O isolamento do capitão vai se adensando. O impeachment voltou a ser reverberado, reacendeu manifestações e afinou as panelas. Os desastres em todas as áreas vão empilhando derrotas ao governo. As apostas de Bolsonaro, internas e externas, malograram. Seus comparsas da direita perderam as eleições pelo mundo, no pleito municipal em 2020 o capitão foi o grande derrotado, a economia está destruída e Bolsonaro acaba de intubar seu maior fiasco na guerra das vacinas.
Perdeu no tom, no marketing, na estratégia ideologizada, no timing e na condução da crise, onde se esmerou em sabotar a ciência e debochar das milhares de mortes. Com gabinete do ódio, impulsionamentos em redes sociais, mentiras e bravatas de ruptura, o ajuntamento governamental não consegue mais camuflar a inépcia generalizada, responsável pela necrópole assustadora e a proscrição mundial de uma Nação.
Na política externa Bolsonaro fracassou e as consequências são funestas. O capitão apostou errado nas eleições da Argentina, Bolívia, na Venezuela e no plebiscito chileno. Soçobrou com Donald Trump, repelido pelas urnas. Depois de ceder em tudo na relação vergonhosa e servil aos EUA, transformando o Brasil em um pária global, o capitão perdeu um falso aliado e a referência mundial da direita hidrofóbica e extremista. A diplomacia brasileira foi esfolada. Bolsonaro ameaçou usar “pólvora” contra Joe Biden, recém-empossado que dará o troco, como a China fez. A selvageria golpista de apoiadores na saída de Trump, barbarizando o Capitólio, ainda contou com o endosso do capitão que, macaqueando o método, resgatou a tática de nutrir sua base com fanfarronices golpistas no cercadinho da estrebaria do Alvorada.
O resultado do desastre internacional é mais trágico e mais eloquente na pandemia. Em nome da vassalagem aos EUA, Bolsonaro, os filhos, ministros e ex-ministros dispararam agressões gratuitas contra a China que usou o “V” da vingança e obrigou Bolsonaro a ajoelhar para regularizar o repasse de insumos para produção das vacinas. As ironias, gracejos preconceituosos, racismo, xenofobia, acusações infundadas já refletem num custo muito alto, pago com vidas de inocentes. O governo afastou o Brasil do estratégico BRICs e a Índia, inicialmente, priorizou a exportação do imunizante de Oxford para países asiáticos. Saímos do fim da fila indiana depois do castigo inicial. Para buscar 2 milhões de doses na Índia foi montada uma farsa adesivando um avião. Mentem como método, mentem como os nazistas.
O saldo da indefensável ideologização da diplomacia é que o Brasil está brigado com as 2 maiores potências mundiais: China e EUA. O fornecimento de insumos para as vacinas está ameaçado e o auxílio de oxigênio veio do país que Bolsonaro considera inimigo, a Venezuela, inúmeras vezes hostilizado pela seita. As mortes por asfixia no Amazonas e no Pará evocam as câmaras de gás dos campos de concentração nazistas e jamais serão esquecidas. A vacina russa, registrada em 8 países, foi negada, mas a cloroquina inútil foi recomendada por protocolos do Ministério da Saúde. O Brasil não fez nenhum pré-acordo com a vacina da Johnson & Johnson, prestes a ser aprovada nos EUA. Não temos vacina. Temos tubaína, cloroquina e uma latrina verborrágica.
O histórico do obscurantismo, do escarnecimento e desdém com as vidas é vasto em zombarias. Desde o primeiro dia o capitão minimizou inúmeras vezes a gravidade da doença, provocou e estimulou aglomerações, organizou churrascos, ofendeu os brasileiros chamando-os de “maricas”, conspirou contra a ciência e, ilegalmente, ainda hoje prescreve medicamentos sem eficácia contra a Covid-19. Na batalha das vacinas, derivada da ignorância e despreparo, perdeu todas. Um Aníbal Barca às avessas.
O Ministério da Saúde desprezou o imunizante da Pfeizer, o primeiro a ser aplicado no mundo com taxas elevadas de sucesso e segurança. Quanto ao mesmo imunizante disse: “Se você virar um jacaré, problema seu”. A aposta única, mal conduzida, foi na vacina de Oxford que atrasará ainda mais. Em pelo menos 10 oportunidades Bolsonaro detonou a Coronavac produzida pelo conceituado instituto Butantan, numa irresponsabilidade genocida. Eis o breviário da incúria e da mais abominável abjeção.
“Nós entramos naquele consórcio lá de Oxford. Pelo que tudo indica, vai dar certo e 100 milhões de unidades chegarão para nós. Não é daquele outro país não, tá ok pessoal?”(julho/2020); “E o que é mais importante nessa vacina, diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país, vem a tecnologia pra nós”(agosto/2020);“Vacina chinesa de João Dória”(setembro/2020);“Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”(outubro/2020 desfazendo a compra de 46 milhões de doses);“A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para população.
A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido lá” (1 dia depois do cancelamento da compra); “Ninguém vai tomar sua vacina na marra não, tá ok? Procura outro. E eu, que sou governo, o dinheiro não é meu, é do povo, não vai comprar a vacina também não, tá ok? Procura outro para pagar a tua vacina aí” (A João Dória em outubro/2020); “Morte invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistas tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha” (novembro/2020, sobre a morte de um voluntário sem relação com os testes); “A eficácia daquela vacina em São Paulo parece que está lá embaixo” (dezembro/2020); “Essa de 50% é uma boa?” (janeiro/2021); “Desmoralizado pela baixa taxa de sucesso” (janeiro/2021); “A vacina é do Brasil, não é de nenhum governador” (janeiro/2021).
