..::data e hora::.. 00:00:00

Artigos

Ultimato, uma aposta de risco

O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao exercício de múltipla escolha que ofertou para o pós 7 de Setembro: sair preso, morto ou vitorioso. Restrito a essas três opções, a primeira sugere preocupação confessional, à última falta realidade. A do meio, em algum prazo, está reservada a todos.

A data da Independência nacional materializa-se, portanto, em um plebiscito que não será decidido nas manifestações anunciadas pelo presidente, restritas ao eleitorado fidelizado que exibe, cujo impacto das imagens de aglomeração humana nas ruas pode apenas mascarar o declínio nas pesquisas, nas quais não avança além dos 25%.

Na teoria, tal índice o leva ao segundo turno, argumentam os seus torcedores. Na vida real, se para candidatos na oposição, 15% é potencial a celebrar como ponto de partida, para quem busca a reeleição, 25% é sinal vermelho, sobretudo quando em viés de queda, como é o caso, ditado pela tragédia econômica.

Economia e queda nos índices de aprovação costumam andar juntos, e o contexto atual não é exceção. As oscilações do presidente nas pesquisas têm sido para baixo, chegando a 23% e, às vezes, 22%, de maneira uniforme, independentemente do tamanho, importância econômica e população dos municípios, incluindo capitais.

O pouco tempo para reverter as más condições econômicas autoriza a previsão de queda ainda maior e consequente estreitamento de suas chances eleitorais.

O governo, de agora em diante, enfrentará uma luta desigual contra uma economia que tende a registrar menor crescimento e insatisfação com índices que já alcançam, em graus diferentes, porém dramáticos, pobres e classe média.

Para agravar, a ruptura institucional que o presidente elegeu como salvação começa a se tornar uma porta de saída – não só para ele, como para a sociedade organizada.

Na vida real, a ruptura se estendeu, não por sua iniciativa, ao universo econômico e financeiro, como demonstra a inédita iniciativa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) de assinar um manifesto formal por mudanças que mantenham viva a perspectiva de retomada da economia.

Ao anunciar a retirada de Banco do Brasil e Caixa Econômica da Febraban, em reação a manifesto que prega a harmonia dos Poderes, o governo veste a carapuça e se identifica como o agente ativo da crise institucional. Possivelmente mordido por declaração anterior da mesma federação em defesa da urna eletrônica e contra o voto impresso.

Embora desastrada na sua formulação e divulgação, a iniciativa da Febraban representa um divórcio com a cautela, que sempre orientou o sistema financeiro, caracterizado pela ação de bastidor, que lhe poupa da exposição política. Tal fato, singular, é régua segura para medir a extensão do impasse econômico e ausência de governança.

Inseridas no contexto de vigilância institucional a Bolsonaro, no qual a exceção é a Câmara, as manifestações dos setores empresarial e financeiro configuram um cerco mais sólido em que já estão o Judiciário e o Senado.

É um quadro que pode indicar redução do poder de incutir o medo coletivo de uma convulsão, capaz de justificar medidas emergenciais, no qual se sustenta com hostilidade ao Judiciário e ameaça de ruptura constitucional.

A política vive de gerar expectativas e o governo se mantém preso à da reeleição, cujas condições objetivas se desfazem num cenário econômico adverso e céu político nublado.

A única expectativa de Bolsonaro é com ele mesmo – mais obsessão que probabilidade, incapaz de agregar o que precisa para virar realidade.


João Bosco Rabello, jornalista

Fonte: https://www.metropoles.com