Pouco a pouco, relevantes países da América Latina vão emitindo sinais de que algo se move na situação ainda
sombria em toda a região.
Já no ano passado, a vitória de López Obrador no México tinha enviado um recado nesse sentido, com a primeira alteração importante do quadro político.
Agora, na Argentina, as prévias deste domingo, 11 de agosto, mostraram de forma contundente que se configura uma nova tendência, a infundir esperança e ânimo nas forças progressistas.
A Frente de Todos, coalizão encabeçada pelo candidato presidencial Alberto Fernández, teve um espetacular desempenho nas prévias obrigatórias, abrindo caminho para derrotar o atual presidente Maurício Macri, um político reacionário, neoliberal e populista de direita.
A evolução do quadro eleitoral no país vizinho não admite leituras forçadas. Quem liderou e lidera de fato a nova caminhada das forças progressistas é a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner. A opção de candidatar-se à vice-presidência e oferecer a cabeça de chapa ao seu antigo chefe de gabinete resultou de circunstâncias pessoais e políticas muito peculiares, uma situação compreensível no quadro argentino, que não deve ser generalizada nem forçosamente imitada.
A fórmula de indicar Alberto Fernández como candidato a presidente obedece a condicionamentos nacionais, portanto não autoriza que se acrescente elementos à mais recente edição do nosso Febeapá. Nada é tão pouco inteligente e original do que buscar na tática eleitoral das forças progressistas argentinas no embate atual argumentos para torpedear a tática eleitoral da esquerda brasileira no ano passado.
A Frente de Todos credenciou-se como a grande força oposicionista, democrática, nacionalista, popular e antineoliberal e se afiança para levar as forças progressistas ao governo em outubro próximo. Recebeu autorização do povo nas urnas para desenhar um novo modelo de país, que o retire do abismo a que foi lançado pelo governo antipopular e entreguista de Macri. Na verdade, para reconstruir o país, destroçado pelo neoliberalismo.
Observe-se que o resultado deste domingo foi precedido de um amplo ascenso da luta popular e sindical. O atual presidente recebeu o merecido castigo por haver executado uma política de ajuste que penalizou duramente o povo argentino e fragilizou a soberania nacional. Sob Macri, a Argentina tornou-se de novo presa do Fundo Monetário Internacional.
Tem razão Alberto Fernández quando declarou, ao comentar o resultado das prévias, que a “Argentina está parindo outro país e outra história começa a ser escrita”.
Por seu turno, Cristina destacou que a vitória “é uma grande responsabilidade para dar a tranquilidade absoluta aos argentinos de que uma nova etapa está por vir”.
Os direitistas e neoliberais de lá e de cá estão carpindo a derrota. O próprio presidente Macri disse que o resultado “doeu na alma” e seu amigo FHC se mostrou preocupado com a possível volta do que chama de “populismo”. Nas hostes bolsonaristas, acende-se um sinal de alerta. Afinal, o ocupante do Planalto se disponibilizou a ajudar seu colega de além fronteira a impedir que a Argentina se torne uma “nova Venezuela”.
O resultado das prévias argentinas foi um passo importante para conquistar uma vitória nas eleições presidenciais de 27 de outubro, mas a luta para chegar lá apenas está começando. Seria imprudente desconsiderar a intensidade da ofensiva do imperialismo estadunidense e das forças locais a este aliadas, que decerto tudo farão para tentar impedir uma virada na região.
Jornalista
Fonte: https://www.brasil247.com