Vice-presidente eleito coordenou transição e se disse espantado com os resultados
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) confidenciou a pessoas de seu entorno que ficou chocado com o resultado que os grupos de trabalho do governo de transição apresentaram. Os relatórios finais foram entregues ontem (11) a ele e ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas palavras dele, a gestão de Jair Bolsonaro (PL) é um desastre.
“Desde que entrei na vida pública, nunca vi nada parecido”, teria afirmado Alckmin, segundo confirmou duas pessoas à coluna. Nas palavras do ex-governador de São Paulo, os indicadores são desastrosos. “A impressão que se tinha é de que não havia gestão e que tudo era decidido aleatoriamente”, continuou, deixando seus interlocutores chocados.
Alguns problemas graves já foram externados para a mídia, mas segundo um assessor que esteve na transição, a situação é muito pior do que a mensurada. “Há documentos desaparecidos, há apagões de dados que sempre existiram em governos anteriores e há rombos financeiros inexplicáveis”, diz. Questionado se a questão deve ser tratada como corrupção, a resposta é automática. “Nem isso dá para saber, simplesmente não existe registro de nada”.
Na reunião ocorrida no último domingo, a confidência de Alckmin, feita em off e que não irá ser confirmada publicamente, mas que a coluna ouviu de três pessoas diferentes, chamou a atenção. “Os dados dão a entender que o governo Bolsonaro aconteceu na Idade da Pedra em que não havia palavras ou números”, teria comparado o futuro vice-presidente eleito.
A grande preocupação dos grupos de trabalhos não é necessariamente a falta de dinheiro no Orçamento 2023 ou mesmo o desmonte de políticas públicas, mas a falta de dados. “Há sistemas governamentais que não são abastecidos desde 2020 e ninguém tem explicação”, contou um deputado à coluna.
“A verdade é que o governo Lula não tem como saber o que precisa ser feito com base nos indicadores porque eles não existem. A política pública terá que ser criada do zero”, garante. A conclusão de Alckmin como coordenador da transição é um pouco mais alarmante, segundo o mesmo parlamentar. “Tudo terá que ser feito no feeling e, possivelmente, haverá muitos erros por culpa da falta de dados”.
Por outro lado, a própria transição levou dados importantes e positivos para Lula. O deputado que conversou com a coluna e que esteve na transição contou as boas novas. “O desempenho do governo Bolsonaro foi tão ruim que qualquer trabalho mais ou menos será melhor. Não é difícil superá-lo”.
A afirmação não se refere somente a dados, mas principalmente e que mudam as vidas das pessoas. Um exemplo dado é o Auxílio Brasil. O governo Bolsonaro, segundo dados da transição, não tem as informações cadastradas corretamente de quantas famílias, de fato, precisam do Auxílio e quem recebeu de forma irregular. “O pente fino quem fez foi a transição e cruzando dados com vários sistemas. O trabalho terá que ser dinamizado em 2023, com isso, milhares de novas famílias serão atendidas”.
Segundo um assessor, ao final da reunião, enquanto começavam a discutir os novos ministros de Lula e brindavam os relatórios entregues no prazo, Alckmin teria comentado. “Que bom que vencemos. O Brasil não suportaria um segundo governo de Jair Bolsonaro”.