Tarauacá foi uma das cidades do Acre mais atingidas pela cheia e cerca de 28 mil pessoas foram afetadas. Moradores relatam que perderam tudo que tinham e que agora estão limpando as casas para tentar voltar com família. Mesmo com vazante, mais de 800 pessoas ainda estão desabrigadas
Alguns moradores da cidade de Tarauacá começaram a voltar para suas casas depois de verem os imóveis quase que completamente submersos devido à cheia do rio. O manancial começou a apresentar vazante e nesta segunda-feira (22) está com 9,70 metros.
Sem energia elétrica em muitos bairros, os moradores ainda enfrentam lama, chuva e encontram um verdadeiro cenário de guerra ao retornarem para suas casas, com vários móveis jogados pelas ruas.
Uma dessas moradoras é a funcionária de um frigorífico Marta Rodrigues da Silva, de 25 anos. Ela mora com outras quatro pessoas no bairro Triangulo, um dos primeiros a serem atingidos pela cheia, e conta que precisou se mudar por quatro vezes, mas todas as casas dos parentes foram atingidas também e ela acabou indo parar com a família em um abrigo da prefeitura.
“Não deu tempo de tirar as coisas, porque subiu muito rápido. Fomos subindo as coisas, mas quando chegou no teto não deu mais de levantar os móveis. A água foi acima do trinco da porta, mais ou menos na metade da casa e perdemos tudo. Só conseguimos tirar algumas roupas mesmo de dentro e as crianças, o resto perdeu tudo. Primeiro fomos para casa da minha cunhada, alagou lá também, fomos pra outra casa, alagou também, ficamos pulando de casa em casa até que na quinta vez fomos parar no abrigo”, contou.
Morador e presidente do bairro Ilha Grande, Hilton Gomes contou que conseguiu voltar para casa nesse domingo (21) depois de fazer a limpeza do local. Ele também perdeu praticamente todos os móveis porque não teve tempo de retirá-los antes que a água invadisse o imóvel.
“O cenário hoje em Tarauacá é de guerra, de destruição. Muitas pessoas perderam tudo e muitos estão tentando voltar para suas casas e outros estão no abrigo e não sei como vai ser. Conversei com uma família hoje que disse que por ela permaneceria na escola, porque perdeu tudo, e indo para casa não vai ter nem o que comer e no abrigo tem café, almoço e janta. É uma coisa triste. Também perdi cama, sofá e outros móveis”, relatou.
A dona de casa Rosangela Abreu Pereira, de 24 anos, mora no bairro Triangulo e disse que ficou nove dias com mais da metade da casa embaixo d’água. Ela, que mora com o marido e o filho, também não teve tempo de tirar os pertences e perdeu quase tudo.
“No começo a gente achava que não ia ser uma alagação tão grande e fomos suspendendo as coisas de acordo com o que ia enchendo. Mas chegou um ponto que a geladeira, cama encostaram no teto e não deu mais para subir. Só conseguimos tirar a geladeira mesmo, o resto perdemos tudo. Agora é ter fé em Deus para ver se a gente consegue tudo de novo. Tem muita gente nessa situação aqui. A gente passa na frente das casas e vê muito entulho, muita lama e as pessoas limpando. Como ainda estamos sem energia elétrica, não conseguimos ir na noite de ontem [domingo] lá limpar para já voltar para casa e estamos indo agora pela manhã”.
Tarauacá foi a cidade com maior número de suspensão de energia em casas, segundo levantamento feito pela Energisa, com 5.888 desligamentos.
A energia elétrica foi suspensa para 10.489 clientes de três cidades atingidas pelas cheias: Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Sena Madureira e Rio Branco.
A cidade de Tarauacá está com a situação de emergência reconhecida pela União em decorrência da inundação desde quinta-feira (18).
Enchente em Tarauacá
Em vazante, o Rio Tarauacá marcou 9,70 metros nesta segunda-feira (22) e está com 20 centímetros acima da cota de transbordo, que é de 9,50 metros. A cidade teve uma das situações mais críticas do estado.
Com uma população estimada em 43.151 pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Tarauacá chegou a ter 28 mil moradores afetados com a enchente do rio. De acordo com a Defesa Civil, dos nove bairros que há na cidade, apenas um não foi atingido pelas águas. Cerca de 90% do município foi afetado pela enchente.
A cidade decretou calamidade pública na quinta (18). A Defesa Civil informou que cerca de 7 mil famílias ainda estão atingidas, 831 pessoas estão desabrigadas e outras 947 pessoas desalojadas. Pelo menos cinco abrigos ainda estão abertos com moradores.