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Com 437 votos a favor, Câmara cassa mandato da deputada Flordelis

Parlamentar é acusada de mandar matar o marido

Brasília — O plenário da Câmara dos Deputados cassou o mandato da deputada Flordelis dos Santos de Souza (PSD-RJ). O Conselho de Ética havia recomendado a cassação de Flordelis, há dois meses, por 16 a 1. Foram 437 votos a favor e apenas 7 contra a cassação da deputada. Ela ainda recorreu à CCJ, mas foi derrotada pela unanimidade de 47 votos contra seu recurso e nenhum favorável. Após a cassação, a prisão preventiva de Flordelis foi pedida à Justiça pelo advogado Ângelo Máximo, que representa a família do pastor Anderson do Carmo, marido da pastora assassinado em 2019.

— Meu mandato foi cassado de forma cruel e covarde — disse Flordelis, após a decisão, e acrescentou: — Saio daqui pra lutar pela minha inocência e liberdade. Não cometi crime algum.

Flordelis declarou ainda que o marido assassinado deveria ter pago pelos crimes que cometera:

— Meu marido precisava estar vivo para pagar pelas coisas monstruosas que ele fez.

Entre os sete deputados que votaram contra a cassação, dois são do Rio de Janeiro: Glauber Braga (PSOL) e Jorge Braz (Republicanos). Também se opuseram à perda do mandato os parlamentares Carlos Gaguim (DEM-TO), Dimas Fabiano (PP-MG), Fausto Pinato (PP-SP), Leda Sadala (Avante) e Maria Rosas (Republicanos).

Flordelis responde na Justiça pela acusação de ser mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, crime que ocorreu em junho de 2019, em Niterói (RJ). O relator Alexandre Leite afirmou no plenário que Flordelis não está sendo acusada, na Câmara, se mandou matar ou não seu marido. Mas por outras questões, como uso do prestígio de deputada para induzir o filho assumir o assassinato e depois atuaria em tribunais superiores para livrá-lo de uma condenação.

Ele a acusou ainda de falseamento da verdade, ao negar a compra da arma do crime. O relator entende que Flordelis era a única pessoa da família com recursos financeiros para pagar R$ 3,5 mil na aquisição da arma do crime.

‘Perigosa, desvirtuada e manipuladora’

Leite disse ainda que o pastor Anderson era quem realmente tocava o mandato da deputada e que depois de sua morte, sua produção parlamentar caiu muito.

— Era ele quem de fato exercia o mandato da Flordelis - disse Leite, que complementou: — Em princípio não foi ela quem puxou o gatilho. Em princípio.

A grande família:

Leite repetiu trechos de um relatório da investigação policial no qual diz que a deputada nada teria de “religiosa e generosa”, mas, que por trás, parece ter uma pessoa “perigosa, desvirtuada e manipuladora”.

- Tive o cuidado de não entrar na seara criminal. Quem vai decidir quem matou o pastor Anderson do Carmo não é a Câmara dos Deputados, é o Tribunal do Juri. O que os 437 deputados e deputadas concluímos é que a deputada Flordelis feriu as questões etico-disciplinares que regem o mandato parlamentar - afirmou Leite ao GLOBO após a votação.

Flordelis negou sua participação no crime e pediu que a Câmara aguardasse seu julgamento na Justiça para decidir sobre o futuro de seu mandato.

Ao Conselho de Ética, ela afirmou que sua cassação vai tirar o sustento de sua família e abrir caminho para que seus “detratores” a mandem para a cadeia.

— Todos sabem como desconstruir político dá Ibope — afirmou Flordelis ao conselho, dois meses atrás.

Primeira mulher cassada

Flordelis foi a primeira deputada cassada pelo plenário da Câmara desde a criação do Conselho de Ética, vinte anos atrás. É o oitavo caso de um parlamentar que teve a perda do mandato aprovado no conselho e confirmado no plenário nessas duas décadas. A expressiva votação que recebeu a torna a terceira mais votada entre esses oito, com seus 437 votos.

Ela “perde” apenas para Natan Donadon (sem partido-RO), cassado em 2014 com 467 votos, e para Eduardo Cunha, cassado em 2015, com 450 votos. Na sequência de mais votados aparecem: André Vargas (PT-PR), com 359 votos, em 2015; Roberto Jefferson (PTB-RJ), com 313 votos, em 2005; André Luis (MDB-RJ), com 311 votos, em 2004; José Dirceu (PT-SP), com 293 votos, em 2005; e Pedro Corrêa (PP-PE), com 261 votos, em 2006.