Temporal atingiu a capital desde a tarde dessa quarta-feira (3) e previsão para esta quinta (4) é que chuvas continuem. Volume ainda não afetou o nível do Rio Acre, que registrou pequeno aumento
A cidade de Rio Branco foi palco de mais um característico temporal de inverno amazônico na tarde dessa quarta-feira (3), e que se estendeu até as primeiras horas desta quinta-feira (4). O acumulado de chuvas no período foi de 99,5 milímetros, segundo o monitoramento da Defesa Civil Municipal. Ainda de acordo com o órgão, o volume representa dez vezes o esperado para 24 horas.
Para esta quinta, as chuvas devem continuar, e a previsão é que o acumulado chegue a 50 milímetros. O volume ainda não afetou o nível do Rio Acre, que registrou um pequeno aumento entre quarta e quinta, saindo de 6,42 metros para 6,43 metros.
Moradora de uma área ao lado do Igarapé São Francisco, em Rio Branco, a cozinheira Rosimeire Rodrigues está apreensiva por conta das chuvas. É que no ano passado o igarapé foi um dos que transbordaram na capital acreana, e as águas invadiram a casa dela.
Rosimeire teme que a situação se repita este ano, e já se planeja para tentar evitar os transtornos sofridos em 2023. Ela diz que, caso o nível continue subindo, não vai esperar as águas alcançarem sua casa para se retirar do local.
“Eu não vou esperar entrar. Se chegar aqui no quintal, eu já tô saindo com tudo. [No ano passado] Eu saí daqui dentro de uma caixa d’água. Duas horas da manhã, não teve bombeiro, não teve ajuda de vizinhos que vieram me socorrer. Quando vai chegando essas datas de chuva, a gente já fica apreensivo, preocupado, se quando acordar à noite vai estar cheio de água”, relata.
O receio da moradora também é comprovado pelo acompanhamento da Defesa Civil de Rio Branco. À CBN Amazônia Rio Branco, o coordenador coronel Cláudio Falcão disse que apesar do Rio Acre ainda não estar sendo afetado pelo volume de chuva, os igarapés da capital acreana já estão em níveis elevados.
“Os igarapés aqui de Rio Branco estão bastante cheios, com um nível bastante elevado. Então, como nós ainda temos chuva nesse momento em alguns pontos, nós temos risco e potencial de essa água atingir diversas residências na cidade. Por isso, a gente deixou o alerta para a comunidade averiguar em relação à sua moradia, quem mora próximo aos igarapés, dos córregos, especialmente. Porque nós temos o risco de termos a água invadindo, dada a quantidade de chuva que se acumulou nas últimas horas. Então, apesar do nível do rio não ter aumentado significativamente, nós temos essa outra parte que é a quantidade de chuva e também o risco e potencial de enxurrar e atingir diversas residências”, alertou.
Considerando o monitoramento, a capital acreana já acumula 121,7 milímetros de chuva nos primeiros dias de janeiro:
- 1º de janeiro - 22 milímetros
- 2 de janeiro - sem registro de chuvas
- 3 de janeiro - 0,2 milímetros
- 4 de janeiro - 99,5 milímetros
Ainda segundo Falcão, as chuvas podem chegar até ao dobro do esperado para o mês, e reforça os cuidados e atenção para possíveis emergências.
“Nessas últimas horas, choveu dez vezes mais do que é esperado para um dia no mês de janeiro,. Então, nós temos, inclusive, acima de trinta por cento do que é esperado para o mês inteiro de janeiro chovido nas últimas horas. Tudo isso é um sinal de muito alerta para nós. No mês de janeiro, nós temos previsões de chover até o dobro do que é esperado e com isso, evidentemente muda e traz grandes riscos. Então, precisamos ter o máximo de cuidado possível, com esses cuidados a gente consegue superar a dificuldade que temos durante esse período”, acrescentou.
Risco de transbordamento
Em dezembro, quando começaram as chuvas regulares a Defesa Civil começou a alertar para a possibilidade de transbordamento do Rio Acre na capital. Entre os dias 20 e 21 de dezembro,, o nível subiu 1,36 metro, saindo de 6,88 metros para 8,24 metros. A Defesa Civil municipal também informou que ocorreu um acumulado de chuvas de 14,5mm nessas 24 horas.
O coordenador do órgão, tenente-coronel Cláudio Falcão, ressaltou em entrevista à Rede Amazônica Acre que o rio já acumula mais de 6 metros de aumento no mês de dezembro, o que acendeu o alerta para risco de transbordamento, principalmente nos próximos 15 dias, quando deve continuar chovendo regularmente.
“Nós temos observado com uma certa preocupação, haja vista a oscilação que ele teve. Nós estávamos no dia 1º de dezembro com 2,5 metros, hoje nós estamos com quase 8,5 metros. Então, nesses vinte dias de dezembro, aumentou seis metros. E o que nos chama a atenção também, é que nas últimas 48 horas ele aumentou 2,24 metros, com tendência de aumentar ainda mais. Por isso, a Defesa Civil emitiu um alerta ontem em relação à cota de atenção, por todos os alertas que nós recebemos também de outros órgãos, para que a gente fique em alerta durante o período de quinze dias. Durante esses dias, ele pode alcançar a cota de atenção, que é de 10 metros, ou pode ultrapassar e pode até chegar também na cota de alerta ou de transbordamento”, avaliou.
Eventos extremos
O Rio Acre voltou a subir e chuvas regulares começaram a ser registradas em dezembro após o estado passar um período de seca prolongada, que levou o nível do rio próximo à cota histórica registrada em 2022, de 1,24 metro.
Normalmente, o período chuvoso se inicia no mês de outubro, o que não aconteceu em 2023. Especialistas alertaram que toda a Amazônica Ocidental passou pelo fenômeno, e que eventos climáticos extremos devem se tornar cada vez mais frequentes.
De acordo com Falcão, a maior parte das inundações acontecem entre os meses de fevereiro e março, porém, de acordo com o monitoramento feito pela Defesa Civil, os dados indicam a possibilidade de enchentes já em janeiro, segundo os padrões de chuva detectados. Com isso, um plano de contingência já foi elaborado e será colocado em prática em caso de necessidade.
“A partir dos 10 metros, que tá muito próximo, nós já começamos a monitorar pelo menos seiscentas famílias em dez bairros. Então, a gente também começa já a se preparar para a construção de abrigos. Toda a situação de socorro preparada para essas famílias que podem, infelizmente, sofrer uma inundação e também um risco iminente de enxurradas”, alertou.