Pense num absurdo. No Brasil, tem precedente.
De todas as barbaridades que Jair Bolsonaro já disse e cometeu na Presidência da República, esta certamente é a maior de todas, um verdadeiro acinte à nacionalidade.
O pior de tudo é que a indicação do filho Eduardo, um sujeito absolutamente desqualificado para a função, como embaixador do país nos Estados Unidos, vai sendo assimilado como algo normal.
Não se vê nenhuma reação da sociedade a esta esculhambação, que não era fake news, como a princípio parecia.
“Se você fosse presidente, não indicaria também um filho teu como embaixador”, perguntou-me ontem um motorista de táxi bolsonarista de raiz, e deu uma gargalhada.
Essa é a nova cara do Brasil que estava escondida nos armários dos hospícios e saiu triunfante para as ruas.
Onde estão os pomposos embaixadores de carreira para impedir que se consume esta completa desmoralização ao Itamaraty?
A única voz de respeito que ouvi se rebelar contra esse desvario foi a do ex-ministro Rubens Ricupero, embaixador do Brasil nos Estados Unidos entre 1991 e 1993:
“Eduardo Bolsonaro dirige na América do Sul o movimento de extrema-direita de Steve Bannon. Como poderia ele representar todos os brasileiros, se já é o representante de uma seita?”
Bolsonaro pensou em tudo. Esperou o filho se casar e completar a idade mínima de 35 anos para preencher o cargo vago em Washington. Era o que bastava.
Se o Senado e o Supremo não impedirem esta insanidade, o Brasil vai assumir de vez o papel de pária e de república bananeira nas relações internacionais.
Será motivo de permanente de galhofa na imprensa mundial, um país que não pode ser levado a sério.
A primeira entrevista de Eduardo Bolsonaro, o filho 03, a uma emissora americana, já foi um completo vexame, em que ele parou de falar no meio de uma frase porque “deu branco”.
Ao anunciar que aceitava a missão do pai e justificar a sua indicação para embaixador, o escrivão de polícia que se elegeu deputado federal graças ao sobrenome, lembrou que falava bem inglês, fez intercambio nos Estados Unidos, trabalhou numa lanchonete “fritando” hambúrguer e é amigo da família Trump.
Falava sério, diante de jornalistas que o levavam a sério.
O pai lembrou depois que Eduardo também foi entregador de pizzas e o acompanhou nas viagens internacionais, requisitos básios para um embaixador em Washington. .
Como tudo nessa família parece fake news, na sabatina do Senado poderiam levar uma frigideira para ver se o novo embaixador sabe mesmo “fritar” hambúrguer.
A imprensa amiga espalhou que Bolsonaro tomou a decisão de mandar o filho para os Estados Unidos porque ele vinha sofrendo ameaças no Brasil.
Se todo mundo que se sente ameaçado no Brasil de Bolsonaro virasse embaixador, o mundo seria pequeno para abrigar a todos.
Se o objetivo era botar mais um bode na sala pra distrair a platéia, colocaram logo um elefante, mas todo mundo finge que não está vendo.
Se o capitão queria apenas testar o seu poder, não precisava ter exagerado tanto para humilhar a diplomacia brasileira.
Será que perdemos de vez a capacidade de nos indignar com essas afrontas do capitão fora de controle, que age como um imperador eleito por Deus?
Confesso que já não sei mais nem o que dizer porque não pode ser verdade o que está acontecendo no país.
Nem nos piores pesadelos poderíamos imaginar que, em apenas seis meses de governo, o presidente Bolsonaro fosse capaz de destruir por dentro as nossas instituições e tripudiar sobre o que resta de autoestima e vergonha na cara dos brasileiros.
E assim vamos seguindo bovinamente para o matadouro das esperanças.
Vida que segue.
Repórter desde 1964