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Brasil ganharia muito mais dinheiro com a Amazônia em pé

Matéria do jornal O Estado de São Paulo mostra que a floresta rende 35 vezes mais do que a pecuária e 3,5 vezes mais do que a soja

Se o Brasil preservasse a Amazônia e adotasse uma política de precificação de seus valiosos insumos florestais, um hectare de floresta renderia em torno de R$ 3,5 mil por ano, valor superior a 35 vezes o rendimento máximo de R$ 100,00 do mesmo hectare usado na pecuária e 3,5 vezes superior aos R$ 1 mil de rendimento máximo obtido com o plantio de soja na região.

Além de preservar o equilíbrio climático do planeta e ampliar a renda e a qualidade de vida de seus 25 milhões de habitantes, a valorização dos insumos florestais da Amazônia não impediria nem mesmo a expansão do agronegócio na Amazônia, como quer, por exemplo, o próprio governo Bolsonaro, uma vez que a região possui atualmente mais de 15 milhões de hectares de terras, equivalente a área de quase um Acre inteiro.

Degradada ao longo dos anos pela pecuária, essa área poderia ser muito bem usado para ampliar a produção agropecuária através de sistemas agroflorestais, sistemas integrados lavoura-pecuária e sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta, tecnologias exitosas que já vêm sendo aplicadas em alguns estados da Amazônia com o apoio da Embrapa.

A grande saída para se evitar o desmatamento da Amazônia e a extinção de seus preciosos ativos florestais e serviços ecossistêmicos é o alvo principal da importante matéria publicada nesta segunda-feira pelo jornal O Estado de São Paulo como manchete de sua página de Economia & Negócios, que diz que “Preservar a Amazônia é mais do que uma questão de ativismo: é um negócio muito rentável”.

Segundo a matéria, o desafio hoje na preservação da Amazônia é criar uma nova mentalidade de exploração baseada em serviços da floresta. “Falta política pública, sim, de precificar o valor da floresta em pé. A partir do momento que você coloca um valor nisso, as pessoas passam a fazer conta”, afirma ao jornal paulista Ricardo Zibas, do setor de Serviços de Sustentabilidade da KPMG, empresa multinacional de prestação de serviços profissionais.

A matéria do Estadão explica que os chamados serviços ambientais ecossistêmicos relacionados à maior floresta tropical do mundo envolvem temas como oferta de água, regulação do clima e manutenção da fertilidade do solo. Também há serviços que podem ser precificados, como o impacto na saúde, o ecoturismo e a biodiversidade.

“Na visão de Zibas, o tema principal é mudar o pensamento de políticas de precificação de insumos florestais. ‘Existem ativos, como a água, que achamos erroneamente que são de graça. Então quando começarmos a mudar esse mindset (configuração da mente), será possível realmente calcular o potencial”, assinala o diretor da KPMG.

Inserção da inovação na floresta

Como alternativa aos negócios de deflorestação, o diretor-executivo do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, Raphael Medeiros, também sugere, na matéria do jornal paulista, a inserção da inovação na floresta. “Desta forma, podemos mostrar que é possível ganhar dinheiro com ela [a Amazônia] de pé”, explica Raphael Medeiros.

Assim, o Centro de Empreendedorismo da Amazônia está criando uma aceleradora de negócios da floresta biodiversidade. “Uma empresa que vai colocar dinheiro (tíquete médio de 50 a 200 mil reais) – podendo ser até mais – em startups (atividades inovadoras no mercado), ligadas à floresta ou à biodiversidade, encorajando-as a alcançar mercados dentro ou fora do Brasil”, conta Medeiros.

Em recente matéria publicada por este site Expresso Amazônia, o economista Osiris Silva, ex-secretário de Fazenda do Amazonas, assinala que a floresta amazônica possui uma riqueza calculada em US$ 2 quatrilhões apenas levando-se em conta o valor estimado de suas reservas de água subterrânea em 134 milhões de hectares aquíferos porosos existentes na região.

Esse gigantesco valor equivale a 100 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 20,6 trilhões alcançados pelos Estados Unidos no ano passado e a 1.126 vezes o PIB de US$ 1,78 trilhão conquistado pelo Brasil no mesmo ano. Portanto, o Brasil só teria a ganhar muito dinheiro com sua floresta amazônica de pé.

(*) Editor do site www.expressoamazonia.com.br.