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Após apelação, Justiça reduz valor de indenização de transexual constrangida ao usar banheiro feminino no AC

Após apelação, Justiça reduz valor de indenização de transexual constrangida ao usar banheiro feminino no AC

Prefeitura de Rio Branco entrou com recurso para indenização de R$ 15 mil ser reduzida para R$ 6 mil. Cabeleireira Jullyana Correia foi constrangida em 2021 após usar o banheiro feminino da Prefeitura de Rio Branco. Advogado não vai recorrer

A Justiça do Acre reduziu de R$ 15 mil para R$ 6 mil o valor da indenização que a Prefeitura de Rio Branco deve pagar à transexual Jullyana Correia, que foi abordada por um segurança do órgão municipal e orientada a usar o banheiro para deficientes em outra ocasião. O caso ocorreu em junho de 2021 e o constrangimento fez com que Jullyana entrasse na Justiça.

Jullyana é cabelereira e estava com a irmã Atila Maria Rodrigues no Centro da capital acreana quando resolveu usar o banheiro da prefeitura, como já tinha feito outras vezes. Contudo, nunca tinha sido abordada dentro do órgão e nem passado por esse tipo de constrangimento.

Ela registrou uma queixa na Delegacia de Polícia Civil da 1ª Regional e foi acompanhada pelo Centro de Atendimento à Vítima (CAV) do Ministério Público do Acre (MP-AC).

O Tribunal de Justiça do Estado (TJ-AC) condenou o município, em 1ª instância, ao pagamento de R$ 20 mil para Jullyana e R$ 5 mil para Atila. A Procuradoria Geral do Município recorreu e a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis do Estado Acre decidiu, à unanimidade, dar parcial provimento ao recurso e reduziu o valor da indenização apenas de Jullyana.

Porém, os magistrados seguiram com o entendimento de que a conduta do segurança foi preconceituosa e violou a honra da cabeleireira. “Sem sombra de dúvidas os transexuais têm direito a serem tratados socialmente de acordo com a sua identidade de gênero, inclusive na utilização de banheiros de acesso público, sendo que a violação desse direito importa em lesão direta a direito da personalidade, caracterizador de lesão extrapatrimonial”, destacou em seu voto a juíza Rogéria Epaminondas.

A decisão ainda cabe recurso.

‘Voz não é ouvida’

Mesmo podendo recorrer da decisão, Jullyana e o advogado dela decidiram não apelar. Com o surgimento do assunto à tona novamente, a cabeleireira conta que voltou a ser atacada nas redes sociais com palavras de ódio e maldosas.

“É melhor aceitar o mínimo do que o nada. Estou nessa, não estou feliz com o que foi decidido. Meu advogado não vai recorrer por conta de tanta burocracia e também me privei demais, me escondi muito esperando essa sentença que não foi exatamente o que esperava”, lamentou.

Ela diz também que já esperava por esse resultado. “A lei é falha, a voz de quem tem menos recursos nunca é ouvida. A gente sempre fica à mercê dos maiorais”, criticou.

‘Mal entendido’

Na época, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Rio Branco classificou a situação como um mal entendido e negou que o funcionário tenha sido orientado a impedir o uso dos banheiros. O diretor de comunicação, Ailton Oliveira, disse que o chefe do gabinete militar da prefeitura, tenente-coronel Ezequiel Bino, conversou com as mulheres e o segurança.

“Foi um mal entendido, o segurança falou isso, mas depois o coronel falou que estava à disposição. Foi só um mal entendido”, argumentou.