Ministro do Meio Ambiente foi alvo de busca e apreensão autorizada pelo STF por suspeita de favorecer madeireiros
Alvo de duas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, diminuiu sua exposição pública para tentar sair da mira dos investigadores ao mesmo tempo em que passou a buscar apoio interno no governo para permanecer no cargo. O objetivo do seu sumiço é evitar gestos que pareçam provocação ao STF e elevem a pressão das investigações.
Desde que foi alvo da Operação Akuanduba, deflagrada pela Polícia Federal no dia 19 de maio, Salles tem privilegiado despachos internos, parou de dar declarações à imprensa e ficou silencioso nas redes sociais. A exceção ocorreu no último sábado quando apareceu na “motociata” em apoio a Jair Bolsonaro em São Paulo. Salles, segundo relatos, não tinha intenção de comparecer, mas foi convocado pessoalmente por Bolsonaro.
No palanque, Salles foi elogiado pelo presidente, que é entusiasta de uma candidatura do ministro ao Congresso no próximo ano. Também pesa em favor da sua permanência no cargo o apoio que recebe de ruralistas, fatia importante do eleitorado de Bolsonaro. No ato na capital paulista, o presidente, sem mencionar as investigações em curso, disse que Salles está “à frente de um dos mais complexos ministérios, que é o Meio Ambiente”.
“(Salles) Fez um excelente trabalho e vem fazendo ao lado da ministra Tereza Cristina (Agricultura), tanto é que nosso agronegócio cada vez é melhor, cada vez representa mais para a nossa economia”, discursou Bolsonaro.
Além do gesto público feito pelo presidente, auxiliares do Palácio do Planalto afirmam, nos bastidores, que Salles segue respaldado e resiste no cargo mesmo diante de pedidos de parlamentares e conselhos de alguns integrantes do governo para que seja substituído.
Uma das investigações contra Salles apura a exportação de madeira ilegal e tem como relator o ministro Alexandre de Moraes, que autorizou as buscas na Operação Akuanduba. Na ocasião, o ministro não entregou seu celular aos investigadores. Pressionado por um pedido de afastamento do cargo feito por uma advogada dentro da investigação, Salles foi à PF três semanas depois para entregar o aparelho, que está sob análise da perícia. O outro inquérito é relatado pela ministra Cármen Lúcia e tem origem em notícia-crime apresentada em abril pelo ex-superintendente da PF no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, que acusa Salles dificultar a fiscalização de desmatamento ilegal.
Em uma conversa reservada no Planalto, segundo relatos ao GLOBO, Bolsonaro questionou Salles se havia motivos para preocupação com o avanço das investigações, como provas concretas de corrupção. O ministro negou, e o presidente sinalizou que ele seria mantido. A pessoas próximas, Salles demonstra cansaço, mas tem repetido que também não tem a intenção de deixar o governo no momento. Uma opção avaliada é que a saída dele a pedido ocorra no final do ano, após a participação da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), no Reino Unido em novembro.
Prova de que Bolsonaro mantém a confiança em Salles é que, na semana passada, antes de autorizar uma nova operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Amazônia, o presidente consultou o ministro. O presidente do Conselho da Amazônia é o vice-presidente Hamilton Mourão. A decisão ocorre após três meses seguidos de desmatamento recorde na região.
Interlocutores do Planalto ponderam que, caso surjam fatos graves no avanço das investigações, o cenário até pode mudar. Contudo, lembram que Bolsonaro manteve o ex-ministro do Turismo, deputado Marcelo Álvaro Antonio (PSL-MG), mesmo com fortes indícios sobre candidaturas laranjas no PSL em Minas Gerais, que estava na mira da PF. Salles é considerado mais próximo do presidente do que era Álvaro Antonio.
A mudança de comportamento de Salles ocorreu logo depois da Operação Akuanduba. Desde então, segunda a agenda do ministro, foram sete dias inteiros apenas em despachos internos, o que mostrava uma reclusão do ministro dentro do seu gabinete. Depois, Salles participou de eventos em São Paulo e em Goiás, mas não houve destaque em sua rede social nem declarações polêmicas.
A última publicação de Salles no Twitter e no Instagram ocorreu dois dias antes da operação Akuanduba, no dia 17 de maio. Na data, o ministro postou uma foto ao lado do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, no lançamento de um edital de R$ 100 mil para investimento em centrais de de triagem mecanizada de resíduos sólidos no estado. Desde então, Salles se manteve em silêncio nas redes sociais. Nem mesmo o Dia do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, foi mencionado pelo ministro.
Mas ele manteve sua movimentação no meio político, intensificando os relacionamentos nos bastidores. No dia 6 de junho, participou de um almoço na casa do líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO) e posou para foto com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e o secretário especial da Pesca, Jorge Seif. Sorridente, o ministro segurava uma grelha com tambaqui assado. Três dias depois, comemorou o aniversário de 46 anos com um bolo no ministério com a presença de colegas do governo e auxiliares na pasta.