“Somos venezuelanos. Não temos nada para comer nem onde dormir”. É com essa frase, escrita em um pedaço
de papelão, que os irmãos Erick Campos, de 23 anos, e Renato Campos, de 22, circulam entre os carros nas ruas da capital acreana para pedir ajuda. A dupla chegou ao Acre de bicicleta fugindo da crise na Venezuela e trouxe na “mala” os dois cachorros de estimação.
Eles contaram ao G1 que deixaram o país porque a comida estava escassa, o negócio que tinham, um restaurante, faliu e a saída foi procurar outro país para viver. “Estava difícil. Não se conseguia alimentos, não tinha remédios”, contou Erick Campos, que é formado em gastronomia.
“Se tomava café da manhã, não sabia se almoçava, nem se comia à noite. É difícil”, lamenta.
Os irmãos estão no estado há pelo menos uma semana e, sem falar muito bem o português, resolveram pedir ajuda para sobreviver usando cartazes. Os dois saíram do país de origem há pouco mais de um ano e percorreram vários países da América Latina até chegar ao Acre passando pela Bolívia.
Mandar dinheiro para os pais na Venezuela
O objetivo dos irmãos é conseguir juntar dinheiro nos semáforos para poder comer, comprar adereços para fazer malabarismo e começar a trabalhar. Eles querem também enviar algum dinheiro para os pais, que estão na Venezuela, e fazer reparos nas bicicletas.
Do Acre eles devem seguir para Rondônia onde pretendem encontrar outros dois irmãos. Após o encontro, eles seguem todos juntos para São Paulo (SP).
Com o que recebem no sinal com doações, os dois contam que conseguem R$ 40 por dia. Com esse valor eles pagam um quarto em uma pensão onde estão hospedados e compram comida. O pouco que sobra, eles tentam comprar os acessórios que precisam para trabalhar.
Família
Filhos de pai psiquiatra e mãe psicopedagoga, os dois não aguentaram a situação de crise e resolveram pegar as bicicletas e sair do país. Eles não sabem dizer quantos quilômetros percorreram para chegar ao Acre, mas, as condições das bicicletas mostram o quanto foi difícil a caminhada até o estado acreano.
Erick conta que a família era bem estruturada e que o pai abriu o restaurante para que ele e o irmão pudessem trabalhar. O empreendimento sobreviveu por três anos, mas, quando a crise se agravou, eles não tiveram condições de continuar.
Foi quando os dois decidiram ir embora. Há um ano eles pedalam em bicicletas sem freio, com celas em pedaços, e tentam encontrar uma maneira de ganhar a vida e poder ajudar os pais que ficaram para trás.
Ao todo, eles são quatro irmãos. Os outros dois chegaram antes no Brasil e esperam por Erick e Renato em Guajará-Mirim, interior de Rondônia.
“Vamos trabalhar para melhorar a situação e regressar à nossa terra para exercer minha profissão, pois sou formado em gastronomia, mas por aqui meu diploma não vale nada”, lamenta.
Renato, que cuidou dos dois cachorros que os acompanham durante a jornada, disse que diante de tudo o que está vivendo atualmente com o irmão, seu grande sonho é poder voltar para casa e ficar junto da família novamente.
“O que queremos é conseguir o nosso equipamento e seguir viajando pela América, conhecendo costumes e culturas para depois voltarmos. Quero regressar quando a situação tiver melhor, quando a situação econômica estiver mais estável e reconstruir a vida, construir uma família”, conclui.
Portal G1/AC