“Sinto dizer essas coisas, mas o Brasil é muito parecido com Bolsonaro” (Mino Carta, na Carta Capital desta semana”.
Mino tem toda razão.
Bolsonaro não é causa, um aborto da natureza, mas consequência de um país que se degradou antes dele tomar posse.
Depois de todas as atrocidades praticadas contra os trabalhadores, desde o governo Temer, a completa falta de reação das vítimas dessa tragédia é assustadora.
Nada mais causa indignação, nada mais nos revolta. Nada mais escandaliza a população.
Basta ler as colunas com comentários de leitores que ainda defendem esse governo e as ameaças cotidianas das milícias digitais, para ver que o maior problema do país não está confinado no Palácio do Planalto.
A estupidez oficial se alastra por todas as classes sociais e faixas etárias, avança na cultura e no jornalismo, invade as universidades e os grêmios estudantis, chega ao futebol e a todas as igrejas.
Apesar de estar se desfazendo em lutas internas, com a economia em depressão e sem sinalizar qualquer iniciativa para tirar o país do buraco, o governo conta ainda com apoio de um terço da população, como mostram as pesquisas, em seguidos e repetidos levantamentos.
Se somarmos esta parcela a outro terço de isentões, que não querem se meter nesta briga para não parecer intolerantes e ficam discutindo medidas de prevenção de incêndios na casa pegando fogo, teremos uma ampla maioria de brasileiros a favor ou indiferentes diante da destruição do país.
Viramos um país de bolsonaros?
O desmanche dos sistemas de educação e saúde, pilares de qualquer nação civilizada, agora comandada por bandos de ineptos e mentecaptos, coloca em risco o futuro de uma geração, mas muitos pais apoiam esta demência de Escola sem Partido, uma das bandeiras do bolsonarismo.
A invasão de dois deputados marombados do PSL no Colégio Pedro II, no Rio, e atitude dos país de alunos que levaram a direção do tradicional Loyola, de Belo Horizonte, a cancelar uma prova porque tinha um texto de Gregório Duvivier, já nem assustam mais ninguém. Fazem parte da paisagem.
“Todos os ambientes, hoje, estão cheios de supostos conciliadores: pessoas que fingem buscar a ponderação, mas só estão com medo de perder a cabeça”, escreve Duvivier em sua coluna da Folha nesta quarta-feira.
Some-se a isso os que têm medo de perder o emprego ou anunciantes oficiais e privados, clientes ou alunos, e teremos um retrato da sabujice reinante que se reflete em todas as instituições.
Duviver cita Winston Churchill _ “há quem alimente os crocodilos na esperança de ser comido por último” _ e encerra brilhantemente seu texto com o resumo da ópera:
“Esquecem que não se negocia com um jacaré faminto. Quando o outro lado é o fascismo ecocida, quando o outro lado aplaude a tortura e nega a mudança climática, quando o outro lado é abertamente miliciano, genocida e autocrático, a simetria com o outro lado não se chama conciliação. Chama covardia mesmo”.
Viramos um país de covardes, caminhando bovinamente para o matadouro sem mugir nem tugir?
Vida que segue.