Comando da PM, Associação dos Oficiais da PM e Associação dos Militares do Acre publicaram notas de repúdio com relação às declarações do secretário. Em áudio, Paulo Cézar Santos fala que ‘falta maturidade profissional’ aos policiais militares e que ‘capital intelectual da instituição está fragilizado’
Um áudio do secretário de Segurança Pública, Paulo Cézar dos Santos, que circula em aplicativos de conversa causou uma crise na instituição. Na fala, ele faz duras críticas aos oficiais da Polícia Militar e afirma que eles fazem “vitimismo”. A mensagem está relacionada com o episódio em que um grupo de criminosos fez 25 pessoas reféns durante um arrastão, que acabou na morte de um pastor na Estrada Transacreana, na Rodovia AC-90 na última sexta-feira (9).
O Comando da PM-AC, Associação dos Oficiais da PM e Associação dos Militares do Acre publicaram notas de repúdio com relação às declarações do secretário.
Na conversa vazada, o secretário fala sobre a operação que ocorre na região após os crimes e explica que fazem parte da ação, militares do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), além de policiais penais, civis e também da Polícia Militar. E é quando acaba falando de um suposto “vitimismo” por parte dos oficiais da PM.
“É uma operação que envolve as três polícias estaduais e mais o órgão de apoio aéreo, que é o Ciopaer. Esse vitimismo da PM é muito complicado, essa vitimização, essa necessidade de estar sempre na defesa, é complicado. Na verdade, é uma operação conjunta, eles têm que compreender isso. Sei que é difícil, mas eles têm que começar a compreender isso. É falta de maturidade profissional”, diz o secretário.
Em outro trecho do áudio, Santos continua com as críticas. “Até admito de um major, que não passou por uma formação inicial adequada, mas quando vejo comandantes, coronéis participando desse tipo de debate é complicado. Percebe-se que o capital intelectual da instituição está fragilizado e isso acaba afetando a inteligência emocional dos integrantes do estado maior.”
O G1 tentou contato com o secretário nesta terça-feira (13), mas não obteve resposta até última atualização desta reportagem.
Repúdio das instituições
Em nota assinada pelo coronel Paulo Cesar Gomes, o Comando da Polícia Militar do Estado do Acre repudiou as declarações do secretário e afirmou que a PM sempre incentivou o trabalho em conjunto com as demais instituições de Segurança Pública. (Veja nota na íntegra abaixo)
Ao G1, o coronel afirmou que nessa segunda (12) o estado maior da corporação fez uma reunião com os comandantes de batalhões, a Associação dos Oficiais e o clube dos oficiais para discutir sobre os comentários do secretário e, juntos, buscarem a melhor forma de se manifestar a respeito.
“Gostaríamos, no mínimo, de uma retratação por parte do secretário. Lamentamos isso em todos os sentidos, na realidade, pelo que ele afirma no áudio, nós não queríamos participar, teoricamente, junto com as outras forças, mas em nenhum momento isso ocorreu. A PM sempre esteve no local, inclusive à frente da ocorrência, a solicitação do helicóptero foi também nosso, do diretor operacional. Em nenhum momento houve resistência e nem vitimismo da Polícia Militar em relação a ocorrência. Tanto que continuamos patrulhando a Transacreana até hoje e vamos continuar”, disse o comandante.
Arrastão
Segundo a polícia, um grupo de criminosos fez 25 pessoas reféns em uma propriedade da Estrada Transacreana, na Rodovia AC-90 desde às16h de quinta-feira (8). Os bandidos teriam levado motocicletas, dinheiro, roupas, gerador de energia, eletrodomésticos, rifle de pressão, celulares, roçadeiras e armas. A polícia teria sido informada do ocorrido por outros moradores da região.
Três equipes da Polícia Militar (PM-AC) foram para a localidade e na entrada do Ramal Macarajuba encontraram o motorista de aplicativo parado. Ele tentou explicar o que fazia no local, mas aparentou nervosismo e desconversou. Diante da suspeita, a polícia deu voz de prisão e deixou uma equipe com ele.
O registro policial informa ainda que o local era de difícil acesso e parte do trajeto foi feito a pé pelos policiais. Com a chegada das equipes, os criminosos fugiram para dentro da mata. O motorista de aplicativo confessou que ajudou os bandidos a levar os objetos roubados até o bairro Caladinho, na capital acreana.
A ação criminosa teria se estendido durante o dia e a noite de sexta (9) e também resultou na morte do pastor e colono Raimundo de Araújo Costa, de 62 anos. Ele foi assassinado com um tiro ao ter a propriedade invadida na noite de sexta na Estrada Transacreana, Rodovia AC-90 no km 70.
Na manhã de sábado (10), a Segurança Pública do Acre (Sejusp) montou uma força-tarefa para fazer uma varredura na rodovia em busca dos criminosos.
Nota do comando da PM
O comando da Polícia Militar do Estado do Acre repudia, com total indignação, um áudio veiculado na imprensa e redes sociais no dia 11 de abril no qual o secretário de Segurança Pública ataca a instituição, acusando a corporação de não coadunar com operações integradas, e a seu efetivo, alegando que lhe falta capital intelectual e formação adequada.
Ao contrário do que fala o secretário de Segurança, a Polícia Militar sempre incentivou e almejou o trabalho em conjunto com as demais instituições de segurança pública, pois, tal feito traz benefícios positivos para a sociedade acreana, a quem prestamos serviços de segurança pública e a quem devemos satisfações de nossas ações.
O comando da Corporação também não aceita qualquer tipo de declaração ofensiva que coloque em dúvida a capacidade intelectual e emocional do nosso efetivo e de nossos oficiais. Nosso corpo de oficialato é formado por profissionais com mínimo um nível superior, que passaram por academia de polícia para formação de oficiais com duração mínima de sois anos, em tempo integral, além de cursos de aperfeiçoamento e capacitação realizados no Acre e em outros entes federados.
Nossas academias possuem carga horária que superaram a maioria dos cursos de nível superior ofertados no país, e forma o profissional para comandar, gerir, gerenciar crises e atuar nas funções de investigação policial. A ascensão profissional do militar está condicionada à formação e capacitação continuada.
Há de se acrescentar ainda que o próprio secretário ao assumir a pasta buscou na Polícia Militar grande parte de sua equipe de confiança, estando com vários oficiais à sua disposição.
Por fim, este comando lamenta a linha de pensamento do secretário, já que se trata de alguém que deveria, em suma, promover a boa relação e convívio para os profissionais que tanto necessita de apoio e com quem um dia vivenciou o trabalho.