Empresária e terapeuta ocupacional Clarisse Santos, de 33 anos, conta que começou negócio com apenas R$ 200 quando comprou uma saca de 25 quilos de farinha. A farofa dela é enviada para todo o Brasil
Farofa, pra que te quero! Um prato que não pode faltar na mesa de um bom acreano é a farinha, seja ela pura, em forma de farofa, acompanhada de um prato regional, são várias as maneiras de saborear essa iguaria.
E foi pensando nisso que a empresária e terapeuta ocupacional Clarisse Santos, de 33 anos, resolveu investir os últimos R$ 200 que tinha no bolso e começar um negócio próprio fazendo farofas saborizadas, com uma pegada gourmet, após ser demitida do emprego.
“No ano passado, durante a pandemia, perdi o emprego porque tive que viajar para acompanhar minha mãe em um tratamento de saúde. Aí, conversando com uma amiga que tem uma empresa no ramo similar, só que em outro estado, ela me deu a ideia de montar o mesmo negócio, só que eu fiquei estudando a parte de viabilização, pois o preço da farinha ficava muito caro,” lembra.
Com a ideia em mente, Clarisse resolveu voltar para o Acre e tentar colocar o projeto em prática, estudar o mercado e ver se o negócio tinha como ir para frente. Com ajuda da mãe, Sebastiana Bezerra, que é seu braço direito, resolveu se aventurar no novo negócio.
“Decidi voltar para o Acre, a gente mora na terra da farinha, quando eu cheguei estava de cara para cima, sem emprego, a pandemia batendo à porta, a crise também. Eu, com apenas R$ 200 que tinha em mãos, resolvi comprar uma saca de 25 quilos de farinha e um pouco de material. Depois comecei a vender na minha rua e começou a ter uma aceitação boa, então, iniciei desse jeito, com a cara e a coragem,” diz.
No início, ela ficou receosa de montar um negócio de venda de farofa, pois, segundo ela, o acreano tem o costume de comer farinha, mas gosta de fazer a sua própria farofa com seus ingredientes preferidos.
“A aceitação, a priori, assustou um pouco, algumas pessoas quando eu começava a falar perguntavam o que eu fazia e quando eu dizia que era farofa as pessoas não colocavam fé. Mesmo sabendo que o acreano gosta de fazer a sua própria farofa, resolvi investir e foi tendo uma boa aceitação. A gente traz a comodidade e a praticidade que o cliente quer de chegar no local e já ter a farofinha pronta. É só abrir a embalagem, comer e pronto.”
A empresa existe há nove meses e a empresária já começou a vender o produto para fora do estado. “Já entregamos para vários lugares do Brasil, porque acreano tem em todo lugar, mas não é só para acreano que a gente vende, viu?,” brinca.
Sabores e preço
Clarisse começou com seis sabores e não tem loja física, ela faz o produto em casa. A publicidade é ela mesma quem faz usando as redes sociais e pelo Instagram da loja.
“Comecei com o tradicional: alho, calabresa, bacon, banana e pimenta, aí fui vendo a aceitação e coloquei para vender em lojas físicas. Hoje conto com 10 pontos de vendas espalhados pela capital acreana, onde moro”.
A empresária diz que conversando com o pai pensou em criar uma receita nova para ser apresentada aos clientes apenas na Páscoa, mas, quando fez a nova receita, as pessoas começaram a procurar tanto que ela teve que antecipar e começar a vender.
“Ele deu a ideia de uma farofa de pirarucu, então, resolvi testar e incrementar e jogar banana em cima, postei e eu só ia abrir as encomendas na semana da Páscoa, só que a procura foi tão grande que comecei a fazer. Estou estudando a possibilidade de manter o sabor e deixar como carro-chefe, porque é uma farofa que representa muito bem a região Norte por causa da banana da terra, que é a nossa banana comprida, e o pirarucu, além da farinha, é claro”, acrescenta.
Os preços das farofas gourmet variam e as embalagens são vendidas em um único tamanho. “As embalagens têm 500 gramas e os preços variam de acordo com o sabor. A de alho, pimenta e a tradicional custam R$ 12, as de banana, calabresa e bacon custam R$ 13. A que criei para a Páscoa, a de pirarucu com banana frita, é somente por encomenda e 300 gramas custa R$ 12.”
A jovem deixa um recado para quem quer tentar abrir um negócio próprio e não tem coragem de começar. “Acreditar que é possível é motivo suficiente para começar e não desistir”, finaliza.
Selo de indicação geográfica
A tradicional farinha de Cruzeiro do Sul, base da economia da cidade, conseguiu adquirir o selo de indicação geográfica pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A informação foi confirmada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O projeto para adquirir o selo já durava mais de nove anos e resultado foi divulgado e agosto de 2017.
A Embrapa fazia parte do projeto na pesquisa de qualidade da farinha produzida na região. Mais de 800 casas de farinha foram mapeadas com o intuito de fornecer informações para a obtenção do selo.
A farinha de Cruzeiro do Sul recebeu, em novembro de 2017, o selo de indicação geográfica. O produto produzido no Acre foi o primeiro produto a receber esse selo, segundo a Embrapa.