Médico alergista também alerta para medidas que podem contribuir para evitar sintomas mais graves. Na manhã desta sexta-feira (16), Rio Branco tinha a segunda pior qualidade do ar entre as capitais do país
Em meio à seca severa e a qualidade do ar que tem se mantido seis vezes acima do aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no estado, a capital acreana Rio Branco teve a segunda pior qualidade do ar entre as capitais do país na manhã desta sexta-feira (16), de acordo com a plataforma Purple Air, que utiliza sensores em diversos locais.
Conforme o aparelho instalado no campus da Universidade Federal do Acre (Ufac), um dos três utilizados na capital, o índice de partículas no ar de Rio Branco era de 64µg/m3 (microgramas por metro cúbico) por volta das 9h30.
O número só ficou atrás de Porto Velho, em Rondônia, que tinha 177µg/m3 no mesmo horário. Na plataforma, não constam os dados de pelo menos 12 capitais brasileiras.
Conforme o monitoramento, índices acima de 250 µg/m3 são classificados como alerta para emergência em saúde, com probabilidade de afetar toda a população em 24h de exposição. Ainda de acordo com o monitoramento, o índice em Rio Branco chegou a 99 µg/m3 na manhã de quinta-feira.
O g1 conversou com o médico alergista Guilherme Pulicci, que falou sobre os efeitos da exposição à fumaça e das doenças que podem se agravar a longo prazo.
O especialista chamou atenção para outro fator que contribui para uma piora do cenário: a baixa umidade do ar na região durante esse período.
Cenário preocupante
De acordo com Pulicci, o mínimo considerado pela Organização Mundial de Saúde para a umidade do ar é de 60%, sendo que o índice tem se mantido entre 20% e 30% em Rio Branco entre as 9h e as 19h.
Para o médico, isso significa que a prática de exercícios físicos ao ar livre pode ser prejudicial à saúde. E não só o sistema respiratório sofre com os sintomas: Pulicci destaca que a poluição também contribui para maior incidência de problemas cardiovasculares.
“A principal medida que a gente deve tomar nesse período é não sair para prática de exercícios físicos, porque desde as 9h da manhã às 7h da noite, a umidade do ar está abaixo do considerado normal pela OMS. O mínimo considerado pela OMS é 60%, e aqui ela varia entre 20 a 30%, muito abaixo do normal”, avalia.
Conforme o especialista, o período de aumento da fumaça originada pelas queimadas aumenta a incidência de doenças por contato direto com a fumaça, como conjuntivite (infecção ocular) e dermatite (infecção de pele), além de doenças respiratórias, como rinite, sinusite, crises asmáticas e até mesmo sintomas que não necessariamente acompanham uma doença de base, como tosse crônica.
Se os altos níveis de poluição se mantiverem, a tendência é que esses quadros piorem. Quanto maior a exposição, maior é a intensidade dos quadros clínicos, segundo Pulicci. A longo prazo, a contaminação do ar pode intensificar também a ocorrência de problemas renais e hepáticos. As máscaras cirúrgicas, que foram indispensáveis durante a pandemia de covid-19, não apresentam eficácia satisfatória na qualidade do ar.
“As máscaras comuns, as máscaras cirúrgicas, tem pouco efeito. Não vou dizer que não faz nenhum efeito, mas muito pouco, então a gente acaba não recomendando por conta da relação custo-benefício. As partículas que circulam, são muito pequenas e as máscaras cirúrgicas não são capazes de filtrar”, diz.
Outras dicas valiosas que o especialista destaca para o período de contaminação pelo ar, são:
1. Hidratar-se bem
“Água é importante para a gente, não só para o sistema imune mas para o sistema respiratório também. Os efeitos da fumaça não repercutem apenas no respiratório mas também no cardiovascular, então temos aumento na incidência de infarto nessa época do ano, vários estudos comprovam”, ressalta.
2. Dar preferência a alimentos que sejam mais nutritivos
“Frutas, legumes, verduras, alimentos ricos em água, até para fazer essa hidratação indireta”, destaca.
3. Vacinação
“Mantenha atualizado o calendário vacinal, porque a gente ainda tem doenças circulando na nossa região”, acrescenta.