Pesquisadores da Embrapa apresentaram os resultados do estudo para elaboração do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura do milho no Acre. A reunião virtual, no dia 10 de junho, contou com 60 participantes, entre produtores rurais, agentes financeiros, técnicos e gestores de instituições de apoio fomento à produção agrícola no estado, e colheu contribuições para a versão final do documento que será publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O Zarc visa indicar as datas de semeadura (plantio) para o milho de primeira e segunda safras, cultivares de ciclo precoce, médio e tardio, em solos de textura arenosa, média e argilosa no Estado do Acre. O objetivo desse instrumento de gestão de riscos é reduzir riscos na cultura e minimizar perdas na produção decorrentes de problemas climáticos. O estudo definiu “janelas de plantio” para as cinco regionais acreanas (Alto Acre, Baixo Acre, Purus, Tarauacá-Envira e Juruá) e os participantes da reunião opinaram sobre os períodos apresentados, considerando suas experiências com a cultura.
“Trabalhamos com modelos matemáticos, desenvolvidos com base em informações do solo, da planta e do tempo, e toda modelagem traz incertezas nos seus resultados. Ouvir diferentes atores envolvidos no agronegócio do milho permite corrigir possíveis distorções, de modo a tornar os dados do Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a cultura o mais próximo possível da realidade de campo. As discussões mostraram que, de modo geral, não há diferenças significativas entre os dados da modelagem para a cultura e as práticas dos agricultores nas diversas regionais do Acre”, explica o pesquisador da Embrapa Acre Falberni Costa.
Conforme critério do Mapa, para ser oficializado o Zarc deve apresentar janelas de plantio com índice de sucesso na cultura de no mínimo 60%. O estudo apurou índices superiores a esse percentual. Os ajustes e confirmações resultantes do debate online serão sistematizados em Nota Técnica que embasará a publicação do Zarc para a cultura do milho no Acre, por meio de Portaria do Mapa, órgão responsável pela aplicação da ferramenta, com validade a partir da safra 2020/2021.
Resultados
A validação dos resultados da pesquisa atualiza os dados do Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a cultura do milho, publicado em 2016, para o milho de primeira safra. A adoção da ferramenta pode contribuir para a tomada de decisão dos agricultores na condução dos cultivos e para desenvolver a produção no Acre. Segundo Falberni Costa, os resultados da modelagem com foco no Zarc do milho no estado indicam que para a safra convencional (primeira safra), as janelas para semeadura iniciam a partir de agosto, em todo o estado, com distintas probabilidades de sucesso dos cultivos entre as regionais. Nesse mês a probabilidade de sucesso na cultura é maior para as regionais do Juruá e Tarauacá-Envira e menor para o Alto e Baixo Acre e Purus. A partir de setembro, a probabilidade de sucesso dos cultivos é de 80% para todas as regionais.
“Quanto ao milho de segunda safra (safrinha), os resultados mostram que as janelas de semeadura iniciam a partir de janeiro de cada ano, com 80% de probabilidade de sucesso dos cultivos, mas esse percentual pode reduzir gradativamente entre as regionais. É importante destacar que os estudos de Zarc modelam as janelas de semeadura considerando que todas as demais medidas necessárias para o desenvolvimento do cultivo serão adotadas pelo agricultor”, ressalta o pesquisador.
Para o produtor Mario Maffi, morador do município de Epitaciolândia, no Alto Acre, um dos participantes do encontro online, as janelas de cultivo identificadas pelo estudo são semelhantes àquelas adotadas na sua propriedade e por outros agricultores da região. “Sempre planto o milho precoce a partir do dia 5 de outubro porque em setembro ainda há possibilidade de ocorrer veranicos que podem comprometer o início da safra e a tabela gerada pelo estudo indicou o início desse mês como data para plantio. Quem deseja plantar o milho safrinha, após o cultivo convencional, costuma plantar no início da janela de cultivo para correr menos riscos de ter uma colheita tardia e comprometer a segunda safra”, diz.
Metodologia do estudo
Segundo Fernando Macena, pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), participante do estudo e da reunião, a metodologia realiza um balanço hídrico, com base na análise do risco e resiliência climática, considerando dados do clima e solo e da cultura estudada. “A partir de séries históricas do clima do Estado, de no mínimo 15 anos, atuamos para gerar informações que possibilitem ao produtor evitar perdas na produção por déficit hídrico. Buscamos obter as datas com menor risco de ocorrência de adversidades climáticas em momentos críticos da cultura, ou seja, na fase inicial e na etapa de enchimento dos grãos, quando a planta mais necessita de água, e indicar solos viáveis para os cultivos”, afirma.
Para estimar o déficit hídrico, os principais aspectos do clima avaliados pelo estudo são a precipitação pluviométrica, com mensuração da quantidade de chuvas da região estudada, em diferentes épocas do ano, e a evapotranspiração (perda de água do solo e da planta por transpiração) calculada com base nas temperaturas (máxima e mínima), nos níveis de radiação solar, umidade relativa do ar e velocidade dos ventos. Em relação ao solo, são avaliados aspectos como a disponibilidade máxima de água na área de cultivo, a profundidade efetiva das raízes da planta, e a capacidade de armazenamento de água. A metodologia também avaliou os ciclos da cultura (precoce, médio e tardio), quantificando potenciais riscos climáticos para a produção.
“A cruzar essas informações chegamos a períodos de plantio mais propícios, em diferentes ciclos da cultura e tipos de solo. Essas recomendações permitem reduzir riscos na cultura associados ao clima, contribuem para um melhor desempenho dos cultivos e ajudam a garantir a viabilidade econômica da atividade produtiva”, enfatiza o pesquisador Balbino Antonio Evangelista, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), que também participou dos estudos.
Acesso a crédito rural
Os estudos para elaboração do Zoneamento Agrícola de Risco Climático são realizados há 24 anos, coordenados pela Embrapa Informática Agropecuária (Campinas/SP), com a participação de instituições estaduais de pesquisa e outros parceiros, e contemplam mais de 40 culturas nos diferentes estados brasileiros. O trabalho é dinâmico e as modelagens constantemente atualizadas para alinhar as recomendações à realidade climática e outros dados regionais por todo o Brasil. No Acre também já foram realizadas reuniões de validação para o Zarc da mandioca e de convalidação para a soja, em 2019. A reunião deste ano atualiza o zoneamento para a cultura do milho realizado em 2016.
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático funciona como instrumento estratégico para a gestão e planejamento da atividade produtiva e orienta o acesso ao crédito rural, pelos agricultores, junto a instituições financeiras, e ao crédito agrícola oficial, conferindo maior segurança às operações. O Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e o Programa de Subvenção Federal ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) estão entre as políticas públicas de incentivo à produção que utilizam informações geradas pelo Zarc para o enquadramento de suas concessões.
Além do calendário de plantio, por localidade, o Zoneamento Agrícola de Risco Climático fornece a lista de cultivares adaptadas para cada região, cadastradas no Registro Nacional de Cultivares (RNC). Disponível no site do Mapa, a ferramenta também pode ser consultada pelo aplicativo Zarc Plantio Certo, tecnologia disponível para plataformas Android, com acesso por tablets e smartphones. Desenvolvido pela Embrapa Instrumentação Agropecuária (Campinas/SP), Unidade que coordena os estudos de zoneamento no Brasil, o Zarc Plantio Certo indica a taxa de risco de perdas por eventos meteorológicos (20%, 30% ou 40%) para 43 culturas, com base nas respectivas épocas de plantio, por município, nos diferentes estados.