A incompetência e idiotia desinibiram-se na pandemia. Se transformaram em colapso, caos, expondo ao ridículo mundial o atrapalhado general de 3 estrelas que desmoraliza o Exército. A caserna virou uma caverna. Ressuscitaram o obscurantismo, revelando ogros, trogloditas, brucutus e outras bestas primitivas. O despreparo, insegurança, truculência e a mentira sobressaíram nos chiliques fardados. “A senhora nunca me viu receitar ou dizer, colocar para as pessoas tomarem este ou aquele remédio”, afirmou Eduardo Pazuello sobre o uso da cloroquina e outras inutilidades. São inúmeras as manifestações de Bolsonaro, Pazuello e Ministério da Saúde enaltecendo o medicamento.
A publicação do MS incentivando o “tratamento precoce” recebeu um alerta no twitter por disseminar informações falsas ou enganosas. As fotos irracionais do capitão com caixas de cloroquina, inclusive para as emas, são eternas, insanas e inexplicáveis.
Na economia a inflação ressurge ameaçadora, o desemprego atinge índices recordes e estratosféricos, o capital privado escafedeu-se, o real derreteu como moeda, a dívida pública explodiu e as empresas vão fechando as portas diante da abulia governamental que insiste no ilusionismo do crescimento em “V” enganoso. O fim do auxílio emergencial, que maquiou um PIB medíocre, já começou a afetar negativamente a popularidade de Bolsonaro na virada do ano. O fechamento das atividades da multinacional Ford, há mais de 100 anos no Brasil, engrossará a massa de desempregados e o desdém governamental contribuiu para o desfecho trágico para os trabalhadores e suas famílias. Antes já tinham encerrado as atividades por aqui a Mercedes, Sony, Audi, entre outras.
O próprio Bolsonaro, viciado em leviandades, chegou a anunciar em suas vadiagens pelas redes sociais que a Argentina perderia 3 grandes multinacionais após a eleição de Alberto Fernandez. Honda, L’Oreal e MWM iriam fechar suas atividades no país vizinho e migrar para Brasil: “A nova confiança do investidor vai gerar mais empregos e maior giro econômico em nosso país”, mentiu em 2019 com o despudor inconfundível. Pouco mais de um ano da mentira, a “confiança” da Ford fechou mais de 6,5 mil empregos diretos no Brasil e manteve-se na “inconfiável” Argentina, que aprovou recentemente imposto sobre grandes fortunas, apresentado como fantasma que afugentaria investidores. Mas exportamos abacate para Argentina, celebrou Bolsonaro.
Internamente, no primeiro teste eleitoral após 2018, o fiasco nas eleições municipais foi ensurdecedor, com reveses individuais e políticos. Todos os candidatos que tentaram explorar a logomarca Bolsonaro fracassaram, inclusive a fantasma Wal do Açaí e Rogéria, ex-mulher e mãe da prole problema (01,02 e 03). O 02 se reelegeu vereador, mas perdeu 34% dos votos desde a última eleição. Jagunços que basearam a campanha no ideário bolsonarista (capitão, major, coronel, delegado, juiz etc.) malograram.
O capitão pediu votos para 5 candidatos em capitais: São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Manaus e Rio de Janeiro. Os eleitores nessas capitais somam 18 milhões de votos. Os nomes de Bolsonaro só alcançaram 1,5 milhão de votos, menos do que 10% do total no 1 turno. Apenas 1 avançou para o 2 turno e foi derrotado.
A direita escolheu um quadro tosco para tentar se reabilitar no Brasil. O resultado é a ameaça recorrente à democracia, retrocessos civilizatórios, morticínio, mitificação da ignorância, banalização da barbárie, apologia a facínoras e carniceiros, reiteração da mentira, charlatanismo, impunidade para amigos e parentes, promoção das milícias e canonização do banditismo. Depois dos fracassos anteriores, o próximo round é a eleição no Congresso Nacional. Sem resistências, sem a defesa da ordem jurídica ele seguirá, mesmo agônico, por mais 2 anos em conspirações. Exatamente como fez o ícone Donald Trump. Se derrotado, o impeachment se avoluma.
Além das pregações golpistas, bravatas contra os Poderes constituídos e crimes de responsabilidade, outras premissas para o impeachment estão postas: economia em frangalhos, isolamento mundial, incapacidade de governar, inexistência de agenda e perda gradual de popularidade. A conjunção desses fatores não evitou a queda de Fernando Collor de Mello e Dilma Roussef. Ambos tinham os corsários do centrão ao lado. O Brasil se tornou uma ilha anacrônica de imoralidades, malfeitos, embustes, extremismos, infâmia, incúria, irracionalidade, golpismo e desalento. A Democracia, em longe do que diz Bolsonaro, não é uma liberalidade das Forças Armadas; é um princípio constitucional. Ao contrário de 1964, agora a Nação está, de fato, acéfala.
Weiller Diniz, jornalista
Fonte: https://osdivergentes.com