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‘Acabou com tudo’, diz morador de bairro de Rio Branco atingido por enxurrada

‘Acabou com tudo’, diz morador de bairro de Rio Branco atingido por enxurrada

Aposentado mora no bairro Raimundo Melo há 32 anos e contou que nunca tinha visto uma situação como essa. Mais de 22 mil moradores de Rio Branco estão atingidos pela cheia do Rio Acre e igarapés

O aposentado Manoel Ferreira da Silva Lopes (foto) precisou sair de casa com a família às pressas na madrugada desta sexta-feira (24), no bairro Raimundo Melo, em Rio Branco, depois que as águas do Igarapé São Francisco invadiram o local. Mais de 22 mil moradores da capital acreana estão atingidos pelo transbordamento do Rio Acre e de sete igarapés.

Lopes contou que mora no bairro há 32 anos e que nunca tinha visto uma situação como essa. Ele mora com mais seis pessoas, entre esposa e filhos, e todos tiveram que ir para casas de amigos por conta da enchente.

“Acabou com tudo. Perdi geladeira, camas, fogão. A água subiu muito rápido, uma coisa violenta, nenhum morador estava esperando. Nunca tinha acontecido dessa forma. A água vinha subindo e ficou todo mundo ali conversando, quando viu, já subiu de uma vez. Conseguimos sair de casa em uma caixa d’água e outro arrastando, e a correnteza grande. É um ajudando o outro aqui. Agora espero arrumar outro canto para ficar, não quero mais morar nesse lugar. Não tem condições desse jeito”, disse o morador.

O autônomo Eliel Freitas foi para a casa da mãe assim que soube que o imóvel estava totalmente alagado pelas águas do São Francisco, no bairro Raimundo Melo.

moradores 002 webAutônomo Eliel Freitas tenta salvar móveis na casa da mãe no bairro Raimundo Melo, em Rio Branco — Foto: Eldérico Silva/Rede Amazônica

“Quase não salvou nada. Nunca tinha acontecido isso, a última alagação que teve foi em 1990, mas não foi desse jeito. Estamos aqui tentando salvar alguma coisa. Minha mãe foi pra casa da minha irmã e a gente tá aqui esperando pra vê se as águas baixam para poder voltar pra casa. Perdemos tudo, mas se Deus quiser vamos conseguir erguer de novo. Conseguimos salvar os três cachorros e uma gata”, afirmou Freitas.

moradores 003 webMorador do bairro Raimundo Melo, José de Oliveira da Silva, teve a casa alagada em Rio Branco — Foto: Eldérico Silva/Rede Amazônica

Recém-chegado no bairro Raimundo Melo, José de Oliveira da Silva ficou assustado com a situação. Ele contou que mora com a esposa no local e que não conseguiram subir os móveis antes de a água entrar no imóvel.

“O pessoal fala que nunca tinha visto uma alagação desse jeito. Perdemos quase tudo, guarda-roupa e outros móveis. Por volta de 23h começou a entrar água e foi rápido. Em uma hora já estava tudo alagado. Não deu tempo, não teve como tirar os móveis na hora. Estou aqui esperando se seca para ver se consigo voltar pra casa”, contou.

Mais de 22 mil atingidos

Os estragos deixados pela chuva são muitos. Vários pontos de alagamento, rompimento de trecho na BR-364 estão entre os prejuízos. São cerca de cinco mil famílias de 36 bairros de Rio Branco atingidas. Além disso, pelo menos, 15 comunidades rurais da capital foram afetadas.

A prefeitura montou nove abrigos em escolas para receber as famílias desabrigadas e trabalha para abrir mais dez.

Ao todo, sete igarapés transbordaram em Rio Branco. Entre eles: Almoço, Judia, São Francisco, Dias Martins, Batista, Fundo e Liberdade.

Nos nove abrigos há, pelo menos, 60 famílias, com 270 pessoas desabrigadas. Já entre desalojadas, ou seja, que foram removidas de locais alagados e levadas para casas de parentes, a Defesa Civil calcula que passam das 600 famílias.

A chuva começou na madrugada dessa quinta-feira (24) e até às 6h desta sexta, segundo a Defesa Civil do município, já choveu um acumulado de 187,2 milímetros, o que representa mais de 90% de todo o esperado para março, que é de 270,1 milímetros.

Com o volume de chuva, além dos igarapés, o Rio Acre subiu mais de seis metros. Na medição feita às 6h desta sexta, o manancial marcou 15,80 metros, acima da cota de transbordo, que é de 14 metros. E no mesmo horário na quinta ele estava com 9,76 metros.

“Estamos trabalhando com esse número de 22 mil pessoas atingidas, entre desabrigados e desalojados na zona urbana de Rio Branco, mas também temos comunidades rurais atingidas. Praticamente estamos com todas as regiões da cidade afetadas. Um caos. Será decretada hoje ainda situação de emergência”, disse o coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, coronel Cláudio Falcão.