Compra de túmulos em Senador Guiomard era comum, conta administração. Coveiro há 23 anos no local também já tem terreno comprado
Uma foto tirada pela fotógrafa Hannah Lydia no início deste mês chamou atenção nas redes sociais pelo aviso inusitado. No cemitério São Francisco Xavier, em Senador Guiomard, um dos túmulos tem o seguinte aviso: “está vazio, o dono está vivo”.
Na postagem, a fotógrafa que esteve na cidade escreveu: “Hoje eu descobri que existem mais de 300 túmulos vazios em Senador Guiomard. Mais de 300 pessoas vivas que já têm um túmulo construído. Acho que nunca vi nada tão explícito sobre a brevidade da vida”.
Apesar de parecer inusitado, a venda de túmulos em Senador Guiomard, cidade do interior que tem 23.446 habitantes, é comum. Sebastião Silva, de 57 anos, é coveiro no local há 23 anos e também comprou um pedaço de terra em 2000, logo após o pai morrer.
Ele diz que é difícil contabilizar quantos túmulos já estão destinados a pessoas que ainda estão vivas, mas diz que geralmente as pessoas compram esses túmulos para enterrar amigos, familiares, todos juntos e também preservar o local.
“Quando morre uma pessoa, a família tem direito de comprar aquele espaço e fazer os jazigos da família. A maioria que comprou terra é que morreu uma pessoa da família e naquele tempo era cavado no chão e a pessoa pagava para ter mais vaga. O meu foi comprado em 2000, quando meu pai morreu, meu pai foi sepultado, comprei, e lá já tem pai, tio, irmão”, conta.
Segundo ele, em um pedaço de terra pode ter até quatro túmulos.
“É uma forma de ficar todo mundo no mesmo lugar. A partir do momento que você compra a terra, fica na responsabilidade da família e aí tem muita gente que coloca uma luz diferente, coloca uma frase. É um espaço bem cultural, na verdade”, destaca.
Apesar de já ter sido comum, o atual secretário de administração da cidade, David Oliveira, diz que a venda das terras no cemitério não ocorre mais, até porque essa venda fez com que o cemitério ficasse sem espaço.
“Nossa posição é de não vender, porque temos um espaço bem curto, nosso cemitério é bem pequeno. É o único cemitério da cidade, tem muitos arquivos que foram perdidos, temos bastante túmulos abandonados”, diz.
A administração disse ainda que não sabe quantas pessoas estão enterradas no local e nem quantos túmulos têm donos vivos.
“Fica complicado porque temos que lidar com um erro agora. Eu fiquei sabendo dessa situação depois dessa foto. Até então, os funcionários não tinham falado pra gente. Tudo era legal, mas não podia por conta do espaço, porque nosso cemitério é pequeno. Mas, já estamos nos desdobrando para adquirir uma nova terra, fazer um cemitério padrão. Nem pensar em vender”, finaliza.