Número alto de doenças respiratórias, umidade relativa do ar baixa, fumaça que impede de respirar. Por onde se passa
, não é difícil ouvir uma sinfonia de muita tosse e reclamação de tempo seco. Assim tem sido os dias dos acreanos desde que a quantidade de fumaça aumentou em todo o estado.
O problema é refletido principalmente pelos altos números de queimadas atendidas pelos bombeiros e unidades de saúde lotados. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, de janeiro até 20 de agosto, o Acre registrou 2.498 queimadas.
No boletim apresentado pela Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema), Feijó, Tarauacá e Sena Madureira aparecem entre as cidades mais críticas com 517, 394 e 261 focos de queimadas respectivamente.
Só entre 1º e 20 de agosto, Feijó registrou 489 queimadas; Tarauacá vem em seguida com 347 focos e Sena Madureira com 224 registros.
Alerta ambiental e doenças
A situação é tão crítica que no último dia 16, o governador Gladson Cameli decretou estado de alerta ambiental devido ao número de queimadas no estado e suas consequências. Dados dos sensores de monitoração mostram que atualmente o nível de poluição no ar está quase três vezes acima da qualidade ideal para a respiração.
A queima produz vários poluentes e substâncias tóxicas prejudiciais à saúde. Isso se reflete no número de casos de infecções respiratórias. Até 10 de agosto, 29.559 pessoas foram diagnosticadas com essas doenças. O número de denúncias registradas foi de 512.
Fumaça de países vizinhos
Vários registros mostram o período seco do estado. São cortinas de fumaça que permanecem sobre as cidades acreanas. Com o decreto de alerta, órgãos ambientais têm feito ações intensivas. Uma sala de situação foi montada e cada um trabalha em um plano de contingência.
A diretora executiva da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Vera Reis, explica que o Acre recebe fumaça também dos países vizinhos, o que piora ainda mais a situação.
“Tivemos um pouco de chuva em Tarauacá, Manoel Urbano e Santa Rosa, mas acredito que amenizou um pouquinho. A questão é que a gente também recebe fumaça da Bolívia e do Peru e todos os países estão em situação de alta criticidade, então acaba que a gente tanto emite fumaça pra eles como recebe fumaça deles e isso agrava a situação”, explica.
Além disso, Vera destaca que é preciso que as pessoas se conscientizem sobre como as queimadas são prejudiciais, ainda mais em um período quente e seco.
“O que a gente tá pedindo é que as pessoas, de fato, se sensibilizem, não queimem neste período de baixa umidade do ar, de temperaturas elevadas. Fora isso, é muito difícil”, pontua
“O fogo está na mão do povo, porque o governo só pode mesmo sensibilizar as pessoas para não queimarem. É uma questão cultural, estão queimando na cidade desnecessariamente”.
Ação intensiva
O Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) e o Batalhão Ambiental da Polícia Militar estão em uma ação intensiva, que deve envolver 30 pessoas.
“Estamos com todo pessoal em operação Feijó e Tarauacá. O MP [Ministério Público do Acre] nos municípios estão em parceria com todos os órgãos municipais e estaduais contra queimadas e derrubadas. Estamos agindo pelas regiões mais críticas, no caso, Feijó é a cidade mais afetada no momento com o fogo. Então, iniciamos pela região de Tarauacá e Envira”, explica o diretor-presidente do IMAC, André Hassem.
Animais mortos
Apesar de não ter números, o major do Corpo de Bombeiros Cláudio Falcão revelou que são inúmeros animais mortos durante os incêndios. De acordo com ele, são macacos, cobras, bichos-preguiça, entre outros, que morrem sufocados diariamente com a fumaça.
“Os animais morrem sufocados através da fumaça. Não temos estatísticas de animais mortos nas queimadas. Mas, temos encontrado, é inevitável”, lamentou.
A estiagem também revela outro problema ambiental: a poluição do Rio Acre. Medindo 1,57 metro na quarta-feira (21), é possível ver pneus, sapatos, garrafas pet e muito lixo que aparece quando o manancial fica raso.
Portal G1/AC