Equipe disse que não encontrou nenhum animal doente e que conversou com moradores da região e foi informado que não havia mais ocorrido fato parecido. Em análise preliminar, departamento acredita que não existe surto de nenhuma doença na região
Uma equipe do Departamento de Controle de Zoonoses do município de Rio Branco esteve no local onde macacos foram flagrados passando mal, ofegantes e caindo de árvore, na zona rural de Plácido de Castro, no interior do Acre, para fazer uma análise epidemiológica. O grupo com dois veterinários e três agentes de vigilância foi até a região no último dia 21.
A coordenadora do departamento, Ângela Portes, informou que a ideia foi verificar se existiam outros animais mortos no local e se havia ocorrido nova situação semelhante. Segundo ela, o município resolveu fazer a visita técnica como uma forma de apoio ao Núcleo de Zoonoses da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), que investiga o caso.
“Nós fizemos avaliação epidemiológica, fomos lá no local, observamos, e não encontramos nada de diferente. Não teve mais animais mortos, não encontramos animais ofegantes, conversamos com pessoas que moram nas redondezas e elas disseram que está tudo tranquilo e que todo ano, nessa época da chuva, eles encontram animais daquela forma. Então, essa avaliação da localidade mostrou indícios de que realmente não tem nenhum tipo de epidemia ou surto de nenhuma doença por lá”, afirmou a coordenadora.
Laudo de amostras dos animais
O Núcleo de Zoonoses da Sesacre ainda aguarda resultado dos exames das amostras enviadas para o Instituto Evandro Chagas, em Belém. Segundo o chefe do núcleo, Francisco Euzir da Costa, não há previsão para que o laudo com a confirmação da causa da morte dos animais fique pronto.
As amostras foram inicialmente enviadas ao Laboratório Central de Saúde Pública do Acre (Lacen) e, de lá, para o laboratório no Pará, que é referência no assunto.
“Nós só vamos ter alguma informação sobre o resultado quando o instituto fizer a análise das amostras do material que foi enviado. Só a partir dessa análise é que vamos ter certeza do que aconteceu, mas a gente suspeita, pelas características clínicas dos animais, que tenha sido febre amarela. No entanto, não podemos afirmar sem essa prova laboratorial”, informou Costa.
Flagrante feito por produtor
As imagens dos animais foram gravadas pelo produtor rural Ruan Vitor, de 30 anos, que andava por uma floresta na zona rural de Plácido de Castro, no interior do Acre, quando se deparou com a situação.
Achando que os animais estivessem feridos, o produtor gravou vídeos mostrando os macacos agonizando no chão. Ele chegou até a ficar isolado da família com receio de ter se infectado com alguma doença. As imagens foram feitas no fim de semana e chegaram até o Núcleo de Zoonoses, que enviou uma equipe até a cidade para investigar o caso no dia 15 de março.
Foram enviados três veterinários, sendo dois do Núcleo de Zoonoses do Acre e outro do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf), além de uma bióloga da Sesacre.
Ao chegar na cidade, os profissionais se juntaram a servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da saúde municipal, e Ruan Vitor. O produtor levou a equipe até o local.
“Quando chegamos no local, encontramos dois animais mortos, já em estado de decomposição avançado, os demais macacos que aparecem no vídeo já não estavam mais lá”, contou Costa.
Suspeita de febre amarela
Após a circulação do vídeo do caso dos animais, a Sociedade Brasileira de Primatologia se manifestou em uma nota, e informou que a suspeita inicial é de que se trata de infecção pela febre amarela, que é uma doença endêmica na região.
No documento, também assinado pela Sociedade Brasileira de Mastozoologia, pela Universidade Federal do Acre (Ufac), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo instituto for Zoo, as instituições destacam que não há evidências de que se trate de um caso relacionado à Covid-19 e citam que a febre amarela é endêmica da região.
Ao G1, a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia, Zelinda Hirano, falou sobre a preocupação dos especialistas com as possíveis interpretações com relação ao vídeo. Ela informou que os Bugios, conhecidos no Acre como Capelões, são animais sensíveis à febre amarela e que acabam atuando como sinalizadores dessa doença em regiões.
Conforme a nota, a Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde (CGARB/SVS/MS) e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/CPB) estão cientes e investigando o caso, conforme procedimentos técnicos e legais estabelecidos.
Ainda segundo o documento, os primatas também são vítimas de doenças e são “maiores sentinelas para a saúde humana”. Por isso, segundo a Sociedade, esses animais não devem ser afugentados, agredidos ou mortos. O recomendado é que a população não entre em contato, nem alimente os animais, tanto para proteção deles, como dos homens.