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Um país de m...

Entenda o “m...” do título como a primeira letra de maricas. “País de maricas”, disse o valente ex-capitão que queria explodir aqueduto no Rio de Janeiro e saiu pela porta dos fundos do glorioso Exército nacional como reles terrorista e sem levar a cabo, nem a sargento, o seu intento.

Tão valente que foi capaz um dia de dizer “I love you” para o derrotado presidente dos Estados Unidos e entrar em depressão, agora, por causa da surra de 7 milhões de votos de diferença na eleição americana. Ou de só não estuprar porque achou a moça feia. Na verdade, comanda governo de milicianos, que também começa com “m”.

Quantas vezes você não ouviu dizerem que um dia o PCC chegaria ao poder? Pois a milícia chegou antes.

O colega Adriano da Nóbrega, morto na Bahia; Fabrício Queiroz, o faz-tudo, preso em Atibaia; os irmãos gêmeos Alan e Alex Rodrigues —“nota mil”, segundo o filho 01—, presos na operação Quarto Elemento, que investiga quadrilha formada por policiais especializados em extorsões; João Batista Firmo Ferreira, tio da primeira-dama, preso na Operação Horus, que investiga policiais envolvidos com milícias, crimes de loteamento irregular, extorsão e homicídios; Ronnie Lessa, vizinho no condomínio Vivendas da Barra, acusado da autoria do tiro em Marielle Franco —e por aí vai, todos ligados, alguns homenageados pelos filhos 01, 02 e 03; trio impoluto, um capaz do milagre da multiplicação dos bombons, outro de produzir fake news em série, e mais um especialista em rachadinhas. Governo de milicianos!

Jamais seria, embora não seja conservador, capaz de escrever palavrões, apesar de saber que alguns deixaram de ser, até aquele que começa com “f”, que virou sinônimo de fogo ou de fora de série: o Bozo é fogo, é fora de série! Meninas falam é “f...”; até as netas!

E o “c”? Virou título de livro, “De c... pra lua”, e de um cara que é um poço de gentileza e educação, como Nelsinho Motta, em sua autobiografia.

Não, não escreveria nada que pudesse cheirar mal, agredir as narinas das raras leitoras e dos raros leitores. “M” de maricas, de milicianos, isto sim. Já o “p” é de pudor, ou de falta de pudor. Porque se trata de outro fenômeno nacional, a falta de pudor.

Ou você ainda não notou na imprensa, no rádio e na televisão, quanta gente jogou fora a biografia na defesa do chefão do país de “maricas$milicianos”?

Travestidos de, segundo eles mesmos, “democratas radicais”, defendem o fã do torturador Brilhante Ustra, chamam de metáfora a pólvora contra os EUA, babam ao ver o genocida chamá-los pelo nome, também fazem coro com ele ao não reconhecerem a vitória de Joe Biden e tornam impossível a escolha para o prêmio Cláudio Marques, o jornalista que chamava o DOI-Codi de Tutoia-Hilton nos tempos da ditadura.

Porque perderam o pudor, ou o pundonor, como diria minha mãe, que ficaria mais horrorizada com estes do que com o linguajar das bisnetas.

Nomes? Ora, e precisa? Além do mais está dito que nada escreveria que pudesse ofender o olfato de quem chegou até aqui.

A boa notícia é que parece estar acabando, não apenas este texto, mas a barbárie, o pesadelo. Sim, será difícil aguentar mais dois anos, se é que durará até 2022.

E, apesar de ele ter comemorado suicídio para “ganhar” do ex-aliado janota, nada indica que chegará a tanto.

Falta colhão para ser Getúlio Vargas.


Juca Kfouri, Jornalista, colunista da Folha e autor de ‘Confesso que Perdi’; é formado em ciências sociais pela USP

Fonte: https://www.folha.uol.com.br