Água do Rio Acre se misturou ao esgoto e lixo e agora traz riscos para saúde dos moradores. Recomendação da Saúde é que a população evite o contato direto com a água suja e fique atenta aos sintomas de doenças
Com a vazante do Rio Acre e o retorno de algumas famílias para casa, a preocupação agora é com a contaminação pela água do manancial que se misturou ao lixo e esgoto. Ao ter contato com essa água, os moradores podem pegar doenças como dengue e até leptospirose.
O nível do Rio Acre segue em baixa na capital acreana e marcou 15,40 metros na medição na tarde desta sexta-feira (7), segundo dados da Defesa Civil do município. Mais 29 famílias com cerca de 75 pessoas deixaram os abrigos nas últimas 24 horas.
Conforme os dados, 3.054 pessoas ainda estão desabrigadas por conta da enchente na capital acreana, totalizando 964 famílias. Esse número chegou a passar dos 3,3 mil. Rio Branco tem 36 abrigos públicos.
Após vários dias sem chuva, voltou a chover na capital nesta sexta. No acumulado dos sete primeiros dias de abril foram contabilizados 40,2 mm de chuva. O esperado para o mês de abril é de 195,9 mm.
Recomendações
Com a vazante, várias ruas de bairros na capital estão tomadas por lama e entulho. Como é o caso do bairro da Base, um dos atingidos pela cheia do manancial.
Em entrevista à Rede Amazônica Acre, a secretária-adjunta da Saúde Estadual, Ana Cristina, disse que a recomendação é que as famílias evitem ao máximo o contato direto com as águas contaminadas durante a limpeza das casas e estabelecimentos. Não sendo possível, o morador deve buscar uma unidade de saúde quando sentir qualquer sintoma de febre, dor de cabeça e no corpo.
“Estamos monitorando o que vem acontecendo, temos muito casos de dengue, a Covid está controlada, as pessoas estão vacinadas e, mesmo pegando, a maioria dos pacientes são assintomáticos. Temos a questão da leptospirose que preocupa muito nesse momento”, destacou.
Ainda durante a entrevista, a secretária-adjunta relembrou que as Uraps Maria Barroso, Cláudio Vitorino e Roney Meireles estão funcionando em horário estendido, das 7h às 22h, com médicos e policiais cedidos pelo governo do estado. Nestas, a vacinação contra a Covid-19 também estarão sendo aplicadas.
“As doenças estão se confundindo porque temos a dengue circulando, a própria Covid, tem o vírus de uma gripe e a leptospirose. Essas doenças apresentam sintomas muito parecidos, por isso repito: se você sente febre, dor de cabeça, dor no corpo procure nossas unidades de saúde que estão preparadas para atender. Um sintoma que é característica da leptospirose e não apresenta em outras doenças é dor na panturrilha. Outros sintomas como febre, dor de cabeça, dor no corpo é característica de outras doenças também”, frisou.
A Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco precisou fechar sete unidades de referência em atenção primária e unidades de saúde da família por conta da cheia do Rio Acre na capital.
Ana Cristina falou ainda que as equipes estão em uma força-tarefa para atender os moradores desde que as águas do Rio Acre começaram a subir. Profissionais da Vigilância em Saúde Ambiental dos Riscos Associados aos Desastres (Vigidesastres), do governo federal, esteve no estado auxiliando as equipes acreanas para identificar e tratar essas doenças pós-enchente.
“Estamos capacitando nossos médicos dentro das unidades para que possam atender essas doenças, nossos laboratórios também estão preparados para fazer as testagens e exames para identificar rapidamente o que é que está acometendo o paciente, se é dengue, leptospirose, Covid ou outros agravos para que a gente possa tratar de forma correta”, concluiu.
Afetados
Apesar da baixa no nível, a Defesa Civil de Rio Branco informou que cerca de 75 mil pessoas seguem atingidas pela enchente, que foi a maior dos últimos oito anos. A cota de transbordo na capital é de 14 metros e o rio ultrapassou essa marca no último dia 23 de março.
Mais de 12,1 mil pessoas estão desalojadas, ou seja, em casas de parentes e amigos.
Ao todo, 42 bairros da zona urbana de Rio Branco estão atingidos pela cheia do Rio Acre. Além disso, 27 comunidades rurais estão isoladas, com 7,5 mil pessoas de mais de 1,8 mil famílias.
Com a subida do Rio Acre e o acúmulo de balseiros, a Ponte Juscelino Kubitschek, conhecida como Ponte Metálica, foi interditada no dia 27 de março em Rio Branco por medida de segurança. A Ponte Coronel Sebastião Dantas também chegou a ficar fechada de sábado (1) até a manhã de terça-feira (4), quando foi reaberta e está em mão dupla.
Também por conta da enchente, a Secretaria Estadual de Educação suspendeu as aulas nas escolas públicas estaduais da capital por tempo indeterminado. A Secretaria Municipal de Educação de Rio Branco também suspendeu as aulas.
Oito municípios acreanos decretaram situação de emergência: Rio Branco, Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri, Sena Madureira, Porto Acre, Capixaba. No dia 25 de março, o governo federal reconheceu a situação de emergência em Rio Branco por causa dos estragos causados pelas chuvas e no dia 29 de março fez o reconhecimento da situação de emergência de Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri. Nessa terça (4), a união reconheceu o decreto de Assis Brasil.
No dia 26 de março, os ministros da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o secretário nacional da Defesa Civil, Wolnei Wolff, chegaram ao Acre para um sobrevoo pelas áreas alagadas. Eles percorreram os bairros, conversaram com moradores e garantiram a liberação imediata de R$ 1,4 milhão para ajuda humanitária.