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Acreano que ficou conhecido por atuar em ‘Noites Alienígenas’ grava curta sobre a Cracolândia e fala como arte mudou sua vida

Acreano que ficou conhecido por atuar em ‘Noites Alienígenas’ grava curta sobre a Cracolândia e fala como arte mudou sua vida

Gabriel Knoxx estrou no cinema em produção acreana e ganhou como melhor ator no Festival de Cinema de Gramado

O cinema foi um divisor na vida do rapper e ator acreano Gabriel Knoxx, que teve uma mudança drástica da perspectiva de vida ao ingressar, pela primeira vez, como ator no filme acreano “Noites Alienígenas”, premiado em diversos festivais nacionais e internacionais. Antes de ser chamado para ser o Rivelino no filme, Gabriel nunca tinha atuado e agora está em São Paulo gravando um curta-metragem sobre o grupo “Pagode na Lata”, que se apresenta na Cracolândia e tenta resgatar e combater o vício com arte.

O curta, que se chama “Enquanto meu coração bater impetuoso”, é dirigido por Luiz Maudonnet e Iuri Sales, que também venceram o Festival de Gramado. Esta é a segunda produção que Gabriel participa, além de uma participação que fez em outro trabalho.

“Essa filmagem está sendo gravada na Cracolândia, porque esse curta vai contar a história do meu personagem, que vai se chamar, assim como eu, Gabriel. Ele é um jovem que está em uso de crack abusivo, mas ele se liberta com a ajuda do grupo Pagode na Lata, que toca, atua na Cracolândia há mais de 8 anos levando essa forma de arte para a Cracolândia e meu personagem entra nesse grupo e é salvo pela música e espiritualidade”, diz o ator.

No filme, o personagem rompe com a família, que é de classe média, e se afunda nas drogas. Na Cracolândia, ele conhece o grupo Pagode na Lata, que oferece acolhimento em meio ao caos. As filmagens começaram no último dia 25.

“A função desse grupo é justamente reduzir danos. É impressionante o respeito que a galera da Cracolândia tem com o grupo Pagode na Lata e é muito bom representar isso”, destaca.

Atualmente, Gabriel está morando em São Paulo, mas pretende também passar uma temporada no Rio de Janeiro. Nesse tempo, ele planeja fazer cursos, se capacitar, para que possa oferecer no Acre oportunidade a jovens, que, como ele, nasceram na periferia.

“Quero levar cursos de formação para o Acre para ver se a gente consegue descobrir novos talentos, porque temos muitos talentos nas comunidades que precisam de investimento”, pontua.

acreano 002Gravações ocorrem em São Paulo com participação de acreano — Foto: Arquivo pessoal

Da periferia às telas de cinema

Filho de empregada doméstica e criado por três mulheres na periferia de Rio Branco, o jovem saiu de casa ainda aos 14 anos e encontrou na arte uma forma de ganha pão - nem sempre foi fácil, é claro, viver da arte independente, é resistir e persistir.

Foi um longo caminho - desde dormir na rua, não ter o que comer - até ser protagonista de um filme 100% acreano que foi exibido na Suécia. A vida do rapper parece roteiro de filme e foi sem experiência nenhuma como ator, que ele encarou o teste para o filme e conseguiu o papel de Rivelino no longa “Noites Alienígenas”, de roteiro e direção de Sérgio de Carvalho.

Inclusive, foi o próprio diretor que insistiu que ele ficasse com o papel, mesmo sem experiência. Por isso, ele é grato ao diretor Sérgio de Carvalho e toda a equipe do filme acreano que o revelou para o cinema.

O longa acreano “Noites Alienígenas” foi consagrado como o grande vencedor do Festival de Cinema de Gramado no ano passado. A obra de Sérgio de Carvalho levou, ao todo, cinco troféus e uma menção honrosa, com isso é o melhor longa brasileiro do ano e um dos prêmios foi de melhor ator para Gabriel.

acreano 003Grupo Pagode Na Lata leva música para a Cracolândia — Foto: Arquivo pessoal

‘O que me deixou vivo foi o sonho’

Com uma vida difícil, Gabriel reconhece que a arte o salvou e fez com que ele pudesse realizar sonhos antes distantes.

“O cinema mudou minha vida, mas me mostrou um mundo novo, um mundo que jamais pensei que pudesse conhecer. Um menino pobre, de comunidade, com família de baixa renda, por mais que a gente sonhe, às vezes, parece impossível estar aqui. Para mim, era impossível viajar de avião. Mas, o que me deixou vivo foi o sonho de ser um exemplo para minha família, para a molecada do meu bairro, a arte me proporcionou isso”, destaca.

E para multiplicar essa ação de mudar vidas, assim como foi ajudado pelo diretor Sérgio de Carvalho e os atores do primeiro filme e que ele participou, ele diz que quer fazer o mesmo para outros talentos que estejam nas comunidades do estado.

“Minha meta é poder levar essa oportunidade de mudança de vida para dentro das comunidades do Acre, levar a mesma oportunidade que tive para a galera do Acre, de ter novos filmes, novas produções, ter vaga aberta para não atores, porque eu era não ator. É dar oportunidade para quem faz teatro, mas também levar o teatro para quem não tem condições de fazer o curso e dar oportunidade para todos. Muito talento no Acre se perde por falta de investimento e a meta é salvar essa galera.”