os indígenas se afastassem dos carros. “Já chegou acusando, mandando sair de perto do carro, sendo que os meninos não estavam perto do carro, estavam na árvore tentando colocar o cadeado na bicicleta. Primeiro agrediu fisicamente, depois verbalmente, pedindo para os meninos se afastarem, que ali não era lugar pra eles. Falaram que tinham ido só orar, mas [o segurança] falou para irem orar para lá, que o evento era para quem tinha dinheiro e tinha que pagar”, lamentou.
Segurança se desculpou
Celso diz que recebeu uma ligação de um dos sobrinhos relatando o que tinha acontecido e pedindo orientação. Como estava viajando, o tio pediu para que os sobrinhos aguardassem ele chegar para decidirem o que fazer.
No sábado, o indígena foi com os sobrinhos à catedral e conversou com o segurança. Segundo ele, o homem chegou a se desculpar pela abordagem, mas se negou a passar a identificação. Depois da conversa, Celso levou os sobrinhos até a Delegacia de Flagrantes (Defla) para registrarem um boletim de ocorrência.
“Me identifiquei e pedi pra entender o que tinha acontecido. Ele disse que tinha errado, tentou chegar perto dos meus sobrinhos, mas falei que não, que perto deles não chegaria mais. Ele falou que era policial militar. Falei que, justamente, por ser policial militar tinha consciência e treinamento profissional para abordar as pessoas, como tinha chegado já agredindo. Ele não falou nada, ficou só ouvindo, não quis se identificar”, confirmou.
Movimentação estranha
Ainda segundo Gemil Júnior, os seguranças da igreja perceberam uma movimentação no estacionamento entre os carros e foram verificar o que era, foi quando encontraram os indígenas. Os rapazes pediram para participar do culto, se identificaram como estudantes indígenas e foram informados que o evento era fechado.
Júnior alega que os seguranças negaram qualquer agressão e abordagem constrangedora e toda situação foi presenciada por alguns fiéis em frente da igreja.
“Conversei com a equipe da segurança, não teve agressão, no máximo o que aconteceu é que queriam entrar na igreja, se identificaram como indígenas, e ainda comentaram que indígenas não pagam, e informaram para eles que não era gratuito, não era um culto aberto, mas um evento feito por uma equipe da geração da igreja e que não teriam como entrar se não pagassem”, pontuou.
Júnior confirmou que a equipe de segurança na igreja é formada por fiéis que são policiais. Durante as folgas, os servidores públicos ajudam a manter a ordem no estacionamento e ao redor dos templos.
“Não sei se tinha gente armada porque coordeno toda equipe quando não é uma conferência, e quem organizou essa equipe foi a própria conferência. Perguntei para as pessoas que estavam lá na frente, todas elas afirmaram que não viram agressão”, alegou.
O administrador acrescentou que a igreja vai aguardar a notificação e responder nos autos. “Não teve agressão, o pastor acredita na equipe, na conferência, na instituição e, como foi feito um B.O, vamos responder juridicamente. Vamos aguardar a notificação, chamar as pessoas para testemunhar”, concluiu.