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Chuva que causou inundações em Rio Branco e afetou mais de 30 mil moradores foi evento extremo, diz pesquisador

Chuva que causou inundações em Rio Branco e afetou mais de 30 mil moradores foi evento extremo, diz pesquisador

Genivaldo Moreira é pesquisador da Ufac e falou que chuvas têm se intensificado ao longo dos anos, resultado das mudanças climáticas, entre outros fatores

A forte chuva que atingiu a capital Rio Branco nessa quinta-feira (23) foi um evento extremo que não é comum nesta época do ano. A análise é do professor da Universidade Federal do Acre (Ufac) Genivaldo Moreira. Ele explica que esses fenômenos têm sido mais recorrentes com o passar dos anos e elevam o nível do Rio Acre muito rápido.

Devido às chuvas, o nível do Rio Acre subiu de 9,76 metros, na manhã de quinta (23), para 16,26 metros neste sábado (25), ultrapasssando a cota de transbordo, que é 14 metros, na capital acreana. Em pouco mais de 24h, as águas subiram quase 7 metros.

Além da cheia do manancial, sete igarapés transbordaram e foram registrados vários pontos de alagamento área urbana e rompimento de trechos da BR-364. Entre os igarapés que transbordaram estão: Almoço, Judia, São Francisco, Dias Martins, Batista, Fundo e Liberdade.

Mais de 30 bairros foram afetados até a noite desta sexta-feira (24). Além disso, pelo menos, comunidades rurais da capital foram afetadas.

“O que aconteceu ontem [quinta-feira, 23] foi uma chuva recorde e que, geralmente, levava dois a três dias para elevar o nível do rio. Desta vez não, ocorreu que poucas horas depois inundou a cidade e isso demonstra a fragilidade do sistema de drenagem da cidade de Rio Branco e também mostra que o regime hidrológico também está sendo afetado por muitas ações, que entram as alterações climáticas, desmatamento e também há algo muito importante na questão climatológica”, destacou o professor de mestrado em ciência, inovação e tecnologia para a Amazônia, Genivaldo Moreira.

O recorde de chuvas na capital foi registrado em fevereiro de 2018, quando o acumulado de chuvas chegou a 624 milímetros, sendo que a previsão para o período era de 280 milímetros. Ele destacou também que a enchente histórica do Rio Acre, em 2015 quando o manancial chegou a 18,40 metros, foi registrada entre o final de fevereiro e início de março.

“Primeiro que é um evento extremo, que é quando foge do padrão e vemos isso na prática. Segundo, há muitos fatores contribuindo para isso. Um deles é resultado das mudanças climáticas que torna esses eventos cada vez mais intensos e recorrentes. O que aconteceu em Rio Branco foi totalmente fora do padrão, não é comum acontecer nesse período”, pontuou.

chuvas 002 webMais de 22 mil pessoas foram atingidas após forte chuva em Rio Branco — Foto: Eldérico Silva/Rede Amazônica

Rápida subida das águas

O professor chama a atenção também para a rápida subida no nível das águas do Rio Acre. Ele acrescentou que, quando chove muito nas cabeceira do manancial, é comum que essas águas cheguem à capital cerca de dois ou até três dias depois. Desta vez foi diferente.

“Foi pouco tempo, o que não é uma característica aqui da Amazônia, no que se ver em outros anos, a gente sabe de notícias que chove nas cabeceiras do rio e geralmente chega depois de dois dias em Rio Branco. Ontem foi evento totalmente diferente. Estamos saindo de um período de La Niña e estamos em um momento de neutralidade e a perspectiva é de que a gente passe para um fenômeno de El Niño e isso desregula um pouco o regime hidrológico, sobretudo aqui na nossa região que é muito impactada por esses fenômenos”, complementou.

O estudioso explica que existe o conceito chamado tempo de retorno, que está relacionado a probabilidade de ocorrência, ou seja, à média que leva para que determinado evento ocorra novamente. Ele exemplifica:

“Em fevereiro de 2018 aconteceu a maior chuva já registrada. Ela tinha um tempo de retorno em cerca de 65 anos, ou seja, a previsão era de que acontecesse em média a cada 65 anos. A que aconteceu ontem tem um tempo de retorno de aproximadamente 200 anos, então, a magnitude da chuva de ontem tem a probabilidade de acontecer 3 vezes a mais da que a aconteceu em 2018”, afirmou.

Segundo ele, essa probabilidade de novas chuvas como a que atingiu Rio Branco nessa quinta representa uma intensificação nos eventos climáticos. “A gente que estuda a área, olhando para os números, é assustador. A esperança é de que isso sirva de marco para a gente começar a discutir essa relação dos fenômenos hidrológicos com a sociedade, esse equilíbrio. As mudanças climáticas têm que começar a ser discutida em todos os âmbitos”, aconselhou.

chuvas 003 webRio Branco sofre com alagações e enchentes após fortes chuvas — Foto: Pedro Devani/Secom