Previsão é que vacinação seja retomada na sexta-feira. MP apura se fila de grupos prioritários para vacina foi furado. Governo estadual vai discutir critérios de prioridade para vacinar profissionais de saúde
A vacinação contra a Covid-19 em Manaus foi suspensa nesta quinta-feira (21). A previsão é que seja retomada nesta sexta. A medida foi anunciada em meio à investigação do Ministério Público do Amazonas sobre a suspeita de irregularidades na aplicação da vacina, com a fila de grupos prioritários sendo “furada”.
Denúncias foram feitas depois que parentes de empresários locais postaram fotos sendo vacinados e foram acusados de “furar fila”. A prefeitura da capital amazonense diz que não há irregularidades (leia mais ao final da reportagem).
Outra dificuldade vivida pelo Amazonas é o número de doses recebidas. O governo do estado informou, na segunda-feira (18), que recebeu 256 mil doses da CoronaVac. No entanto, depois corrigiu a informação e informou que o total recebido foi de 282 mil vacinas. Dessas, somente 221 mil foram distribuídas entre as cidades, incluindo a capital. O governo não informou o que ocorreu com as demais 60.727 doses que sobraram.
Segundo o governo do estado, a suspensão da vacinação ocorre para replanejamento da campanha. O objetivo, agora, é discutir os critérios que definirão quais profissionais de saúde e de quais unidades têm prioridade para receber as primeiras doses, já que a quantidade de vacinas disponibilizadas pelo governo federal é insuficiente. Somente profissionais que atuam no Samu seguem recebendo o imunizante.
Após a definição dos critérios, as unidades de saúde deverão enviar a lista nominal dos profissionais, com o setor em que cada um trabalha, para a Secretaria da Saúde de Manaus reprogramar a vacinação. A previsão é que os trabalhos sejam retomados na sexta-feira (22).
A suspensão da campanha foi definida pelas secretarias de Saúde de Manaus e do Amazonas, após uma reunião na noite de quarta-feira (20). Participaram do encontro representantes do Ministério Público Estadual, do Ministério Público Federal, da Defensoria Pública Estadual, da Defensoria Pública da União e do Ministério Público do Trabalho.
Os participantes da reunião concluíram que devem ser priorizados os profissionais mais expostos ao coronavírus e que trabalhem em unidades de referência de média e alta complexidade, que tenham contato direto com pacientes com Covid, considerando também comorbidades e idade.
Foi definido, ainda, que será garantida a segunda dose para os profissionais que já foram vacinados até esta quarta-feira.
A secretária municipal da Saúde, Shádia Fraxe, afirmou a prefeitura organizou 50 equipes de vacinação, com 200 profissionais, porém a definição de locais e de quem deve ser vacinado é de responsabilidade do governo do estado.
Já a Secretaria do Amazonas havia divulgado que a responsabilidade pela campanha era das prefeituras e que não era responsável pela definição das pessoas que receberão as doses, apenas entregava o imunizante aos municípios.
De acordo com a prefeitura de Manaus, nos primeiros dois dias de vacinação na capital, 1.140 profissionais de saúde receberam a primeira dose da CoronaVac. A Prefeitura recebeu, para esta primeira etapa da campanha, um total de 40.072 doses de vacina.
Denúncias sobre vacinação
A principal acusação sobre irregularidades na vacinação em Manaus envolve as médicas Gabrielle Kirk Lins e Isabbele Kirk Lins, vacinadas neste primeiro dia de imunização. A família das médicas é dona de hospitais e universidades particulares em Manaus, entre outros negócios.
Na quinta-feira, após as denúncias, o prefeito David Almeida disse que iria proibir imagens de pessoas recebendo a vacina.
“Aquelas duas jovens médicas que foram vacinadas e postaram na rede social, hoje, que inclusive está sendo objeto de muita polêmica, elas estavam de plantão. Elas estavam trabalhando. Elas estavam atendendo as pessoas no consultório. Essa é a verdade”, justificou o prefeito David Almeida em transmissão de vídeo na internet.
Em nota sobre a vacinação das médicas, a prefeitura informou que “não há nenhuma irregularidade, uma vez que se encontram nomeadas e atuando legitimamente no plantão da unidade de saúde, para a qual foram designadas, em razão da urgência e exceção sanitárias, estabelecidas nos primeiros 15 dias da nova gestão.”
Sistema de saúde em colapso
O Amazonas tem mais de 238 mil casos e 6,5 mil mortes por Covid-19. A capital amazonense enfrenta colapso no sistema de saúde por falta de oxigênio nos hospitais. A demanda pelo produto cresceu após o recorde de internações.