Marina Silva resistiu ao bombardeio da Petrobras, mas deve levar uma rasteira do Congresso. Parlamentares de diferentes partidos se uniram para desmantelar o Ministério do Meio Ambiente.
A pasta deve perder boa parte de suas atribuições. As mudanças foram articuladas pelo deputado Isnaldo Bulhões, relator da medida provisória que reorganizou a Esplanada no início do governo Lula.
Pelo texto, a Agência Nacional de Águas será transferida para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. A pasta, comandada pelo União Brasil, também deve assumir o controle da política nacional sobre recursos hídricos.
O Cadastro Ambiental Rural será incorporado ao Ministério da Gestão. E a gestão dos resíduos sólidos ficará com o Ministério das Cidades, feudo do MDB de Bulhões.
“Estão depenando o Ministério do Meio Ambiente”, disse Marina à coluna, após a reunião em que conseguiu manter o veto do Ibama à exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. “O povo brasileiro elegeu o presidente Lula, mas parece que o Congresso quer reeditar o governo Bolsonaro”, desabafou.
Na visão da ministra, as mudanças desossam o Sistema Nacional de Meio Ambiente, criado em 1981. “Nem a ditadura militar fez isso”, protestou Marina. “Tirar as competências do Ministério do Meio Ambiente vai minar a credibilidade do país no exterior. Isso será um tiro no pé do agronegócio brasileiro”, vaticinou.
De volta ao governo depois de 15 anos, a ministra enfrenta um Congresso ainda mais dominado pelos ruralistas. E amarga a experiência inédita de não ter uma tropa para defendê-la na Câmara e no Senado.
Na semana passada, o senador Randolfe Rodrigues abandonou a Rede Sustentabilidade. Entre o discurso ambiental e a promessa de royalties do petróleo para o Amapá, ficou com a segunda opção. Entre 594 parlamentares, agora a sigla só tem um: o deputado Túlio Gadelha, líder de si mesmo na Câmara.
Se depender do PT, Marina terá que lutar sozinha. Nesta terça, o ministro Alexandre Padilha elogiou o relator Bulhões e classificou como “positivo” o texto que esquarteja o Ministério do Meio Ambiente.
Bernardo Mello Franco, jornalista