Uma nova oportunidade para alunos de escolas públicas e privadas do Acre entrou em vigor na Universidade Federal (Ufac).
O Conselho Universitário (Consu) aprovou a resolução n° 25, de outubro de 2018, que implanta o bônus de 15% na nota final do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para estudantes que residem no Estado. A ideia é promover inclusão regional, permitindo que acreanos tenham mais competitividade em relação aos candidatos de outros locais.
O acadêmico de Direito Gabriel Barros Fernandes, 19 anos, foi um dos beneficiados. Ele disse que sua nota melhorou consideravelmente, embora conseguisse aprovação mesmo sem os 15%. O universitário destacou que consegue ver a importância do bônus para Medicina, já que a grande maioria dos aprovados é de outros estados.
“Muita gente vê o bônus como sectarismo, como se fosse uma cota para alunos acreanos, só para privar pessoas de outros lugares de adentrarem a Ufac. Mas não é. Trata-se de uma questão socioeconômica e educacional, já que a educação local não se compara com a de outros Estados”, disse Gabriel.
A medida abrange também as escolas dos municípios de Guajará e Boca do Acre, no Amazonas, e dos vilarejos de Nova Califórnia, Extrema e Vista Alegre do Abunã, em Rondônia.
Com base em um levantamento cedido pela pró-reitora de Graduação, Dra. Ednaceli Damasceno, é possível destacar a evolução, entre 2018 e 2019, do ingresso de estudantes locais nos cursos mais concorridos. Para ela, o bônus de inclusão regional estaria dissipando a desigualdade existente no acesso à universidade.
“No segundo semestre de 2018 não houve ingresso de alunos acreanos no nosso curso de Medicina. Com a inclusão regional, quase metade da turma do primeiro semestre de 2019 foi composta por estudantes do Acre”.
Ednaceli ressaltou que esses acadêmicos foram os melhores estudantes de suas turmas no Ensino Médio e, por isso, possuem igual capacidade de permanecerem no curso em relação aos não beneficiados com o bônus. Por serem da região, quando concluírem a faculdade eles teriam maior probabilidade de se inserirem no mercado local, enquanto que os demais, muitas vezes, preferem retornar para o Estado de origem.
Por ser o mais disputado da Ufac, Medicina é o curso que mais atrai estudantes de outros estados. Renan Cavalcante de Lima, 18 anos, nascido no Acre, sentiu na pele essa concorrência quando fez pela primeira vez a prova do Enem, em 2017. Ele conta que ficou muito nervoso e não passou. Apesar de permanecer com os estudos, o desânimo foi inevitável. Assim que recebeu a notícia sobre o bônus de 15%, ganhou novo ânimo e garantiu sua vaga.
Filho de motorista de ônibus e merendeira de escola, o jovem revelou que um dos grandes incentivos para fazer Medicina foi os pais. “No dia que eu passei no vestibular, minha mãe desmaiou. Fui o primeiro da família a conseguir uma vaga na federal para esse curso. É uma profissão que tem muita oportunidade de trabalho e retorno financeiro. Acredito que o bônus regional vai ajudar a aumentar a gama de profissionais do Acre”, disse.
A turma de Renan possui 24 alunos com residência fixa no Estado, ao contrário das turmas anteriores, onde o número de estudantes locais é de um, dois ou três - em alguns casos, a quantidade chega a zero.
(Autores: Daiane Filocreão, Indira Alves, Ariane Almeida e Tiago Soares - acadêmicos de Jornalismo da Ufac)