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Sem anticorpos, o capitalismo revela sua caducidade

A pandemia do coronavírus, para além do abalo causado à população mundial, tem revelado algumas facetas outrora especuladas por analistas, mas desdenhada pela burguesia como constituindo paranóia da esquerda e de cientistas ansiosos por fama.

Após contaminar suas primeiras vítimas na China, o COVID-19 se alastrou pela Europa e demais continentes.

Diante da impotência momentânea dos laboratórios de desenvolver uma vacina para conter a escalada do vírus, o confinamento foi visto como a forma mais adequada para preveni-lo.

Um jeito humano de proceder com conseqüências terríveis para a economia capitalista.

Desde os escritos do seu principal crítico, Karl Marx, no século XIX, o sistema capitalista foi despido e revelado para o mundo como sendo um sistema destituído de qualquer preocupação com a humanidade.

O lucro sempre foi seu único propósito. Para obtê-lo, o capitalismo costuma deixar um lastro de destruição da natureza e exclusão social, que só tem crescido ao longo da história, com conseqüências comprometedoras para o presente e o futuro da raça humana.

Na sua atual fase, orientado pelo ideário neoliberal, o Estado foi satanizado como um ente a ser apequenado em prol do agigantamento do mercado. Este, segundo o mantra ideológico do neoliberalismo, é o espaço apropriado para os humanos prosperarem e serem felizes.

O Estado passou a ser visto como um obstáculo a ser combatido e peça auxiliar do mercado livre e desregulado.

A crise de 2008 já tinha exposto a contradição que acompanha o Capitalismo desde sua mais tenra idade, qual seja: a produção é social e a apropriação é individual.

No século XXI podemos dizer: o lucro é privado e o prejuízo é coletivo.

Na crise referida, os governos dos mais diversos países, o Brasil incluso, despenderam cerca de 30 trilhões de dólares para salvar o sistema.

Com a necessidade de isolar as pessoas para conter o alastramento da doença, a produção tende a diminuir e o consumo (exceção de produtos alimentícios de primeira necessidade) tende a ser infinitamente menor.

A consequência é a crise do Sistema. Bolsas caindo, oscilação do câmbio, balança comercial despencando, empresas quebrando.

No caso brasileiro temos um componente que piora o quadro já bastante ruim: o presidente Jair Bolsonaro. Suas atitudes, até aqui, têm sido na contramão de qualquer coisa que se possa chamar de sensata.

Bolsonaro chama de histeria a sincera preocupação da população e governos em combater o vírus e seu ministro da Economia, diante da agonia coletiva sobretudo dos mais pobres, continua falando de reformas para alavancar a economia.

Nesse curto espaço de tempo de confinamento coletivo em que a economia capitalista está literalmente parada assistimos reportagens inusitadas, do tipo: os poluídos canais de Veneza estão com água limpa e, pasmem, repletos de peixes; a poluição nas grandes metrópoles baixou a níveis mais que satisfatórios que o padrão exigido pela ONU; ou seja, a degradação ambiental diminuiu drasticamente.

A pandemia do coronavirus induziu um comportamento social que afetou a dinâmica da economia e indiretamente desnudou o quanto o capitalismo é um sistema que, por sua natureza, é promotor da destruição do planeta e um predador da vida. Trata-se de um sistema historicamente velho. Talvez seja por isso que tenha sido afetado pela pandemia do coronavirus.

Essa dura realidade de agora ajuda a confirmar a certeza de que um outro mundo é possível, com solidariedade às pessoas e ao planeta. Só assim a hierarquia do que mais importa vai ocupar o lugar mais alto, a vida em primeiro lugar.

Carioca Nepomuceno é mestre em História e Professor do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre.